segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Pedir muito e gerir mal

Segundo dados hoje revelados de 2006 para 2007 os impostos municipais aumentaram 26%, ou seja entre IMT, IMI e afins cada português contribuiu, em média, para as autarquias 235.12€.
Os Impostos Municipais têm sempre aquele dom de irem aumentando sem se dar verdadeiramente por isso, para não falar, de casos como os que aparecem mês após mês nas contas da água, recheadas de múltiplas taxas que aumentam e variam ao gosto das autarquias e empresas municipais.
O chocante em muitas autarquias é o desperdício, desde logo Lisboa que tem um interessante património de casas e casinhas para os mais variados amigos e conhecidos distribuídas sem critério nem razão alguma, revoltante para uma câmara que cobra impostos altíssimos e que tem a cidade no estado miserável que se vê . Todos sabemos que tal não acontecerá, mas seria bom que verdadeiramente se apurassem responsabilidades sobre quem e em que moldes atribuiu estas casas, gastando descaradamente o dinheiro de uma autarquia que está na bancarrota.
As autarquias têm um papel social importante, mas continuam por baixo da mesa a fazer as suas negociatas muito obscuras, como esta que agora foi revelada em Lisboa, e alimentam sem fim as suas obras de fachada tornando-se sorvedouros de dinheiro que mal se conseguem estancar.

Entre o desespero e o desnorte


A Câmara dos Representantes vetou o plano de Bush para salvar os mercados financeiros. A crise chegou no momento em que táctica política e descontrolo de mercados vão se digladiando num braço de ferro que nos deixa sem saber o que é que terça feira de amanhã nos pode fazer esperar para os mercados internacionais.
A proposta de Bush custaria, e muito, aos contribuintes, mas a verdade é que para aguentar o mercado seria difícil encontrar uma proposta muito diferente daquela que foi apresentada. Mas salvar mercados apresenta uma factura de 700 mil milhões de dólares, um valor que os Americanos sabem que lhes sairá no bolso e que muitos não estão dispostos a ceder em nome de empresas e instituições irresponsáveis que se afundaram e navegam agora nos seus próprios erros. As sondagens têm mostrado uma opinião pública americanada muito pouco aberta a abrir os cordões à bolsa para socorrer wall street, e em ano de eleições cada membro do Capitólio joga a sua própria agenda política e tenta assegurar a eleição em Novembro.
Mas estes calendários são muito pouco coniventes para um mercado que borbulha por uma resolução, a não aprovação hoje deste pacote faz-nos pensar quanto custará uma não resposta aos mercados, e que custo tal acarretará a longo prazo. Os americanos estão pouco dispostos a sustentar a desregulação bolsista, e em termos teóricos com razão, mas torna ainda mais imprevisível tudo o que acontecerá se o Estado acabar por não intervir no mercado.
Depois temos a Europa, que começa a ser confrontada com instituições financeiras que mostram as suas brechas, com o início de privatizações parciais como no Fortis, contudo a Europa ainda não se consciencializou que o momento que está a chegar pode ser verdadeiramente difícil, em especial para mercados como o espanhol que se alimentaram da construção e da concessão de crédito nos últimos anos.
Entre o desespero e o desnorte do dia de hoje ainda esperamos pela solução que ninguém sabe bem qual será.

sábado, 27 de setembro de 2008

A Cega fé na máquina


Sócrates e a sua Ministra segundo o próprio ”modelo” andaram atarefadíssimos nesta última semana a distribuir computadores, internet de banda larga e toda a parafernália tecnológica acabando hoje em grande forma hi-tech com uma cerimónia cheia de hologramas por todo o lado. Nada tenho contra todas estas melhorias tecnológicas, muito pelo contrário, abrem imensas potencialidades às escolas, apesar de achar o Magalhães uma patetice, um computador brinquedo cujo o investimento faz pensar se não seria deveras melhor investir numa primária mais que desfalcada e que gera os fracos alicerces do sistema.
Mas o mais delicioso em Sócrates e no seu discurso é a ingenuidade. Criaram a ideia que colocar computadores à frente das crianças e alunos os vai fazer miraculosamente aprender, ter melhor rendimento, obter melhores resultados. Assim um género de um de arte mágica, restando perguntar que enquadramento pedagógico o ministério espera dos computadores, mas no fundo nada disso interessa, porque e deixando cair a mascara há uns dias, e deixando-me a mim sem palavras li uma extraordinária declaração de Maria de Lurdes Rodrigues afirmando que quer alcançar nos próximos anos 100% de aprovação, que é como quem diz 0% de chumbos, no 9º ano, e infelizmente já sabemos como tal vai ser obtido.
É a escola maquilhagem, uns computadores, o sucesso que sai da cartola inesperadamente, e a convicção provinciana que a máquina, por instinto, ensinará tudo e a todos.
Esta visão está ao nível da visão desta fabulosa gravura francesa do final do séc XIX que sonhava que no ano 2000 alguma máquina à manivela emperrasse livros aos alunos. A manivela foi substituída pelo Computador (desde logo o nosso muito português Magalhães), o sonhador que há mais de 100 anos sonhou com um novo milénio assim é agora substituído por Sócrates, que se convenceu que computadores e quadros interactivos vão ser o remédio e o paliativo para todas as doenças do sistema de ensino.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Paradigma de Nacionalizar


As últimas três semanas vieram desenhar mudanças, todos os que têm acompanhado esta crise, desde aqueles que olham aqui o descalabro o capitalismo, até aqueles que olham para esta crise como o momento de reinvenção deste mesmo capitalismo admitem que o sistema financeiro mundial deverá dar uma grande volta depois do histerismo que levou ao descalabro de falências e estados nervosos em que as bolsas andam há dias.
Nacionalizar ou injectar capital nos mercados tornaram-se expressões habituais, estranhamente habituais para quem há 16 anos ouviu Clinton colocar na sua sede de campanha o cartaz em que figurava: “é a economia, estúpido”, no tom que face ao mercado que se impõe apenas o podemos aceitar com passividade. Grande cambalhota que demos, e agora apressados estamos a salvar empresas financeiras. Mas porquê que as salvamos? Porque simplesmente o custo de não salvar empresas como a AIG é ainda maior do que nada fazer, do que não lhes tocar, desde perdas de fundos, de postos e trabalho, de efeito geral no resto da economia. É aqui que está todo o paradigma, o mesmo mercado que supostamente se auto-regulava e que bramia contra as nacionalizações do lucro, roga agora pela nacionalização do prejuízo e do descalabro financeiro.
Já ouvi e li tantas vezes essa versão de que esta é a oportunidade para um novo capitalismo (foi esta aliás a proposta de Sarkozy nas Nações Unidas), mas que rejuvenescimento pode agora o capitalismo sem o Estado? Nenhum, verdadeiramente nenhum, mas que farão a este mesmo Estado depois de a tempestade passar (mesmo que a tempestade demore a passar)? É aqui que estará a pergunta e para a qual não vale a pena fingir que temos numa qualquer bola de cristal se o modelo mudará ou apenas criará maquilhagem atirando de novo para o canto da regulação (ou da falta dela) o Estado que agora aguenta e espera-se que aguente todo o sistema. Podemos dizer, e de facto esta, é uma das mais graves crises financeiras de sempre, mas não sabemos que modelo se seguirá a este que aqui chegou.

Foi por isto que Sarah chegou a candidata


A crise rebentou em força na cara de uma América embalada pelas eleições de Novembro e apanhando em falso McCain, que ainda há duas ou três semanas afirmava que os fundamentos da economia Americana estavam fortes. Hoje a JP Morgan comprou mais um banco que tinha activos cujos activos rondavam em tempos os 300 biliões de dólares, isto no meio de um projecto de recuperação económica de Bush que não avança por bloqueios do próprio partido Republicano, McCain tentou fugir da campanha e rumar a Washington, mas hoje vai mesmo debater com Obama, no dia em que foi descoberto este vídeo revelador dos exorcismos a que Pallin andou há uns anos atrás, um belo retrato da governadora que McCain foi buscar.

Ai estas amizades!

Chávez anda em mais um daqueles périplos contra, e cito o próprio, “yankees de mierda” no estilo de viagens muito pouco discretas que o nosso revolucionário da camisa vermelha gosta de andar a fazer.
Ora imbuído deste espírito, Chávez deu um salto à Rússia, que não usando o estilo latino-americano vai criando e aumentando aos poucos o seu braço de ferro com os velho Ocidente. Mas Chávez é muito mais que uma figura risível e este encontro dá-nos a estranha noção de uma teia que aos poucos se vai construindo em que da América do Sul à nova Rússia de Puttin o discurso anti-americano ganha força e vai colhendo adeptos. Muito provavelmente não ao mesmo estilo da guerra fria sempre com os movimentos dos dois lados medidos ao limite. Hoje a disputa faz-se entre o petróleo que navega por debaixo dos pés russos ou venezuelanos. Recebemos o novo discurso da Rússia ou da agora parceira Venezuela, mas não entendemos qual o caminho para o qual caminham estas novas forças que se opõem a uma América embrulhada na sua própria crise financeira, que caminha para um novo ciclo que com o tamanho dos problemas internos por resolver, fica por saber o espaço que terá para se afirmar internacionalmente. Hoje a Rússia concedeu um empréstimo gigantesco para a cooperação militar com a Venezuela, em acordos que vão tecendo as relações de novas relações internacionais a nascer.

Chávez aterrou, de novo em Lisboa. Ao que parece o governo português tem uma predilecção especial por tomar chá com Chávez, as viagens entre Caracas e Lisboa estão em grande forma, até a RTPN faz rídulos directos de dez minutos para ver o santo Chávez a descer das escadas do avião.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O que valem de facto as jotas?

A salada russa de declarações que se tornou o debate em torno dos casamentos entre homossexuais tem deixado cair as máscaras aos mais tacticistas que abundam nos partidos. Desde logo temos aquele argumento que o país está pejado de problemas sociais e económicos e portanto estes são assuntos “menores”, uma argumentação na craveira do pensamento que o país está no pauperismo económico e deve ficar mergulhado e resumido às desgraças das suas penúrias e nada mais discutir.
Mas tanta discussão tem destapado os interessantes pensamentos das jotas do centrão. Apesar de idade apropriada para andar nestas lides sempre fui portador de um qualquer vírus que me deixou afastado das jotas, especialmente das jotas do poder. Se calhar injustamente sempre criei na minha mente aquela ideia de menino de jota que vai fazendo os seus contactos, vai criando raízes no partido e lá vai fazendo o seu percurso paulatino, tornando-se aos poucos esse político profissional alinhado nas fileiras. Mas mais que uma questão de forma as jotas do centrão, e concordando em pleno com Alegre, são de uma pobreza de debate assustadora, até o podem fazer, mas entre eles pois o reflexo para a “mocidade” (usando esse palavrão à estado novo) é nulo, e não é só a falta de discussão que inspira das juventudes partidárias do poder, é sobretudo o défice ideológico profundo que ali há, aliás na linha dos próprios partidos. Pergunto-me quantos dos militantes de jotas têm de facto uma clara noção do que é a social-democracia, do que é teoricamente e preto no branco esse jargão martelado por Sócrates da “esquerda moderna”? Ao contrário do que as jotas possam pensar, ideologia não é dar aquela pinta de inovadores e defender os casamentos gay, é ter de facto algo a dizer sobre o que é o Estado, o que querem do modelo económico o que esperam da organização social do país. Tal como ter ideias sobre educação não é gritar vezes sem conta que a Educação sexual é necessária na escola, obviamente é um tópico importante, mas raramente, para não usar o advérbio nunca, ouvi uma jota de um dos grandes partidos explicar o seu modelo de escola e educação pública.
Talvez uma mudança acabasse com as barracadas estilo JS que se embrulhou com o partido pai e agora perdeu-se em tanto calendário e tacticismo em torno dos casamentos homossexuais.

domingo, 21 de setembro de 2008

O nosso menino guerreiro nunca desaparecerá


Santana tem uma capacidade de ressuscitar ímpar, para não dizer esquizofrénica. Hoje ficámos a saber que entre ser recandidato a Lisboa, câmara por onde andou e cujo o balanço final foi o visível, soube-se ainda que está envolvido num caso como arguido. É assim Santana, perde, ganha, reergue-se, um mito, uma lenda que está para a política portuguesa como o 007 está para o cinema.

O Eleitoralismo é tramado

Todos nos lembramos do discurso de Sócrates na altura do referendo do Aborto, em que o PS era apresentado como o partido dos valores progressistas e usando a própria expressão do nosso primeiro-ministro “dos avanços civilizacionais”. Pois é mas a reserva civilizacional do PS parece estar apenas e só guardada para a primeira metade de mandatos de governo e não para últimos anos de eleições. É a civilização adaptada às datas que mais convém, é a hipocrisia na sua versão melhor. O conservadorismo do PSD tem também a sua versão nos timings políticos do PS.

A chamada das tropas

O primeiro comício de campanha eleitoral de Sócrates foi verdadeiramente hoje, rodeado por uma massa de militantes que ouviram gás soar as trombetas de reunião para um ano em que à direita e à esquerda há uma maioria absoluta que se quer manter e que apresenta o seu sacro “reformismo” como porta-estandarte
O discurso hoje de Sócrates não foi diferente daqueles que já fez ou do que repete vezes sem conta nas entrevistas televisivas.
Por isso entre todos os clichés Socratianos que nos vão encher os ouvidos, e talvez uma parte da paciência, no ano que vem não podemos deixar de reter desde logo o protagonismo a Maria de Lurdes Rodrigues, sentada em grande destaque na 1º fila, ao lado de Almeida Santos. Sócrates está a dar-nos uma autêntica lição de como se recicla uma ministra, um PS que passou adorar a sua Dama da educação e que a aplaude de pé e entusiasticamente, o que os números mágicos do sucesso fazem! Para além de taparem verdades têm agora o dom de trazer de novo à vida, e pelos vistos à ribalta ministros que tiveram o percurso, no mínimo, atribulado de Maria de Lurdes Rodrigues (basta lembrar os pareceres do tribunal Constitucional a alguns dos diplomas deste Ministério). Não deixa de ser lógico, Maria de Lurdes Rodrigues é a chapa perfeita do que é este governo, e não é difícil entender porquê: 1. resistiu às ruas, não interessa as razoes da rua, mas na nova retórica governativa a resistência à rua é inatamente um feito grandioso, 2. Apresentou uma pacote de reformas, também não interessa como está a funcionar a escola, o que interessa é a política do utilitarismo puro e duro, se os números forem melhores então a ministra é excelente e tudo foi conseguido. Portanto provavelmente, e ao contrário do que poderíamos pensar, Maria de Lurdes Rodrigues estava no sítio certo no momento certo.
Tirando o conteúdo estilo disco riscado Sócrates mostrou o seu lado “animal feroz” para criticar a sua esquerda puxando de adjectivos como “estalinista” para curar a comichão que os 20% de Bloco e PCP juntos lhe estão a fazer. Sócrates sabe que precisa desse eleitorado como ar para respirar se quiser manter a maioria absoluta. Mas Sócrates enganou-se na postura, não é mostrando as garras que consegue recuperar eleitorado que se afastou muito do PS e que não alinha tão facilmente nos adjectivos generosos que Sócrates hoje proferiu à sua esquerda.
No ano que vem teremos direito a tudo desde a veia comicieira de Sócrates, até à nova socialista da frente que é a Maria de Lurdes Rodrigues a Ferreira Leite que continuará no seu oceano de abstraccionismo esperando nós que alguma ideia floresça no jardim laranja.
Já que Sócrates já estava hoje com aquele tom de balanço, e já que esta foi a legislatura dos estudos comparativos (sendo o mais famoso o tal entre a Ota e Alcochete); há um estudo comparativo ainda mais interessante para fazer o do Sócrates antes e depois de ganhar eleições e chegar ao poder, é um estudo cheio de contradições deliciosas para descortinar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Os mercados enlouqueceram?

A Lehman Brothers faliu, a AIG caminha para o precipício e de novo um banco no Reino Unido prepara-se para ser salvo por outra instituição financeira e assim não se afundar por completo, a isto ainda podemos juntar as duas instituições de investimento imobiliário que a reserva federal americana foi agarrar a semana passada para não caírem na bancarrota. Teixeira dos Santos julgava que a crise financeira tinha passado (esperemos que não fosse nessa base que fez o orçamento de Estado para 2009), mas a verdade é que para os mais crentes que o furacão financeiro já tinha passado parece terem-se enganado e Greenspan avisou há dias, numa entrevista, que a turbulência nos mercados está para ficar.
Mas que significa exactamente o que estamos a viver? Talvez esta é a pergunta mais interessante a fazer, mas ao mesmo talvez aquela para a qual a resposta será mais impossível.
Assistimos desde aqueles que acreditam que estamos numa normal reorganização dos mercados, num ciclo económico que muda, mas a estes apetecerá desafiar como é que um mercado (supostamente responsável) cai na circunstancia de há um ano estar enrolado num caos tal que expõe casos como as hipotecas irrecuperáveis que se espalharam por toda a América.
Por outro lado temos a versão de que esta é a ponta do fim do capitalismo. O último ano mais que provou que o Estado é tudo menos dispensável e que todos se lembram da sua existência como no caso do Northen Rock, apanhado por uma nacionalização que o salvou, mas podemos pensar que tudo isto de facto mostra a enorme fragilidade dos mercados financeiros que criámos, mas não podemos manter a visão que o capitalismo é um exclusivo do ocidente. China, Índia ou Rússia parecem estar a viver tudo menos o afundar do capitalismo, pelo contrário.
No meio de tudo seria bem interessante saber quanto é que a reserva federal ou os bancos centrais já injectaram de emergência nos últimos meses nos mercados internacionais, mais que tudo o resto, esse valor talvez seja o reflexo do momento que vivemos.

Saramago na blogosfera


Apesar de estar muito longe de ser uma opinião consensual confesso que gosto, e muito, da escrita de Saramago, aliás o próprio escritor está fora de ser uma figura que gere opiniões unânimes à sua volta. Gostos à parte fica aqui a dica para o blog onde Saramago não promete escrever todos os dias, mas onde vai deixando as suas reflexões, e não podia começar da melhor forma, com um belíssimo texto sobre Lisboa.

O mundo para lá do nosso mundo


"E lá está ele, um ponto em torno de uma bola gigante. São as primeiras imagens de um suposto planeta fora do sistema solar, um exoplaneta, que orbita uma estrela muito parecida ao Sol. A descoberta foi feita por uma equipa de astrónomos canadianos e representa um desafio para os modelos teóricos das estrelas e da formação dos planetas.Foi uma surpresa para os cientistas da Universidade de Toronto (UT) que o descobriram, mas a confirmação de que este exoplaneta anda realmente em torno de uma estrela poderá levar mais uns anos. David Lafrenicre, responsável pela investigação, citado pelo "El Mundo", explicou que “esta foi a primeira vez que vimos directamente um objecto com a massa de um planeta a descrever uma órbita em torno de uma estrela como o Sol”, e acrescentou “se confirmarmos que este objecto gravita ‘atado’ a uma estrela, será um grande passo em frente.”"

Richard Wright (1943-2008)



Relembrar quem nos fez conhecer O Outro Lado da Lua

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os 7 anos que passaram


Torres Gémeas ao fundo, Nova Iorque 1992, foto de Luiz Carvalho


Passaram 7 anos desde o 11 de Setembro, e recordar esta data pode significar cair nos eternos balanços sobre aquilo que ocorreu depois do momento em que mais petrificados ficámos à frente de uma qualquer televisão. O Afeganistão que julgámos controlado parece essa Guerra esquecida que se vai arrastando e o Iraque ocorreu e sem compreendermos que política era e é a que Bush tinha para o Médio Oriente. Mas 7 anos depois ficamos agora com a sensação que estamos a entrar num momento novo do pós 11 de Setembro, Bush sairá, esperando eu e muitos que Obama entre em cena, mas mais do que uma troca de cadeiras em Washington, que terá sempre consequências, o mundo que Obama ou McCain terão pela frente na Sala Oval em 2009 não será o mesmo que Bush teve em 2001. Em sete anos nem a América nem ninguém conseguiu resolver o conflito israelo-palestiano, a semente de muito do que ali circunda continua lá, enraizada como sempre; a um equilíbrio Irão e Iraque que ia criando uma balança de forças na região temos hoje um Irão com o seu fanatismo hegemónico; a Al-Qada e Bin Laden parecem ter perdido aquele ar mítico de há 7 anos, mas não deixamos de pensar que habitamos um limbo incapazes de entender que malha terrorista está para nascer. Mas conseguirá a Amércia impor-se como no pós 11 de Setembro? Em oito anos chegaram Medvedev e Putin a uma Rússia que se afirma oficialmente por ambições “não-imperialistas”, mas tem ainda cravada no seu ADN o peso de um poder que quer ver repetido e que não nos mergulhando, por enquanto, numa Nova Guerra Fria obrigará cada um dos lados a medir muito melhor os passos que dão. O Irão não se tornou mais um pormenor no mundo, o Paquistão não se limpou de terroristas nem vive na maior das calmas. Economicamente a Sul Chavez e Morales impuseram-se e chamam “non gratos” a embaixadores Americanos, estando em busca de modelos sociais novos que apareceram mas faltam-se definir completamente, mas que sobrevivem sobre o manto de petróleo em que habitam.
“The World still needs Mr Big” era este o mote de um dos artigos da Newsweek no início deste ano defendendo que a América mesmo depois do Iraque tem um papel no mundo, e claro que esse papel continua vital e central nos dias de hoje, mas cada vez mais ficamos com o horizonte de um mundo em que a geometria mundial se redesenha num futuro em que temos sempre aquela sensação que o novo século começou verdadeiramente a 11 de Setembro de 2001.

Madeleine Peyroux - Don´t wait too long

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Os milagres afinal existem, mesmo que inventados

Sócrates apresentou os resultados da anunciada melhoria dos resultados no ano escolar que passou, às portas de novo ano lectivo. A retórica ministerial passa por não atribuir o suposto sucesso às políticas governativas, mas sim aos tais professores, alunos e escolas com os quais o mesmo ministério andou às turras nos últimos anos, acabando por fazer um auto-elogio sobre as suas tais políticas do sucesso. Não é a primeira vez que o escrevo aqui, e pelo ritmo de criação de sucesso maquilhado a que estamos não será certamente a última, mas estes números são tão ou mais vazios como muitos outros que o Ministério tem vindo a apresentar. E não digo isto porque sou um daqueles espécimes a que Sócrates gosta de chamar de bota- abaxistas, sendo Sócrates um político daquela geração que tem essa ideia abominável de dividir políticos em pessimistas ou optimistas, como um político fosse um constate estado de alma e não se lembrando que acima deveria estar o político realista. E o político realista faria uma pequena viagem pelas escolas e olhando para as vitrinas com a afixação de pautas reparará que no básico existe esse fenómeno platónico de um aluno poder passar com 7 ou 8 negativas, isto porque a psicologia ministerial criou artigos como o famosíssimo artigo 319 que basicamente permite tudo até que o aluno não saiba rigorosamente nada e passe. Se Sócrates fosse também um político realista teria o cuidado de analisar os programas dos profissionais que o seu governo criou. Se Sócrates fosse um realista primeiro que um optimista aceitaria que as escolas portuguesas são incapazes de dar apoio aos seus alunos e que nos últimos tempos a prioridade no sistema de ensino tem sido o papel em detrimento do ensinar. Se Sócrates deixasse os seus abstraccionismos positivistas teria pegado no exame de Matemática de 12º ano do passado ano lectivo e rapidamente chegaria à dedução da fraude de seriedade e exigência que o exame é.
Mas Sócrates ainda terá uma “Nova oportunidade” para se converter ao realismo (político entenda-se), mas nesse caso também o aconselho a olhar com olhos de análise para os objectivos que são exigidos no tal programa de formação que é permanentemente elogiado. Tenho o maior respeito pelos muitos milhares que às "Novas Opurtunidades" aderiram na disposição e muitas vezes com o esforço pessoal para melhorar as suas qualificações, mas estas próprias pessoas são levadas na onda governativa que acha possível em meia dúzia de meses passar um aluno com habilitações de 6º ano para um de 12º, como vinha relatado numa reportagem do PÚBLICO neste Verão. Mas quando se afirma isto Sócrates puxa do seu lado ofendido e mostra-se chocado com o facto de questionarmos o esforço daqueles que fazem parte do programa, não entendendo que o que se questiona são os moldes do próprio programa em si, não as pessoas que o frequentam.
Podemos estar com os níveis de chumbos mais baixos dos últimos 10 anos, mas a escola de hoje é pedagogicamente infinitamente mais podre do que há dez anos era.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ir, Estar e viver o Avante!


Festa do Avante 2008, foto retirada do flickr


Nunca tinha pisado a Quinta da Atalaia, esse paraíso do PC no Seixal, o local onde concentram a festa da qual só ouvia as histórias e relatos daqueles que já lá tinham lá ido. Entrar no Avante é como entrar num microcosmos muito próprio, talvez no microcosmos mas interessante da política portuguesa, naquela que é sem dúvida a iniciativa melhor organizada e promovida por um partido português, e que como vi deixa espantadas muitas delegações internacionais. A capacidade de mobilização do PC é absolutamente impressionante, tal já se tinha verificado em muitas manifestações que o partido organiza, ma só o Avante é a prova que os militantes comunistas são isso mesmo: militantes com uma devoção ao partido. Desde a construção da festa que começa meses antes até ao trabalho que todos desenvolvem durante os três dias de Avante a dedicação ideológica, política e de comunidade que a festa expira é surpreendente.
Podemos achar que o marxismo leninismo na sua veia pura e crua que ali se defende com unhas e dentes à força do simbolismo do martelo e da foice está longe de ser o modelo de Esquerda para um mundo que já mudou muito desde o aparecimento do Manifesto Comunista, podemos também acreditar, como acredito, que pouco de bom havia em muito do que foi a União Soviética, podemos estar longe do estilo que o PCP continua a usar, mas não podemos dizer que ideologicamente e como partido o PC não tem futuro ou que está condenado, porque o Avante apesar dos muitos “infiltrados não-comunistas que por lá andam” mostra também muitos dos outros que fiéis ao partido continuam. Ali fica também provado que o partido conseguiu montar uma inteligente rede de recrutamento de jovens que têm no Avante o seu momento alto de uma curta militância exacerbada com outros não-comunistas quando a mítica e bela Carvalhesa é tocada.
Ir ao Avante não mudou a minha opinião sobre o PCP como um partido ideologicamente questionável ou com atitudes de apoio a regimes que são tudo menos democráticos e que apenas merecem condenação, mas o Avante foi uma evidência que o PCP é uma força forte e como mostram as sondagens a crescer com uma implementação até às raízes na sociedade portuguesa e com uma capacidade organizacional de fazer inveja às Universidades de Verão de Ferreira Leite e às Novas Fronteiras de Sócrates.

O nada que para aqui vai

E pronto cá estamos nós na reentre política ansiosos que estávamos que o Leite fervesse depois de tanto silêncio e que os pensamentos Socráticos se revelassem. Bem para os mais ansiosos ou que já espumavam pelo regresso da política à portuguesa a desilusão deve ser o sentimento dominante. Depois de umas férias longas a Dama de Ferro não disse rigorosamente nada de novo, Ferreira Leite até tem uma boa capacidade de diagnóstico dentro da sua concepção política e ideológica, apresenta uma imagem que pode agradar ao centrão mas dali não brotou uma ideia, uma que fosse, um marco a anunciar ao país, uma iniciativa, zero, nada, ou seja continuamos à espera.
Entretanto Portas parece que não estava virado para a solidão e amarrou-se a Nobre Guedes mesmo quando este queria ir arejar para fora do CDS, Nobre Guedes foi-se mesmo embora e Paulo Portas levou um valente abanão que deixa o seu ar imaculado dentro do partido altamente fragilizado.
Depois veio Sócrates abrir o Respublica, uma ideia interessante que pedia um discurso igualmente interessante, mas parece que as ideias no arco do poder estão hipotecadas ou adiadas sine-dia. Sócrates quando não tem nada para dizer atira com o discurso contra o pessimismo, já não é a primeira vez que o faz, quando não tem nada melhor ou mais interessante para chutar diz que os outros não querem é que o país avance, aquele típico discurso vazio de quem está muito motivado e os outros são apenas a herança pessimista do fado, começa a ser um tópico demasiado habitual nos discursos do nosso primeiro-ministro.
Portanto foi uma reentre em tons suaves e pálidos, pode ser que pela altura do orçamento sejamos brindados com algo mais empolgante, aguardemos pelo que há de vir!

O herói de Guerra esgotado e a conservadora aterradora


Poucas são as vezes que acontece mas não podia concordar mais com as duas crónicas de fim-de-semana que Vasco Pulido escreveu no Público e nas quais se concentra na pobreza ideológica que foi a última Convenção Republicana. A melhor forma de levar ao histerismo um bando e delegados Republicanos passa por contar muitas heróicas e sanguíneas histórias de guerra, acompanhar com uma dose de irracional patriotismo e acrescentar a defesa do conservadorismo provinciano até às vísceras, tudo isto significa cair no goto de uma Convenção do partido de Bush.
Huckabee, Giuliani e Romney, os adversários de McCain nas primárias fizeram discursos abaixo de nível, com ataques míseros, não a ideias, mas a pessoas, os Republicanos não gostam de Obama porque estudou, formou-se nas melhores faculdades é querido pelas “elites” que os republicanos, que elegeram um vaqueiro para presidente, tanto odeiam. Por isso foram buscar para vice-presidente uma mulher medíocre, que não sabe dizer duas linhas sobre política internacional, que não domina coisa alguma sobre política energética que não apresenta uma ideia a não ser defender o aborto até ao ridículo e simbolizar a família conservadora americana. É assim Sarah Palin que pôs McCain a subir nas sondagens, mas ouvir aquela Convenção Republicana foi um autêntico martírio, de onde esperávamos que viessem ideias, veio apenas a repetição sem fim da história do soldado McCain no Vietname, e essa será a arma que Mccain mais vai usará.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Estranhas Eleições

Angola está a horas de votar, é o voltar às urnas no país que da última vez que contou os votos caiu de novo na Guerra Civil. Savimbi foi morto e entretanto a Guerra acabou, mas Angola habita agora o limbo, não querendo voltar à Guerra, não sabe o que quererá e acomodou-se a 16 anos sem eleições, aos 30 anos de MPLA e a um regime corrupto de alto a baixo. Talvez tal justifique os discursos conformistas que se ouviram nos últimos dias, aceitando com uma naturalidade passiva a riqueza que José Eduardo dos Santos amigos e família souberam pôr a gravitar à sua volta, num país com desigualdades sociais que marcam e não são difíceis de adivinhar. Angola sabe que a corrupção existe, mas para quem assistiu à distância a esta campanha parece desculpá-la com a corrupção de outros países, em troca vai acalentando a esperança que o crescimento económico vá aos poucos sendo o motor para um melhor desenvolvimento humano, que ainda não chegou. Os Angolanos estão portanto à espera, sabem que não vão regressar à Guerra que os afogou durante décadas, mas receiam que uma qualquer mudança deite por água abaixo o crescimento dos últimos tempos, só isso justifica algum do tom dominante dos últimos dias.
Mas há coisas que continuam iguais, ser voz dissonante ainda tem um preço a pagar. Geldof disse o óbvio numa conferência do Expresso, fica a Impresa à porta de entrarr Angola, juntamente com o Público e a Renascença. Com atitudes de pequenos ditadores como esta, como quer Angola que alguém acredite que algo de democrático está a mudar? E nada disto é dito com algum ressentimento colonial, porque nunca os tive.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Simplesmente Wall E

Música oficial de Wall E "Down to the Earth", de Peter Gabriel

A Pixar com Toy Story deu o primeiro salto na animação digital, entretanto chegou a DreamWorks trazendo consigo sucessos como Sherek ou Madagáscar e agora a Pixar e a Disney trazem o que é um dos mais belos filme de animação dos últimos tempos. O pequeno robô, dizendo apenas duas ou três palavras repetidamente ao longo de todo o filme, constrói à sua volta uma historia simples, mas ao mesmo tempo cheia de ironia e com uma mensagem ambiental forte e extraordinariamente passada. Wall E, o pequeno robô de condensação de lixo, é o último que sobra numa Terra de onde os humanos partiram há mais de 700 anos, vivendo hoje isolados numa nave que navega pelo Universo. Aparatosamente Wall E reencontra estes humanos tornados uns inúteis, presos à máquina e ao progresso que eles próprios criaram, longe da Terra que já não conhecem, tudo cozinhado num argumento meticulosamente escrito e cheio de mensagens escondidas, acompanhado por gráficos que tocam muitas vezes a perfeição. Wall E é muito mais que um filme de animação, é uma obra magnífica para todos aqueles que gostam de cinema!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A vida pessoal de uma candidata


Os Estados Unidos sempre viveram campanhas eleitorais em que mais do que eleger um Presidente e uma Vice Presidente elege-se a família que a eles vem atrelado. Vai-se ao fundo conhecer os candidatos, como educam os filhos, que música ouvem ou que põe nas torradas ao pequeno-almoço. É a política Americana e tanto Obama como McCain não podiam nem têm escondido o seu passado, a sua história, ou a sua família.
Numa campanha presidencial Americana, e talvez infelizmente, vida privada e vida política, não têm fronteiras entre si, são um só diluindo-se no jogo eleitoral.
E se tal pode trazer vantagens pode também arrastar casos como da candidata Republicana a Vice-Presidência Sarah Palin, cuja filha de 17 anos está grávida, e segundo a campanha Republicana vai casar com o pai seu filho. Cada um julga a sua própria vida, e não caberá a ninguém, e muito menos a mim, fazer um julgamento moral ou de carácter nem a Sarah Palin nem à sua filha, mas esta revelação é (e por muito que digamos que não) uma questão política.
Sarah Palin era, e em grande parte ainda é, uma ilustre desconhecida da política Americana, governadora do Alasca, foi claramente apresentada como a resposta de McCain para conquistar os votos de Hillary, agarrando o eleitorado conservador. Ou seja Palin quando se apresentou, com a sua família, há uns dias como candidata oferecia um verdadeiro pacote eleitoral, ela mãe de quatro filhos, conservadora e evangélica dos sete costados, defensora do ensino do criacionismo, fortemente anti-aborto e defensora da abstinência sexual mostrava-se como alguém que segurava o eleitorado mais conservador que não gosta de McCain e piscava o olho ao eleitorado feminino que apoiou Hillary. Foi assim que a candidata se apresentou, ela e a família, todos com os mesmos ideais que iriam levar para Casa branca. Agora faz sentido aquela apresentação? Não o faz, olhando para a forma como a candidata Republicana se apresentou juntamente com a família agora tudo aquilo soa a hipocrisia. É o preço de juntar a família a uma campanha, fazer de uma eleição não unipessoal, mas de um grupo que defende uma família modelo de uma América a que se quer apelar.

Erros reconhecidos

A condenação do Estado que hoje se conheceu como resultado da acção apresentada por Paulo Pedroso é um bom exemplo que nenhum Estado pode deixar de ser chamado aos seus erros. Pedroso foi absolvido, mas a mesma justiça que o absolveu não deduziu de imediato que um caso da natureza daquele que o então delfim do PS foi acusado lhe deixaria uma marca na carreira profissional e na vida pessoal difícil de apagar. Como a nossa justiça é boa a acusar mas muito menos lesta em reconehcer os seus erros, Pedroso, e muito bem, apresentou uma queixa contra um Estado que o acusou, prendeu preventivamente e depois nada conseguiu provar, este é o Estado que face a uma situação como a que Pedroso viveu deveria ser o primeiro a reconhecer as suas culpas, e indemnizar e ressarcir aqueles que sem provas prendeu e envolveu num caso judicial, ainda para mais um caso com os contornos do da Casa Pia. Na ausência das mínima das honestidades e respeito da Justiça pelos seus cidadãos, Pedroso fez o que qualquer cidadão que sinta o seu bom nome manchado deveria fazer, um cidadão que verdadeiramente o é, não deve nem pode enterrar a cabeça na areia face a um Estado que acusa, prende preventivamente, engana-se e não admite o mal que fez, numa autoridade e altivez surda e cega; deve sim enfrentar o Estado como mais um elemento da sociedade, um elemento crucial, mas que em primeiro lugar deve respeitar as pessoas que o formam, e isso o Estado Português raramente o faz.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O fim da silly season


Regressados às rotinas a época estival está na recta final, e Agosto passou, o mês em que à espuma do mar se costuma juntar a espuma do não haver rigorosamente nada para dizer, mas pelo meio do calor o país enervou-se julgando que estava cercado de gangster, e no meio da euforia do crime, os mais banais assaltos passaram ao topo da agenda e lá pelo meio Cavaco deu ares da sua graça. Em regresso de férias atiremos-nos num último mergulho, desta vez ao balanço do mês do calor:

1. E comecemos por Cavaco que pode marcar o mês de Agosto de 2008 como um dos mais tristes da sua presidência. Antes de muitos partirem de férias pôs o país em alvoroço com uma declaração ao país, que se vá lá entender porquê rodeou de secretismo, para depois acabar a fazer um discurso jurídico redondo sobre o Estatuto dos Açores ao qual meio Portugal não ligou nenhuma e a outra metade já se esqueceu que aconteceu. Para adocicar as tristezas políticas do seu Verão Cavaco brindou-nos com o veto à lei do divórcio, na mente do nosso Presidente o divórcio não é uma união de duas pessoas, que com duas pessoas se constrói, continua a pensá-lo mais como um união sagrada e inalterável. A Costela conservadora do cavaquismo no seu pior, como Clara Ferreira Alves dizia numa das suas crónicas no expresso: “conseguimos tirar Cavaco de Boliqueime mas não conseguimos tirar Boliqueime de Cavaco”

2. O país descontrolou-se após os acontecimentos no BES. É mais do que assustador ver uma cena daquelas pela televisão e o crime violento cresceu, é uma dado estatístico, crime altamente profissional como o assalto na A2 ou o crime dos bairros sociais mal feitos e mal tratados. Mas enfrentar esta realidade não é entrarmos todos numa gritaria nacional em que telejornais se iniciam com a notícia do assalto ao café da esquina da D. Joaquina. O crime violento cresceu, e no meio de tanta agitação fiquei sem conseguir entender quais as suas causas e ninguém apresentou o mínimo das ideias para o combater, tanto escândalo para as soluções serem zero, com um ministro aos papéis sem saber muito bem o que dizer na televisão

3,. No meio de tudo isto o PSD parece que se fechou sobre um tumulo cujo o fundo parece demasiado distante, tão distante que Manuela Ferreira Leite não aparece, submergiu e nada diz. Não se lhe pedia que fosse assistir às decadentes bebedeiras do Chão da Lagoa ou às foleiradas Algarvias da Festa do Pontal, mas convém lembrar que a líder da oposição ainda é viva

No meio dos que falaram demais e mal, dos que roubaram, dos que se calaram, pelo menos Agosto não foi repleto de imagens de um país a arder, felizmente há coisas que não duram para sempre