sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quando os emigrantes já não voltam

Entretanto ainda subi ao Norte Interior do rectângulo Português, às Terras de Aquilino, de paisagens graníticas. Há anos que me habituei a passar algum tempo do meu Verão naquele recanto beirão e como parte da paisagem dos meses de calor contava sempre com a visão de emigrantes que regressavam, os grandes contribuintes para as festas e festarolas que animam o Verão das aldeias da Beira, emigrantes que faziam por voltar ano após ano. Mas se há sinal que as gerações passaram, esse sinal está ali, que os anos 60 já vão longe e que a terra amada do passado é já uma imagem desfocada no passado. Os que há 40 anos daqui saltaram para a Europa estão velhos, os filhos muitos já nasceram para lá das fronteiras de Salazar, as Beiras, o Norte, esse país que é Portugal já lhes diz pouco, ou quase nada, as gerações que nascem já são Francesas, Alemãs, Luxemburguesas, Portugal vem cada vez menos cravado no seu Bilhete de Identidade, é parte do passado e ponto. Talvez isso explique porque que este ano encontrei a beirã aldeia da Sarzeda vazia de emigrantes sem o rebuliço dos carros todos artilhados de matricula Suíça, Francesa ou Luxemburguesa que não se cansavam de aparecer pelas festas de Agosto em honra desta ou daquela santinha. O Verão que o Interior Português se habituou a ter parece estar a desaparecer!

Regressado da terra de Alberto


De raspagem por Lisboa não podia deixar de dar notícias, podia tê-lo feito, mas o tempo de sobra foi pouco e a pachorrice à beira mar falou mais alto.
Não fui à Madeira fazer nenhum estudo sobre a vida no ilhéu laranja, mas três semanas dão para sentir e ver muita coisa, ainda para mais quando se cai em cima desse festival sem paralelo que é a festa do Chão da Lagoa.
A Madeira que visitei, e onde há muito tempo não ia, está rasgada de estradas de forma impressionante, túneis, dezenas de túneis que nos fazem parecer estar num autentico queijo suíço, uma ilha onde os caminhos perigosos de há 30 anos se transformaram em vias rápidas onde percursos que antigamente se alongavam enjoativamente por horas se fazem agora em meia dúzia de minutos. Os dinheiros europeus fizeram milagres naquela ilha, criando obras que por muito que as critiquemos temos que admitir que eram mais que necessárias. Percursos simples que unem a ilha de um canto a outro e que até há bem pouco tempo demoravam mais a percorrer do que uma corriqueira viagem Funchal Lisboa. Mas olhando para a Madeira e para o nosso turístico Algarve, é mais do que fácil reconhecer que na ilha do tio Alberto se respira uma qualidade de turismo que o Algarve não tem, uma limpeza de ruas de espantar para um Cubano (perdão para um continental!), e uma organização hoteleira bem melhor que a patuchada que são muitos dos estragados recantos algarvios.
Mas na Madeira o Estado é o PSD e o PSD é o Estado, indissociáveis, entranhados pegajosamente, com todas as muitas desvantagens que isso tem, mas não gostando de tal, ir à Madeira é confirmar que Alberto João está lá porque verdadeiramente é eleito, do mais fácil que há em encontrar bandeiras do PSD nas janelas e varandis de qualquer casa. Ali o meio é pequeno, Estado e privado alimentam-se mutuamente. Mas as estradas madeirenses não escondem aquilo que ainda é uma das marcas da ilha, longe dos resorts do Funchal, ou dos ensolaradas espreguiçadeiras à beira-mar resiste uma Madeira de profundas desigualdades, onde ainda é fácil encontrar todo o tipo de núcleos de pobreza, mas o mais estranho é que muitas vezes são os mais pobres juntamente com os mais ricos da ilha que indefinidamente mantém Alberto João e a sua trupe no poder ( de relembrar esse sempre mítico Jaime Ramos, uma figura que nos deixa sem reacção, ficando sempre na dúvida se após um seu discurso devo chorar ou rir), mas enquanto assim for o areal Porto Santo continuará a assistir ao veraneante desfile do rei da Madeira e da sua brigada do reumático que continuará igual aquilo que foi nas últimas décadas.