quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Década!



Acaba um 2009 muito pouco dedicado à bloguice, aos textos e à escrita na Terra de Ninguém. Deste blogueiro negligente, desejo aos resistentes leitores um óptimo 2010, inspirado para a segunda década deste século que agora chega. Que o ano que aí vem seja passado no melhor dos locais, nem que seja para lá do arco íris de Judy Garland!

sábado, 3 de outubro de 2009



Três belíssimos trechos da banda sonora do filme The Reader composta por Nico Muhly

O 2º dia da insanidade

E os resultados estão escrutinados, os vencedores e os vencidos leitos e com tudo que pelo meio se meteu as eleições já parecem coisa de um passado mais distante. Isto porque entretanto Cavaco protagonizou o momento mais triste e ridículo de um qualquer Presidente desde o 25 de Abril. Algo era necessário dizer, mas Cavaco conseguiu fazer o discurso mais embrulhado que seria possível escrever, encontrando sucessivos escapes para fugir às verdadeiras questões, não esclarecendo nunca se sentiu ou se sente escutado por quem quer que seja. Mais Cavaco, o Presidente da República, pôs-se ao nível de José Junqueiro e de Vitalino Canas, duas personagens absolutas do PS cujas as declarações são sempre meias apatetadas, ainda para mais em período de Verão. Cavaco preferiu o discurso da desconfiança, dos medos, da intriga baixa, do Presidente que se sente perseguido por tudo e todos, desconhecendo que e-mails são facilmente violáveis, sem comentários! Num tom agressivo, pouco cortês, pouco acertado para um Presidente essencial num momento como o que aí vem, mostra-nos alguém assustado, ofendido com balelas politiqueiras e disperso entre os encontros Secretos dos seus assessores com jornalistas. De facto ser presidente é acima de tudo uma postura, discreta e capaz de gerar consensos sem espalhafato, sem discursos inflamados, numa retórica mal articulada em que muito ficou por dizer e muito pouco se esclareceu. Mas era difícil ser diferente, no fundo foi Cavaco igual a ele próprio!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

"Uma ventura na escola" (parte 2)


Depois de Maria de Lurdes Rodrigues, que saudade eterna deixa, parece que Sócrates quer a escritora dos livros que lemos em petizes, Isabel Alçada, na 5 de Outubro. Alguém explique a Sócrates que à primeira cai quem não sabe, à segunda cai quem quer. O ministério da educação precisa de um político, alguém que saiba negociar dossiers difíceis, estabelecer pontes sempre tão complicadas entre a máquina de pedagogos delirantes do ministério e professores que lidam com a escola real, e certamente Isabel Alçada não deverá ser este peso político necessário para juntar os cacos que a ainda ministra da educação deixa para trás. Sócrates parece que vai cair na esparrela da personagem conhecida como resposta aos problemas da escola, sem querer fazer grandes juízos à partida temo que seja curto, muito curto!
Mas damos o desconto, entrámos na fase do atira nomes à parede a ver se cola na opinião pública!

Como este amor Sócrates-Cavaco já é tão distante!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A campanha dos momentos vazios

E pronto está acabar o choque de episódios mais ou menos estranhos, uns mais irrelevantes que outros, da campanha que flutuou entre os comícios do PS meticulosamente preparados não para os que lá estão, mas para os que de casa vêem, das arruadas de jotas aos berros, da Ferreira Leite não habituada a esta coisa das arruadas em que se o esclarecimento fosse feito ao encontrão, os portugueses estariam mais esclarecidos do que nunca. Mas a campanha foi o sucedâneo que começou com Moura Guedes corrida da TVI (quem já se lembra disto?), passámos para o debate em que de peito aberto tentavam mostrar quem era o mais português de todos, num debate sobre Pseudo-patriotismo como se tivéssemos acabado de dobrar 1640, prosseguimos com do momento do quem escuta quem ou dos PPR´s de Louçã (na absoluta não notícia com que o Expresso conseguiu fazer uma primeira página). E no meio disto tudo pouco mais sobrou, para quem queria mesmo clarificar o voto, a campanha morreu no dia do debate entre Sócrates e Ferreira Leite. A confusão de casos, de episódios e de fricções foi de tal forma que política, ideais e projectos, sobretudo no centrão, ficaram arrumados para canto e não mais discutidas.
E um dia ainda me vão explicar essa coisa da arruada com megafones, bandeiras gigantes, multidões suadas a amontoar-se, acenos enviados para as próprias comitivas e intrusos rapidamente seriados para não incomodarem os respeitáveis candidatos. Já sei muitos acham que quem diz isto não gosta de contacto com o povo, mas também um dia me hão de explicar que tipo de conversa minimamente inteligente ou esclarecimento nasce ali. Mas o objectivo também não é esse, porque a força dos partidos parece que ainda se mede ao tamanho do rebanho que o líder leva atrás.
Mas esquecendo as últimas duas semanas, a pré-campanha, os comentários, os programas escrutinados e sobretudo a memória dos últimos anos fazem que quem quer fazer uma decisão consciente fá-la. Pode não haver soluções perfeitas, certamente, mas como Churchill dizia “a democracia é o pior sistema de todos, exceptuando todos os outros”. A verdade é que a democracia portuguesa também produziu o duo que mostra bem aquilo a que os maiores partidos chegaram. De um lado o Sócrates do PS de esquerda híbrida, muito híbrida, demasiado para 4 anos de um discurso formatado aos ventos que sopravam e às circunstância e muito pouco formatado a valores, a verdadeiras ideologias que na mente socrática são sempre o lado menor de fazer política, são sempre mostradas em versão Português Suave para nada nem ninguém afrontar e em si juntar todos os votos até ao último. Quando é preciso os funcionários públicos são esses “privilegiados”, quando a trajectória muda o Estado Social é um valor máximo. Do outro Ferreira Leite, a prova que o PSD, ao contrário do país, não mudou o ciclo, não virou a página do cavaquismo, e quis ter uma líder com postura séria num partido que não o consegue ser, quis ser sintético e acabou por nada de programático produzir.
Só resta votar, domingos contam-se os resultados!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A verdadeira campanha suja



É este o tipo de anúncios e de associações que Obama enfrenta para a reforma social mais marcante de sempre na história dos Estados Unidos

Em memória



Passam este mês 60 anos da invasão da Polónia e que levaria de arrasto a Europa para a Guerra que a destruiria, e que serviu de argumento para o longo reerguer dos escombros. Numa época em que entram no parlamento europeu, vindos em muitos casos de leste, muitos fanáticos de extrema-direita aqui fica o recordar desse passado nada distante.

O sentimento que pode não se reflectir nas urnas

A provável vitória de Sócrates nestas eleições é um fenómeno que mostra como a rua e o dia-a-dia ao longo de quase 5 anos promete ser pouco traduzível num resultado eleitoral.
Durante todo este mandato, Sócrates foi tudo menos uma personagem adorável, algo que se calhar ele também não desgosta, visto que tem aquela visão messiânica de cavaleiro andante da política. Durante 5 anos ouvir críticas a Sócrates foi uma constante, de todos e de vários sectores, de amigos e de muitos dos que conhecemos as políticas Socráticas do PS eram clamor e crítica de muitos.
E agora como pode vir ele a ganhar mesmo sem maioria absoluta? Não, não creio que tenha havido um convencimento do país de muitas das pseudo-reformas socráticas. Como também nestas eleições duvido que se irá votar por que se é contra ou favor do TGV, da 3º auto-estrada Lisboa-Porto ou porque esteja na mente de muitos portugueses o nível do endividamento do país. Nestas eleições quem votar no centrão votará porque gosta ou não gosta de Sócrates ou porque gosta ou não gosta de Ferreira Leite. Nada mais que isto, a verdade é que Ferreira Leite não parece ter capitalizado suficientemente o descontentamento, deitou a politica de verdade por um canudo com aquela parelha de candidatos (António Preto e Helena Lopes da Costa), não concretiza medidas, nela vê-se esfarelar qualquer coerência, qualquer ânimo mobilizador. O que muitos pensavam ser a mais-valia nela: a calma, a ponderação, o não gosto pelo show-off, como o contraponto a Sócrates não está a funcionar, por que só funcionaria se tudo isto fosse acompanhado de clareza, de compreensão, de medidas, de articulação de discurso, só assim se poderia pôr como antítese, em estilo e em conteúdo ao primeiro-ministro. Mas isto Ferreira Leite não consegue fazer. E o facto é que a sua figura está cheia de anti-corpos por toda a sociedade portuguesa que com ela não se identifica nem mobiliza. Como está a figura de Sócrates, mas entre um e outro, o jeito maroto e aguerrido de Sócrates colhe mais adeptos naqueles que apenas se vêem balancear entre PS e PSD.
Para já ao fim da primeira semana de comício Sócrates vai à frente numa campanha, que como todas as outras é o pior momento para discutir o que quer que seja. Os fenómenos de momento, o nada, o pequeno golpe baixo, a pequena picardia politiqueira lançada em jantares de militantes mobilizados à camioneta domina.
1 semana depois um e outro continuam a prometer nada mais do que o centrão típico, um e outro são os melhores símbolos desse rotativismo que pretende transformar o país no seu bipartidarismo, perdendo assim sucessivamente votos para as suas franjas de esquerda e de direita. Um e outro são bem conhecidos, um e outro andam nestas coisas há 18 anos, é demasiado tempo para um país que em quase duas décadas tanto poderia ter sido e não foi.

Os Debates

10 debates como nunca antes se viram, alguns de estar bem acordados ( Sócrates-Louçã, ou Sócrates-Ferreira Leite), outros com pálpebras mais que fechadas num quase ressonar dada a pastelice das duplas como o caso Jerónimo-Ferreira Leite.
Portas portou-se bem naquele estilo que adoptou. Joga em nichos de mercado, especializou-se em pme´s, agricultura, segurança, puxa o ódio social no rendimento mínimo, um subsídio cheio de fraudes, mas também sei que cheio de pessoas que de facto dele precisa. Portas chama a si os mais básicos instintos de repressão social, acabando por estigmatizar, e um político nunca deve ser um estigmatizador, seja de quem for. Portas que gosta de mostrar aquele seu lado de apreciador de grandes estadistas, esquece-se que a maior das qualidades dos homens de Estado é representar todos e naquele jeito populista, que só ele tem, mete tudo no mesmo saco: os que em muito enganam e se especializam na fraude do rendimento mínimo e à sua conta vivem, daqueles muitos pobres, verdadeiramente pobres, que dele precisam. Portas à busca do rancor social, considerando que as frases que ouve em tascas e cafés baratos de uns em relação à pobreza dos outros fazem alguma vez um programa que se alimente de algo mais que os instintos primários de alguns.
Jerónimo já entendeu que debates não é com ele, e passa à frente sem distinção.
E chegamos a Louçã que portou-se à altura menos no debate em que deveria ter sido mais forte, deixando-se levar na táctica de Sócrates que mais não foi do que ouvir os seus assessores e pegar em dois ou três pontos do programa do bloco para picar o adversário, tirando-os do contexto, do todo do programa, na táctica do susto, do afugentar das classes médias do bloco, que aglomerou muito do descontentamento contra o PS dos últimos anos.
Quanto a Ferreira Leite as expectativas eram baixas e baixas se confirmaram, sem a mínima capacidade de articulação de uma ideia que seja minimamente compreensível, mas mais grave do que tudo isso cada vez que saía da sua caixa, do seu programa redutor Ferreira Leite apenas tendia a dizer que não sabia, não havia estudado, não havia pensado no assunto. Pouco, redutor, mísero numa altura em que não se pede que alguém saiba de tudo, mas que entenda um pouco mais do país do que aquilo que está escrito no programa que a própria diz podia ser resumido numa folha A4.
E estes debates, ao contrário de em muitas outras eleições, ao fim da primeira semana de arruadas e festins, podem mesmo ter marcado os resultados das eleições, pelo menos a acreditar nas sondagens que mostram um empate técnico antes da semana de debates e o descolar do PS pós-debates. Falta uma semana.

O dia da insanidade

A sillygate afinal não se ficou só pela silly season com a notícia publicada pelo DN. E comecemos por aqui. O que equipa editorial do DN fez é a todos os títulos, seja quais for as responsabilidades que o próprio Público (e de certo também são muitas), uma absoluta vergonha, é incompreensível como um jornal tem o desplante de revelar as fontes de outro jornal através de um e-mail interno de outra publicação, sendo este um dos mais incríveis casos de desrespeito entre jornalistas dos últimos largos anos.
Cavaco está no memento mais incrivelmente ridículo do seu mandato, depois dos vetos de Verão, incluindo a lei das uniões de facto como essa maravilhosa desculpa “do tempo oportuno”, ou seja o tipo de argumento que os conservadores usam sempre quando não querem discutir um qualquer assunto que mexa com valores e costumes. Mas o caso que promete marcar a recta final do mandato do presidente é este que mostra o ponto mais baixo das relações com Sócrates, num caso que flutua entre o delírio e a mais surpreendente metáfora da forma como o próprio Cavaco se vê a si e à sua presidência.
Em primeiro lugar manda um assessor seu contactar um jornalista para estampar uma notícia num jornal. Houve tempos em que o presidente disse que não lia jornais, agora parece ter saltado para o outro extremo, sendo que cria notícias para as próprias publicações que ele dizia não ler.
Mas isto mostra a total incompreensão do que é o cargo de presidente da República, se de facto haviam estas suspeições em Belém e se o objectivo passava por não interferir na vida partidária, ainda para mais num momento destes, Cavaco tem as tais audiências às 5ºs feiras para tratar de tudo o que acha que tem a tratar com o primeiro-ministro e não criando notícias, suspeições, um bruaá no ar envolvendo-o a ele, a São-Bento e as serviços de informações.
A cereja deste muito recheado bolo-rei que o próprio presidente criou são as declarações que proferiu afirmando que depois das eleições quer ser informado sobre matérias de segurança e dizendo a uma jornalista que não é ingénuo. É possível ter estado pior? Dificilmente, Cavaco em Agosto espera dez dias para comentar alguma coisa sobre a notícia do Público, naquilo que foi uma frase que nada retirou às suspeições existentes, passa um mês e Cavaco acrescenta esta pérola a uma novela que nem Moniz nem Moura Guedes teriam tanta imaginação para escrever.
Uma enorme colherada na campanha dada pelo presidente mais toda a sua trupe de maravilhosos assessores, que gostam de frequentar pacatos cafés da avenida de Roma e que entre um golo no café e uma trinca no pastel de nata passam dossiers sobre assessores de Sócrates, a prova que na Casa Civil se andam fazer vastas biografias sobre muitas personagens.
Sócrates joga à defesa com as suspeições que parecem pairar e que sempre pensei de ridículas não percebendo agora se de facto existem, o que, nesse caso, seria um auge da estupidez de São Bento, ou não passam de fantasia e aí estamos perante o auge do delírio de Cavaco.
É com casos como este, tratados com esta ligeireza, como se de um romance de intriga barato se tratasse, que Portugal não consegue levar a sério aquilo que em qualquer lugar seria dos mais graves casos que alguma vez poderiam acontecer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O mês dos ferozes que se tornaram doces

Começou o mês das entrevistas, das discussões infindáveis, dos cálculos, dos tacticismo e das arruadas, toda uma máquina movida a carne assada, bacalhau com natas e meninos de jotas que descobrem nas eleições o momento perfeito para darem aos bracinhos nos comícios do partido. Hoje tivemos o primeiro cheirinho, do menino de coro em que Sócrates se transformou, cheio de risos apetitosos para a jornalista que há uns meses, numa outra entrevista, bem ouviu a voz grave deste primeiro-ministro.
A entrevista correu-lhe bem, mas bem espremidinha fica a marca do que vai o Sócrates de Setembro de 2009. Definitivamente a ferocidade ficou pelo caminho e o objectivo chama-se: bipolarização. Comecemos então pela forma com o discurso melado de arrependimento e assumir de erros dedicado com muito amor e carinho a juízes, professores e funcionários públicos que agora convém embevecer. Se juntarmos este enorme pote de pessoas, a verdade é que todos conhecemos um professor, um juiz, ou um qualquer funcionário público que passará a mensagem contra Sócrates e é esta cadeia que é preciso quebrar para aguentar muitos votos à esquerda do PS.
Para o PS o cenário de votos partidos em múltiplos pedaços não se pode repetir, ou seja para o primeiro-ministro o discurso passa pelo sou eu ou ela. Sou eu o moderno, o avançado, o reformador, o keynesiano vibrante do papel do Estado contra ela, a antiquada, a conservadora, a direitista que odeia o Estado, a cavaco de sais.
Daqui a uns dias sabemos o resultado deste wrestling à portuguesa.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sócrates julga que encontrou a resposta para Cavaco



Afinal a resposta é fácil, basta distribuir 200 euros por cada novo filho, dinheiro atenção entregue ao fim de 18 anos! Alguém no PS se deve ter esquecido que há uma coisa chamada taxa de inflação e quando o agora adorável bebé for mais espigadote e chegar à idade adulta os 200 € servirá, quanto muito, para uma cerveja e um pacote de amendoins.
Andávamos todos à espera dos programas eleitorais, eles aí estão, com propostas de cortar a respiração de tão inspiradas que são!

Não há nada melhor para curar a gripe que uma poncha!


Ferreira Leite ficou a perder os efeitos curativos de certas bebidas regionais. As maleitas da gripe evitam as maleitas políticas provocadas pelo festim que alberto joão e seus compinchas gostam sempre de proporcionar!

domingo, 5 de julho de 2009

Que medo!


Segundo notícias de hoje Sarah Palin irá abandonar o cargo de governadora do Alasca, consta para se preparar a uma candidatura à presidência americana em 2012. Que cenário abominável!

Um epitáfio!


Pinho marcou a semana, quer pelos papéis rasgados em plena entrevista televisiva ao momento ribatejano na assembleia, que até lhe valeu uma crónica na última página do el país de sábado em que consideravam que o nosso antigo ministro seria entronizado nas ruas do país vizinho com o cognome e cito “¡ Torero, intelectual!”, Pinho enganou-se na fronteira e como o jornal diz no parlamento e o gesto irreflectido custou-lhe o cargo. Sobre este requintado momento da política à portuguesa, nada mais a dizer.
Consta contudo que o Debate tratava da Nação, algo que entretanto não foi muito falado. No discurso de balanço Sócrates esqueceu a avaliação de professores (curioso), as reformas na saúde (muito curioso!), debruçou-se no Magalhães, no plano tecnológico e passados todos aqueles minutos de discurso ficava a saber a pouco, num balanço esforçado que tentava espremer e assinalar as mais pequenas medidas. De Sócrates fica uma consolidação Orçamental jamais acabada, sem dúvida feita à custa de sacrifícios que fizeram desta década negra para a convergência portuguesa com a Europa. Ao contrário do que Sócrates diz ninguém o acusa das causas crise, mas acusam-no, e bem, de a ter subestimado até muito tarde, de ter tido um ministro da economia que anunciou a retoma (mais um anúncio da chegada dessa aguardada e nobre senhora), de um ministro das finanças que só muito tarde admitiu todo um novo cenário, de um PS que se descontrolou perante a nova realidade e um conjunto de medidas que ninguém ainda sentiu que tenham provocado substanciais inflexões do ciclo negativo, sobretudo do desemprego. Mas se a crise tramou o final de mandato de Sócrates, e fê-lo de facto, então perguntemo-nos se Sócrates nos deixou mais preparados para o depois da crise ou deixou um país mais resistente às crises que hão de vir. Ora aqui está a essência, a estas perguntas a resposta é não. O Sistema de Segurança Social reformando, como já aqui uma vez escrevi ameaça uma pauperização futura de uma importante franja do país, os portugueses não estão a mais instruídos, podemos ter os centros Novas Oportunidades a abarrotar, mas isto está muito longe do que é uma educação ou formação ditado por um modelo de qualificação ocidental, as empresas não estão mais competitivas na maioria dos sectores. A verdade é que hoje o país não está mais forte nem mais preparado para um período pós-crise em que o discurso do défice voltará e o país continuará emaranhado no debate das grandes públicas, sem que nada de substantivo se decida. Sócrates não inflectiu o ciclo nem mudou o horizonte para os próximos anos, a verdade é que o horizonte hoje em 2009 é bastante mais negro que aquele existente em 2005, um horizonte em que a palavra “recuperação” parece perdida e difícil de encontrar.
A isto junta-se um primeiro-ministro que perdeu todo o momento político numa difícil espiral desde a derrota nas europeias. Talvez aquele gesto fosse um conselho de pinho: Sócrates precisa de se deixar de fantasias ou eufemismos baratos sobre o verdadeiro Estado da Nação, no fundo Sócrates precisa de pegar o país pelos cornos!

Meus caros a matéria-prima não é bem a mesma!

Consta que o PS está fascinado pelo mundo Obama e já tratou de trazer uns tantos profissionais da campanha presidencial americana para ajudar no site de Sócrates e puxar pela imagem do nosso José. O PS esqueceu-se de um pequeno e importante pormenor, os profissionais podem ser bons mas estão manifestamente a lidar com uma base de trabalho completamente diferente.
Na campanha presidencial Americana Obama adoptou claramente um estilo de comício que o PS tentou importar experimentalmente para as europeias. Mas enquanto em Obama aquilo parecia credível, audível e cativante, na campanha socialista com Sócrates, mas sobretudo com essa força mobilizadora chamada Vital Moreira, parecia e era tudo demasiado falso, maquinado, estranho. A embalagem até pode ser bonita mas quando lhe falta conteúdo pouco salva a aparência.
A verdade é que enquanto Obama era chegado de novo, fresco de ideias e de forma, Sócrates passou por 4 anos de profundo desgaste e chega às legislativas em pior estado que nunca.
É bom que os “conselheiros de Obama” se apercebam que em Portugal jamais poderão fazer um site como o do presidentes americano que angariava fundos infinitos, mobilizava voluntários (milhares deles), organizava eventos, acções de campanha. O site de Sócrates parece-me que não passará dos supostas respostas do primeiro-ministro às perguntas dos cidadãos, um belo espectáculo muito bem montado.

Quando o descaramento não tem preço


Manter o sistema de avaliação simplificado? Rever o sistema de cotas? Maria de Lurdes Rodrigues enganou-se, não está a lidar com uma classe de broncos que se fascinam com rebuçados amargos no final de quatro anos de asneiras. A ministra entendeu bem que dois dos os principais responsáveis pela derrota do PS nas eleições europeias estavam naquela sala do Altis. Um era candidato e ruma agora para Bruxelas de seu nome Correia de Campos, a outra era ela mesma entrando do hotel abalroando jornalistas sempre naquele estilo seu conhecido e chama-se. Promessas vácuas em tom de salvação a menos de três meses de legislativas já de nada servem!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O Portugalinho depois das Europeias

Parece que este vai ser um Verão Quente, com bolhas de efervescência entre o animal feroz que amansou o espírito e a bruxa má que se tornou a fada do poder para um partido que volta a correr para a São Caetano, agora que o vento fez chegar para aqueles lados o sempre mobilizador e refrescante cheiro do poder. O blog que aqui deixei há quatro meses reflectia um país bem diferente daquele que se prepara com um poderoso shot de duas eleições seguidas.
Neste tempo que passou que aconteceu ao Sócrates que ia à assembleia e tudo à frente varria? Que é dessa máquina que tudo controlava e que agora se vê aflita em cima das eleições? Desde logo Sócrates está a perder o combate à crise, perde porque Portugal é o país com mais encerramento de empresas em toda a Europa, porque tem um desemprego que pode chegar aos 11% para o ano de 2010 e perde porque os Portugueses podem não saber as estatíticas da crise, mas compreendem cada vez menos como dela poderão sair. E esta não compreensão reflecte-se no profundo sentimento de injustiça que hoje domina, materializada por casos como o BPP ou BPN que deixam qualquer um pasmado, que mostram o papel de salvador do estado, em particular no caso BPN, mas que deixam uma massa de bolsos vazios incrédula e abismada com o fosso entre as diversas fatias do país, um fosso mostrando ainda mais em todo o seu esplendor num momento destes.
Sócrates prova todo o seu veneno que foi acumulando ao longo de quatro anos, com um discurso peseudo-anticoorporações. Os privilegiados que ele tanto apregoava no passado são exactamente os eleitores que agora lhe escorregam entre os dedos: professores, polícias, enfermeiros. Os mesmos que foram esvaziados durante três anos e que chegaram a esta crise com piores perspectivas do que aquelas que possuíam quando Sócrates chegou ao poder. Este era o eleitorado base e histórico do PS perdido até não se sabe quando deixando agora o partido nas mãos do eleitorado mais que volátil do centrão. Em quatro anos Sócrates atirou pela janela trinta anos de eleitorado relativamente fiel, um autêntico feito político!
O centrão perdeu a fé em Sócrates e virou-se para Ferreira Leite, mesmo que ela não articule uma medida, fala, e bem, não o refuto, do endividamento sufocante do país, mas mesmo depois de uma entrevista em que quem se tornou pelo menos um “animalzinho feroz”, não entendi, minimamente, que pensa ela ou que julga poder fazer para o problema resolver.
Se de um lado temos um primeiro-ministro que todo o poder teve e todo o poder deixa agora esvair do outro temos uma líder do PSD que por enquanto está convencida que pronunciar a palavra “Verdade” formula um qualquer programa de governo.
É o Portugalinho em tempo de crise, ou seja o Portugalinho igual a si próprio e no seu estado crónico e permanente da última década: em crise e sem respostas, não é uma fatalidade, é um facto!

sábado, 27 de junho de 2009

Cadê deste blog?


A ausência foi longa, ao voltar a escrever para o blog senti que já não fazia isto há tempo demasiado, desaprendi, destreinei do hábito quotidiano das teclas, das palavras e dos textos. A vida universitária, apesar de muito apreciada, rouba-nos tempo para os prazeres de outrora que foram renegados e, algumas vezes, estupidamente esquecidos. O Terra de Ninguém é um destes prazeres que foi deixado à sua sorte e destino por uns largos meses, minha tão e confessa culpa! Neste tempo todo houveram eleições sobre as quais não escrevi uma linha (as primeiras em que votei com toda a inocência democrática do momento), enquanto todos vociferavam pela mudança de Sócrates ou pela Ferreira Leite cheia de Red Bull político nas veias, o Irão agitou-se, Obama consolidou-se, um avião caiu, um ícone pop morreu, o BPP tornou-se um moribundo cadáver, uns tantos feriados e dias santos passaram. Em quatro meses umas tantas cambalhotas para a frente e para trás são dadas sem que as possamos acompanhar ou escrever um mísero parágrafo sobre elas.
Sem promessas que não se possa cumprir, mas fica pelo menos o desejo de trazer, de novo, a vida a este canto da blogosfera!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Reformas: que coisa é essa?

O Estudo ontem divulgado pela OCDE acerca do futuro daqueles que por baixo do chapéu do sistema de segurança social julgavam estar é assustador.
O cenário de hoje, ou seja de salários baixos, deixa no horizonte, daqui a pouco mais de 20 anos reformas a metade do salário, ou pelos números certos da OCDE a 54% do último salário. Vejamos então o país daqui a 20 anos, altura em que os bafejados pelo Estado Social já serão poucos, neste país da Esquerda Socrática, assim como numa boa parte da Europa, teremos pessoas que trabalharam mais de 40 anos algumas delas a puderem viver a metade das possibilidades económicas que tinham antes, os outros da geração seguinte presos ao passa recibo verde e do emprego do direito zero. É assim que alguém julga caminhar para o aumento da qualidade de vida? Duvido, a erosão do Estado Social pode ter este triste desfecho, resta perguntar também com uma população que na grande maioria pode vir a ser muito mais pobre em proporção com o que hoje é ou o que foi no passado, deixa assim de puder consumir e no fundo viver tão bem como desejaria e daqui importa saber onde os mesmos que arquitectaram tudo isto esperam que venha crescimento económico e desenvolvimento? Sim de onde numa sociedade como esta pode brotar algum desenvolvimento?
Mas deliciosa é ainda resposta que o Secretário de Estado, um dos fazedores da reforma da Segurança Social deu ontem ao Estudo da OCDE quando firmou que cada um tem sempre a opção de um sistema de complementos de reforma dentro da própria social ou no privado. Apliquemos então a teoria do nosso Secretário de Estado e tomemos por base um salário líquido de 600 euros, bem dentro da média da massa salarial portuguesa. Ora um casal com dois salários deste valor e dois filhos menores estudantes, entre todo o cardápio de despesas normais era bom que alguém pudesse explicar que engenharia doméstica poderia ser essa que deixasse margem de poupança para um PPR que seja.
Seria uma loucura pensar nestes valores de reformas daqui a duas décadas, e até lá ainda acredito que alguém acordará para aquele que seria um gravíssimo empobrecimento colectivo, de um Estado Social que às vezes parece querer demitir-se de todos, dos mais velhos e dos mais novos. reformar a Segurança foi e é imporante, decisivo mesmo, mas uma reforma que não pense só para o amanhã mas que reflicta verdadeiramente nas próximas décadas.

The Kings of Convenience, I´d rather dance with you

O fim-de-semana dos robots anímicos

Fotos congresso PS de Luiz Carvalho
Tecnicamente brilhante, decorativamente excelente, visualmente pensado até ao último milímetro (desde logo a começar pelo facto de não poder filmar os congressistas de frente), em termos de apresentação uma obra de arte do mais puro e descarado marketing político de propaganda comprada a uma agência de publicidade, que me faz pensar que o António Ferro ao pé destes senhores era até um belo provinciano e um perfeito amador da comunicação. Em termos de conteúdo do mais oco e sonolento que se podia ver em discursos que oscilavam entre o medíocre e o profundamente chato. O grande líder chega, o grande líder discursa, o grande líder afirma que a sua inocência nos casos judiciais se vê nas urnas, o grande líder dispara contra a comunicação social num histerismo patético, o grande líder não fala uma vez de desemprego, crise ou dificuldades e o partido engole, bajula e agradece o Sócrates que os pôs no poder e que num fim-de-semana de congresso conseguiu dizer mais vezes a palavra “esquerda” que em 4 anos de governo.
Desde que estejamos no poder está tudo bem, o resto é perfeitamente indiferente, é assim o PS destes tempos de direita quando convém de esquerda quando os ventos mudam (ou melhor de pseudo esquerda), pincelado com aquela pinta que gostam de dar que são os modernaços achando que ser de esquerda é apenas discutir casamentos gays ou eutanásia, também o é mas será também ter um discurso social, que num congresso de tanta ostentação tenha a vergonha de olhar para o país dos 8% de desemprego, para o país que se retorce todo para caber no cinto da crise.
A síntese perfeita do congresso está naquele videozinho de publicidade reles do final do congresso que mostra as medias sociais do governo, de famílias felizes, muito melhor do que há uns anos viviam, como se tudo aquilo misturado e musicado não fosse uma espécie de sonho que Sócrates tem quando adormece, por vezes o país que se sonha ter, não é aquele que se tem. Um vídeo que não fica muito longe daquela pérola da campanha de 2005 do “Menino Guerreiro”.
E a cereja em cima do bolo: Vital Moreira, essa personagem cativante a quem me custa colar o conceito de bom candidato para uma campanha dura e difícil como vão ser as Europeias. O que já foi o homem do PC, transformou-se no verdadeiro Sócratesman, com discursos sempre aguerridamente a favor do seu governo, no fundo uma espécie de Santos Silva mas com melhor retórica e mais classe. Um candidato incógnita durante uma campanha eleitoral.
E aqui está Sócrates, a vítima segundo ele próprio, mas talvez o maior bafejado pela sorte, porque verdadeiramente no centrão ele continua a ser o único candidato a primeiro-ministro.

PS: Para sempre na memória o momento BBC Vida Selvagem de cães, galos e cavalos que parece que segundo um pitoresco congressista não são verdadeiramente bichas nenhumas, pela sua luta veemente pelas fêmeas. O PS com um ar de progressistas por fora mas com entranhas conservadoras desreguladas com o discurso que os líderes tentam passar.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A visão de Benny Hill sobre o amor

História infantil pelos olhos de Chavez





Desde já apelo a Sócrates e à dupla Pinho/Lino para que em 2009 Portugal consiga bater o record de 2008 no que se refere a visitas de Chávez a Portugal, cuja saudade já começa a apertar.
Mas tal só poderá certamente ser depois do referendo de amanhã, em que passado apenas um ano sobre a vitória do Não à mudança da constituição para eliminar as restrições ao mandato presidencial, Chávez volta à carga com a mesma pergunta em referendo em mais uma das suas tentativas para ficar eternamente no poder até cair de uma qualquer cadeira ou até os seus pés ganharem musgo debaixo da cadeira presidencial. Esperemos que o povo Venezuelano tenha de novo a coragem para saltar para além dos discursos inflamados de Chávez, ou para lá dos milhares de horas de programas televisivos que o Presidente Venezuelano tão bem sabe ocupar e diga Não à versão Latina de autoritarismo que Chávez traz consigo.

Uma foto vencedora na tónica dos tempos

Foto de um polícia entrando numa casa do Ohio, uma das muitas deixadas à pressa para trás por uma família que já não conseguia pagar o seu empréstimo. A repetição desta cena, milhares, milhões de vezez por toda a América marcou a palavra "crise" no diário de bordo de 2008.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Estado, Justiça e Igreja

O que se passou em Itália em torno da Morte Assistida (e não eutanásia neste caso) de Eluana Engluaro traz à tona da realidade uma teia que junta em si muito daquilo a que odiosamente normalmente se chama de “questões fracturantes”.
Comecemos pelo cerne da questão em si. Pessoalmente sou totalmente a favor da Eutanásia, e não alinho no tipo de discurso que defende repetidamente que os cuidados paliativos são justificação para nunca legalizar a eutanásia. Obviamente que ao Estado compete garantir uma eficiente e digna rede de cuidados para aquele que estão no fim de vida, mas respeito tanto aqueles que decidem viver confortavelmente o fim, como aqueles que não se sentem capazes de o fazer e preferem outra solução. Não caio por isso nos discursos moralistas que por aí ouvi nos últimos dias daqueles que acham sempre que vivem a vida dos outros, pensam pela cabeça dos outros e sentem as realidades difíceis pelo que os outros passam. No caso de Eluanana é ainda mais compreensível a justa decisão do tribunal Italiano. Eluana não tinha vida, tinha uma corrente a uma máquina que nunca a acordaria ou a faria voltar do Estado vegetativo em que há 17 anos se encontrava. Não estamos a falar de um caso como o do Galego Ramómn Sampedro em que o debate era mais compreensível pois falávamos de alguém tetraplégico que mantinha todas as suas faculdades mentais, estamos sim perante alguém que nem isso já conseguia manter e que se encontrava arrastada numa situação que muito poucos podem alguma vez chamar de racional ou entendível. Obviamente é difícil legislar nesta matéria.
Mas mais do que a própria questão da eutanásia, voltamos a ver neste caso a sempre estranha e difusa divisão de poderes dentro do Estado Italiano. Enquanto há bem poucos anos era a justiça a limpar todo o sistema político do país confundindo os seus poderes judiciais com o poder executivo dos governos e dos políticos, agora é Berlusconni, sempre ele, que parece que não entender o que é o poder judicial, independente das suas pressões. Felizmente alguém em Itália não é subornável ou influenciável por Berlusconni! Tudo acompanhado pela Igreja que ainda não entendeu que a separação com o Estado há muito que está feita, que a sua opinião é legítima, mas a sua inferência é escandalosa, incompreensível. Apesar da forma e do embrulho geral parece que por vezes a Igreja continua a não querer entender que as suas razões religiosas e metafísicas não se misturam, nem jamais se devem misturar com as razões de facto, livres de dogmas de Estados laicos que se desejam.
A recente posição da Igreja numa Itália onde continua a ter um papel central, ou a opinião emitida em relação aos casamentos homossexuais em Portugal são preocupantes sinais. Ninguém escorraça o papel de uma qualquer igreja na sociedade, muitas vezes meritório na área social, mas já muito passou desde o tempo do essencial poder político do Vaticano.

Aterrados do planeta Sócrates

Vieira da Silva e Teixeira dos Santos mostraram ambos que sofriam até hoje de um mal que contaminou todo o PS nos últimos tempos: Socratice aguda. Só isso pode justificar o embasbacado ar com que durante a manhã vieram a correr comentar os números que hoje se conheceram acerca da economia portuguesa. Sendo mais negativos do que o de facto era previsto Sócrates e o Governo habitaram durante demasiado tempo a estratosfera do optimismo, do país que queriam em ano eleitoral e não do país que em ano eleitoral vão ter. A economia mais forte, as finanças públicas em ordem são agora areia entre as palavras de confiança de um Sócrates que não sabe para onde se virar perante os planos de governação alterados.
Hoje Cavaco deu a tónica no ponto certo, obviamente precisamos de uma resposta à crise mas que futuro e factura para as próximas gerações? O facto é que para atacar a crise referem-se vários investimentos, sem nada definir disparando o nosos tão flamigerado défice. Obviamente que medidas sociais são mais que essenciais para um país que vai precisar delas como de pão para a boca nos próximos largos tempos, mas daqui a alguns anos (seria um delírio dizer quantos) e a crise internacional tiver passado e ainda tivermos a nossa eterna crise estrutural para resolver voltamos ao discurso do défice a 3%? Ou seja como já aqui disse olhando para o longo prazo Portugal parece amarrado a um ciclo do qual não se consegue livrar, uma economia mal estruturada, acompanhada de contas públicas fora de ordem ocuparam-nos durante quase 10 anos, depois chegou a crise internacional e quando passar a crise lá estaremos nós todos outra vez no discurso anti-défice, com os problemas estruturais de sempre. Por isso interessa saber muito bem qual a factura a deixar para uma geração que decerto não quer repetir os amargos de boca e o peso de herdar contas públicas de novo desorganizadas.
Mas falar das gerações que depois desta virão é mais profundo do que falar apenas de contas públicas. Como parte de uma geração mais nova, receio, temo que a organização social do Portugal que aos da minha geração será entregue seja bem pior que aquela que a geração que me precedeu recebeu. Num país onde estupidamente se tentam dividir os políticos entre optimistas e pessimistas talvez haja por aí um qualquer que seja acima de tudo um realista que pense no Portugal que à minha geração e às gerações mais novas será deixado, não falo da consolidação do regime democrático, ou da garantia das liberdades individuais que essas felizmente estão garantidas, mas falo isso sim, do país que não conseguiram tornar mais igual, mais justo e mais próspero. Porque cada geração tem acima de tudo a responsabilidade de deixar à geração seguinte um país melhor que aquele que recebeu, e é bom perguntar se tal está a ser feito.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Se o ridículo matasse

Não é anedota, não é um mau e barato filme de terror, mas Valter Lemos o nosso anafado Secretário de Estado da Educação deu-me uma noite de riso do melhor.
Depois de criar todas as condições para mandar umas enormes formadas de professores para a reformar, sendo aqueles que supostamente à escola mais faziam falta, o mesmo ministério que lhes abriu a porta de saída vem pedir que estes mesmos professores voltem à escola como….voluntariados. É mesmo verdade, não se trata de humor negro ou da ironia pouco refinada de Valter Lemos, é de uma displicência, de uma hipocrisia vir agora com o discurso do voluntario sobre aqueles que o ministério dispensou a todo o vapor. Vejamos se nos entendemos o ministério quis livrar-se dos professores, mas precisava deles, e agora quere-los na escola como voluntários. Complicado? Parece mas é a coisa mais óbvia do mundo para o nosso brilhante Ministério da Educação.
Delirante é ver a lista de tarefas que estes “voluntários” podem fazer na escola, autenticas funções de professor cobertas com o eufemismo de “voluntário”.
Muito gozo isto provoca, enquanto rimos escondemos a tristeza absoluta de um ministério que se acha capaz de ter o desplante e a vergonha, não há mesmo outra expressão, de emitir um projecto de despacho como este.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A geração da meia idade

É um dos reflexos da crise, na base da pirâmide estão os mil euristas e mais acima aqueles que começam a formar um autêntico exército, os reformados acabados de chegar à meia-idade. Longe do que pensariam que seria o limiar para casa vir com os papéis arrumados, são uma solução fácil para empresas que assim evitam o despedimento, gastam em indemnizações e a longo prazo poupam, e muito, em salários.
Uma geração inteira atirada o mais cedo possível para a reforma, mas vejamos as contradições de tudo isto. Ao mesmo tempo que o sector privado adianta as reformas a muitos dos seus quadros, por sua vez o Estado estica ao máximo o limite das reformas no sector público, aplicando-o a todas as carreiras indiscriminadamente, como se todas fossem iguais, como se o Estado não tivesse ele próprio uma infinidade de diferentes carreiras. Por um lado uns a atirar pela janela aqueles que supostamente mais experiência têm por outro um Estado que espera ter funcionários a arrastarem-se pelos corredores para todo o sempre, a dicotomia no seu melhor!
Entre todos um batalhão de funcionários públicos, fartos cansados de tanto disparate e asneira, basta olhar para o caso dos professores que vêem que nada ganham em ficar a aturar as loucuras de um qualquer ministério que mesmo que efémero muita moça vai causando.
Entretanto como fosse a coisa mais natural do mundo o país atira assim ao vento os que deveriam, ou supostamente eram os seus quadros mais qualificados, mas com isso ninguém se parece importar muito.

Um caso como a roupa de outlet, com defeitos a mais




A semana não deu mais nada, o Freeport tornou-se o porto das tormentas para Sócrates, Mas a crise que nos vai congelar o crescimento nos próximos tempos está ela própria congelada politicamente, fruto do descongelamento do caso que tem entalado Sócrates de dia para dia. O facto é que a teoria da cabala, da perseguição, ou das “forças ocultas” (não sabia que tínhamos um primeiro-ministro tão esotérico) não ajuda em nada a resolução do caso e antes de fazer discursos de mostrar as garras e os dentes Sócrates devia-se empenhar já e rápido a esclarecer tudo o que há para esclarecer com factos concretos. Não o fazendo deixa tal tarefa para a investigação, tarefa essa que se pode arrastar demasiado no tempo e estender-se para lá das eleições.
Entre tantos soudbytes Sócrates ainda não explicou as questões essnciais: o porquê da ZPE ter sido mudada quase a régua e esquadro para lá entrar o Freeport? Como se aprova um projecto destes à porta de eleições? Quantas reuniões houveram de facto e em que circunstâncias? ( e tenham paciência mas a teoria de Sócrates do esquecimento apenas aumenta a neblina em torno disto tudo) e por fim sabendo pelo tio de uma alegada tentativa de extorsão em troca da aprovação do projecto porquê que o então ministro não enviou o caso para a procuradoria?
Sócrates de nada é culpado e de nada foi acusado, mas perante um caso que já é tanto político como judicial o primeiro-ministro não pode dar aquele tipo de respostas. Em primeiro lugar se existem as tais “forças ocultas” quem são elas? A polícia inglesa que supostamente o aponta como suspeito numa dada carta rogatória? Bem se as “forças ocultas” de Sócrates são essas então estamos perante uma acusação gravíssima de um chefe de governo de um país à polícia de um outro país. Se por sua vez as “forças ocultas” de Sócrates são os jornalistas, o primeiro-ministro então ainda não apreendeu, desde o caso da licenciatura, o que é jornalismo e deve continuar ingenuamente à espera que perante um caso destes a comunicação social fique de braços cruzados, o que não aconteceria nem aqui nem em outro lugar qualquer do mundo. Por isso resta a Sócrates uma de duas, ou antes do caso se adensar num clima insuportável (que já existe) esclarece tudo para já ou deixa o caso arrastar-se e aí ficamos embebidos nisto tudo até às eleições legislativas, isto para não falar das Europeias daqui a pouco mais de 4 meses de distância e que podem já levar o caso Freeport a reboque.

Portugal precisa cada vez mais de umas sessões de divã, entre as dores agudas da crise e os esgotamentos nervosos causados por processos judiciais mediáticos e intermináveis, recomenda-se ao país o consumo urgente de uns fortes anti-depressivos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Quando tivermos de novo o Terreiro do Paço avisem




Depois do calvário de mais de uma década com obras do Metro, pouco tempo depois do cais das colunas voltar ao local do qual esteve, demasiado tempo afastado, as obras, surpresa das surpresas voltaram ao Terreiro do Paço. O motivo até parece justo, visto que pretendem construir umas condutas de esgotos, mas para qualquer Lisboeta começa a ser desesperante tanta obra, estaleiro e tapume numa zona nobre da cidade. Mais uma vez o Terreiro do Paço sempre adiado adiado! Já não surpreende!

Fotos via TSF online

Around the world: “Stand by me”


Na Semana Obama, um filme, também ele, inspirador, via Revisitar a Educação

Temos três eleições, mas que queremos delas?


Já sabemos e já estamos deparados com os primeiros sopros de campanha de 2009, um ano recheado de eleições. Mas em época de tão animado fluxo de sufrágios que esperamos nós da avalanche de votos que aí vem? que queremos nós filhos deste fadista país em ano eleitoral?
Relembremos as últimas eleições legislativas, um Santana que dizia adeus e o emergir do animal feroz Sócrates, electrizado pelo choque tecnológico, de ar empreendedor dado pelas Novas Fronteiras que revelaram, entre outros, Manuel Pinho (mal sabíamos que surpresas nos revelaria Pinho ). Era o Sócrates que diz que não aumentaria um imposto, pois não seria assim que se combateria o défice mas sim pelo reanimar da actividade económica, era o Sócrates do Referendo ao Tratado Constitucional Europeu, em suma o Sócrates das esperanças depois do país abandonado por Barroso e entregue a Santana. Soam a longínquos estes tempos não soam? Mas não são, passaram meros 4 anos, hoje as promessas dos impostos que não subiriam esfumaram-se, chegamos com uma economia de rastos a 2009, um país mas afundado na sua pobreza crónica, um Estado que não se reformou, um sistema de apoio e serviços sociais que não melhorou, a sustentabilidade da Segurança Social conseguida, resta saber daqui a alguns anos a que troco de quebra nas reformas e pensões. Quatro anos depois da ilusão que poderemos pedir agora? Sócrates apresenta uma moção que julga que com os casamentos gay chama alguma esquerda de novo ao PS, sendo um tema essencial e que podia estar há meses resolvido, não fosse a hipocrisia desacarada e cheia de lata do próprio primeiro-ministro. A verdade é que a esquerda à esquerda de Sócrates, que é muita e parece cada vez mais, não esquece ou dificilmente esquecerá até às legislativas a barafunda na Educação, o fecho de serviços de Saúde as reformas de um Sócrates autoritário.
4 anos depois que confiança podemos ter no programa que Sócrates levará agora a legislativas? Depois de 4 anos em que tudo o que era caminho em 2005 parece ter-se esfumado. Em tempos de crise em que o horizonte é nublado será mais interessante que nunca saber que cambalhotas darão as campanhas de Sócrates e Ferreira Leite para arranjaram as promessas da praxe, numas eleições que ocorrem em tempos que em tudo fogem aquilo que é da praxe, em aperto financeiro, em restrição económica que poderá Sócrates, o homem dos últimos 4 anos trazer a um país por ele próprio desalentado? Que poderá trazer Ferreira Leite, alguém que há mais de 20 anos gravita em torno do poder? Um e outro são gastos, vazios, ideologicamente ocos, em tempos em que ideias definidas eram mais precisas que nunca. Pelo meio um bloco que cresce e se consolida, e um Portas a espreitar ao Centro, com uma oposição aguerrida, mas que passadas eleições não se coibirá, decerto, a dar a mão parlamentar ao PS.
E entre jogos e campanhas eleitorais de governo central, eleições europeias, e autarquias, que querem os Portugueses? Chegámos ao fundo do desalento, da falta de acreditar em palavras e rumos infinitamente prometidos e que não sabemos mais onde nos levará, depois de dez anos de crise interna somos brindados com a crise internacional, nós e todos o mundo. É politicamente correcto ser-se optimista, mas a época convida mais a um pessimismo politicamente incorrecto de um país que encravou sem data marcada para arrancar de novo.


PS: É um texto com muitas perguntas, eu sei, fruto da estação, que este ano deu mais perguntas que respostas ao que aí vem.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O ano Horribilis

Está aberto desde o início do ano o concurso para quem consegue caracterizar com a melhor frase o dantesco ano que parece que este vai ser, até agora confesso que gosto especialmente do “Cabo das tormentas” de Sócrates. O nome pode ser epopeico, mas a epopeia de hoje parece ser aguentar todo um pais que pode ver uma sua grande fatia afundar-se no desemprego (especialmente em desemprego de muitos que são novos para se reformar e velhos demais para um mercado de trabalho em crise), e assim na miséria daqueles que não aguentarão as despesas e encargos de um dia a dia que não saberão gerir.
A reportagem da revista do DN do passado fim-de-semana é absolutamente assustadora, como afirma Isabel Jonet, responsável do Banco Alimentar contra a Fome, nessa mesma reportagem, Portugal apresenta cada vez sinais não de “atraso, mas de subdesenvolvimento”, os números que por ela são apresentadas são um reflexo que nenhuma estatística pode escamotear ou esconder a realidade de facto. Num ano o Banco Alimentar contra fome passou do apoio a 200 mil famílias para as 250 mil, muitas instituições de solidariedade ameaçam a ruptura completa, agora que a mão antes amiga das empresas começa a escorregar puxadas pelas contabilidade rígida de empresas, elas próprias perante uma crise que não entendem e para a qual não estavam preparadas.
O cenário que nos desenham instituições internacionais promete-nos uma crise até 2010/2011, até lá que fazer a esta massa de muitos que à pobreza chegam? A verdade é que o Estado terá irremediavelmente que os apoiar, para não mergulharmos num período social ainda mais complicado. Mas pensemos no pós-crise, quando a recessão começar, levemente, a passar, nessa altura estaremos de novo, muito provavelmente, com um alto défice, entretanto lá avançaram umas tantas obras que podem endividar ainda mais o Estado e resta perguntar se nessa altura voltamos à estaca zero? Ou seja parece que nessa altura poderemos estar confinados, de novo, ao discurso do défice alto, do apertar do cinto e do novo toque para reorganizar as constas públicas. Será que temos que estar sempre presos neste ciclo sem fim?

Uma historia muito Queirosiana!

Imaginar as histórias rocambolescas da política do Conde D´Abranhos de Eça ou pensar no mais recente episódio de Sócrates e sua família leva-nos a pensar que o país pode não ter mudado assim tanto nos no último século. Tudo está longe de se confirmar, e se de facto tal vier a verificar-se é o caso mais grave a envolver Sócrates, mais que a duvidosa licenciatura ou os mamarrachos que assinou durante os seus tempos na câmara, mas se tal vier a acontecer, faz-nos lembrar que ser amigo do cunhado, do irmão do tio de fulano ou sicrano continua a ser posto, poleiro de onde se pode pedir uns favores de ego inchado por ser qualquer coisa ao senhor ministro!
Como pouco mudou desde os romances queirosianos em que amigos e família se rodeavam do senhor ministro Abranhos em troca de um qualquer favor.
Sócrates ao fim deste terceiro caso será provavelmente ele próprio o melhor retrato de um certo país, longe da imagem de modernidade que lá tenta passar: a licenciatura que lhe calhou caída do céu, os projectos do mal ordenado Portugal do interior e agora o possível favorzinho ao tio.
O que vale é que Eça tinha sempre aquela palavra que assenta sempre como uma luva nestas ocasiões: choldra, de interesses, de favores, do pequeno conhecimento e contacto que sempre nos caracterizou.
O Caso Freeport pode dar em muito ou não dar em coisa nenhuma, mas pelo menos três grandes perguntas ainda estão a milhas de serem explicadas: 1: Qual a lógica de aprovar um projecto como o Freeport à porta de eleições? ; 2: Como é que Sócrates pode não se lembrar se a reunião foi ou não marcada a pedido do tio, era algo assim tão normal ou o então ministro desvalorizou um projecto desta dimensão?; 3: Que tipo de aprovação e em que condições esse mesmo aval foi dado ao projecto?
E tudo pode de facto nada ser e Sócrates sair sem qualquer culpa, que na realidade pode não ter tido em todo este caso, até lá a sua imagem vai-se desgastando, num ano em que ele próprio e o país nada têm a ganhar com isso.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Não congelei em 2008, mas bem me apetecia tê-lo feito.

Não, não desapareci, nem renunciei às lides blogueiras, apenas deixei-me noutros afazeres desde o Natal, deixando assim o blog ainda preso ao ano antigo, talvez uma reacção freudiana qualquer desejando saltar por cima de 2009, em que navegar à vista e temer o desconhecido parecem ser as tónicas daquilo que pouco mais podemos fazer mergulhados no pessimismo crónico e justificado do país e do mundo.
Mas agora que descongelei e voltei aqui a aterrar, já 2009, espero eu que três eleições, o primeiro ano de Obama e a crise económica que por cá irá ficar alimentem muitos posts do Terra de Ninguém.