sábado, 19 de julho de 2008

Mergulho no descanso


O Terra de Ninguém parte para férias fugindo dos calores apertados de Lisboa nos últimos dias. Nas próximas três semanas encontrarei refúgio na república das bananas de Alberto João, ou seja vou a banhos para terras madeirenses.
Prometo postagens lá para meio de Agosto e tentarei vir ao blog sempre que possível antes de entrarmos todos em rentrée lá mais para Setembro.
A todos os leitores do Terra de Ninguém, e se for caso disso, desejo umas excelentes férias e aproveitem bem o descanso como bons veraneantes.

Cumprimentos

Pedro Freitas

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Os moralizadores de serviço

Alguém na Direcção Geral da PSP tem um dote para o moralismo barato e para decretar e impor o seu próprio gosto. Parece que a direcção da PSP emitiu um decreto no qual regulamenta a aparência do polícia “condigno” e tal inclui directivas acerca do tamanho de cortes de cabelo, bigodes e patilhas. Ou seja o típico polícia português de bigode está assim ameaçado de extinção. Mas há outros pormenores deveras interessantes no decreto que proíbe também o uso de piercings e tatuagens por parte dos agentes. A justificação para tanta preocupação com a aparência baseia-se na justificação que os polícias e cito “para serem sérios têm de parecer sérios”. Ora esta frase vinda de um organismo do Estado é do mais questionável que pode haver, ou seja para uma entidade pública não são sérios, ou pelo não aparentam, aqueles que usam piercings e tatuagens numa regulação do bom gosto que soa muito mal.
E digo isto sem simpatizar minimamente com tatuagens e com muitos dos piercings que para aí andam, mas este tipo de frases para justificar estes decretos têm muito que se lhe diga.

O fim das ilusões

Costuma dizer-se que se numa crise o problema é bater no fundo, que o façamos o mais rapidamente possível, pois também mais rapidamente poderemos começar a recuperar. Durante os últimos anos já vários foram os supostos momentos em que batemos no fundo, já foram várias a retomas anunciadas, Santana (eterna saudade!) até anunciou o fim da crise e Sócrates teria feito o mesmo se não lhe tivessem trocado as voltas. Das duas uma ou já batemos várias vezes no fundo e cada vez que o fazemos vamos cada vez mais abaixo, ou ainda não chegámos ao momento do verdadeiro choque, não sabendo, e talvez o mal esteja exactamente aqui, o mínimo cenário de quando poderá acontecer.
As ilusões dos portugueses parecem como uma luz que nos últimos anos foi enfraquecendo, uma luz que perdeu a luminosidade quando Guterres, em nome do pântano, que afinal sempre veio, com ou sem ele, bateu com a porta. Barroso foi o choque da tanga e a partida e malas feitas à pressa para Bruxelas, Santana foi o nosso divertimento, uma espécie de intervalo da crise que deu par soltar umas gargalhadas políticas únicas e chegou Sócrates. E não neguemos em 2005, o país levou uma injecção de optimismo, de esperança, chamemos-lhe mesmo de algum horizonte. Em Fevereiro de 2005 levamos um abanão com o desejo que alguma coisa mudasse.
Ilusões? Provavelmente, são típicas de qualquer eleição, hoje três anos depois andamos com o sentimento que chegámos todos ao fim a linha. Quando Barroso anunciou a crise, a folga por onde agir ainda era grande, a folga foi desaparecendo à medida que a crise foi ficando, e atingimos o ponto de saturação, já esticamos e resticamos os bolsos. Mais impostos seria suicidário, funcionários públicos não são aumentados a par da inflação há longos anos, o Estado quer fazer investimento, mas desconfiamos que pouco dinheiro tem, mas por outro lado o investimento privado não mexe um milímetro que seja e o consumo já não é mais o motor para crescimento económico.
Este é ainda o país onde sem Estado nada avança, ficando tudo eternamente à espera que os bolsos públicos se abram.
As previsões de hoje do Banco de Portugal matam as previsões optimistas para os próximos tempos. Resta saber: quanto tempo mais teremos que esperar?

As desculpas depois do histerismo

Televisões e jornais Britânicos preparam-se para indemnizar Robert Murat e desfilarem um rol de pedidos de desculpas ao Inglês da praia da Luz. Murat foi o suspeito que serviu para arrastar o caso mediaticamente mais umas quantas semanas, com jornalistas que correram sofregamente para a sua porta mal souberam da sua suposta acusação.
Maddie era (e é) um caso naturalmente mediático, ninguém o poderá alguma vez contestar, mas Murat e a sua prisão, pelo menos pela falta de acusações contra ele até agora, mostram o desvario de comentadores, criminalistas e psicanalistas das mais mirabolantes coisas que foram invadido qualquer canal de televisão naqueles dias de Maio de 2007.
Espero que fique a lição, mas parece que não, a especialidade recente dos telejornais à portuguesa é a criminologia de cordel tratada como um caso de novela barata fosse. Passam-se minutos a descobrir a mente secreta dos criminosos a decifrar os mundos cerebrais das vítimas. Maddie foi o início desta mistura de sentimentalismo de lágrima fácil e suspense para apimentar. É um jornalismo demasiado híbrido e cujas consequências estão à vista, um homem suspeito de nada, um polícia (Gonçalo Amaral) chutado da investigação não se sabe muito bem porquê e, o principal, uma rapariga de quatro anos, que apesar de tudo, continua desaparecida.

domingo, 13 de julho de 2008

O senhor que por cá esteve

Bob Dylan com Blood in my eyes

A surpresa para os pacatos Portugueses


Foto do Público

Os bonitos hábitos Portugueses de floreira à janela não estavam muito habituados às cenas de revolver e bazuca na mão que há dias assistimos. Podemos dizer que é um caso isolado, mas não chega para nos convencer que os arredores de Lisboa, desenhados de forma industrial, sejam lugares sossegados onde isto são apenas episódios esporádicas. Os subúrbios são sujos, mal tratados, inseguros, pouco apetecíveis para quem lá trabalha.

Podemos culpar muitos por tudo isto, os que os projectaram estes bairros e lhes conferiram aquele ar labiríntico e de aspecto duvidoso. Basta olhar para alguns dos concelhos à volta da capital que construíram enormes torres metidas no meio de nenhures para albergar os milhares que se encafuavam em barracas. Podemos também culpar a falta de direcção que foi dada a estas espécies de habitações, havendo muitos que se convenceram que chegava dar casa a estas massas de gente para que os problemas desaparecessem, não, pelo contrário, os problemas simplesmente mudaram de sítio, de umas barracas porcas e fedorentas para umas casas mais apresentáveis. Mas, e não podia deixar de responsabilizar os que nestes bairros vivem, não todos, obviamente, mas uma parte que os transformam em cantos para todo o tipo de actividades, tantas vezes muito pouco transparente, deixando o pânico nas vidas dos restantes que pensaram que poderiam sonhar com aquele lugar comum: “casa nova vida nova”.
É levemente assustador pensar como é que aqueles homens do vídeo tiveram acesso a todas aquelas armas, como se fosse uma coisa natural cada vizinho esconder a pistola debaixo da almofada.

Mas olhando para estes bairros também nos devemos lembrar daqueles que lá trabalham e recordar que a agora ainda mais afamada Quinta da Fonte fica paredes meias com a tal Escola Básica que a RTP filmou há um ano em que alunos faziam da sala um autentico Jardim Zoológico (desculpei a imagem mas não há outra possível), mas agora perguntamos aqueles professores foram treinados para enfrentar estes casos de violência? Não, muitos destes professores foram chutados para ali porque mais ninguém queria lá ensinar (algo já de si difícil de fazer num ambiente destes), são professores destreinados metidos na boca do lobo. Como hoje me sugeriam, pessoas altamente preparadas e treinadas têm que ser injectadas nestes locais para que algo possa mudar nestes sítios. Professores com currículos comuns nestes locais? Não, mas equipas de professores especialmente formadas e preparadas para enfrentar estes alunos, para que possam segurar o funcionamento de uma escola com uma equipa altamente especializada. Um corpo policial que seja capaz de responder a estas situações, e com isto não estou a defender que se envie para estes guetos, 24 horas por dia, equipas de polícias encapuzados ou de metralhadora às costas, mas polícias que estejam preparados, até psicologicamente para enfrentar isto. Podem dizer-me que isto é como individualizar o bairro e tratá-los como diferentes, mas diferente já esta triste realidade é.

É sempre difícil escrever um texto sobre estes assuntos corremos sempre o risco ou de ser chamados de direitistas radicais, que gostamos da política da pistola, ou de laxistas que deixamos tudo andar. Não sou nem uma coisa nem outra, mas defendo uma política que reconheça estes problemas, não tenha medo de treinar pessoas para lidar com situações que são verdadeiramente especiais e entender, de uma vez por todas, que realojar não é resolver todos os problemas, porque esses lá continuam.

O Estado de sonolência da Nação

Debate do estado da nação, alarido durante dias acerca daquilo que Sócrates poderia levar para a Assembleia, em torno do debate mil e uma conjecturas, mil e uma versões que passavam desde o transformar no momento épico da legislatura a resumi-lo à prometida e pouco concretizada luta de wrestling entre Paulo Rangel e Sócrates.
Tanta expectativa, tantos debates preparatórios para o debate final e no final serviu apenas para ocupar uns tantos minutos de telejornal com os resumos, porque, diga-se, nada mais havia para dizer.
O país entrou em mera gestão financeira, não sabe investir em mais nada a não ser em betão e quando as obras em betão são questionadas, parco é o engenho para além disso ir. Se obras houverem, muito contestadas serão, não dando aquele toque magnificente doutros tempos, resta seguir com o vento, aguentando os tostões contados. O Debate da Nação, se mostrou alguma coisa, foi que daqui até 2009 Sócrates começará a campanha e pouco mais mudanças avançarão e pouco mais se dirá, a palavra de ordem daqui até eleições é aguentar o barco, esperando que não haja muitos mais rombos no casco de um país com demasiados buracos por tapar.

terça-feira, 8 de julho de 2008

“Lisboa o que tu eras e o que tu és, hoje tudo está virado para os pés”


Sou um alfacinha confesso, que adora deambular entre o Chiado e baixa, que gosta dos encantos de subir aos castelo e que não se cansa de andar por muitas das ruas da cidade.
Ontem não pude deixar de me colar à televisão enquanto via arder dois prédios da Avenida da Liberdade alimentando durante muito tempo, o medo de ver ali retratado o Chiado incendiado que apenas conservo no imaginário, alimentado pelos relatos daqueles mais velhos que assistiram ao acontecimento que marcou a vida da capital no final dos anos 80.
Mas por muito que goste da baixa, difícil não será reconhecer que a cidade está velha, suja e maltratada, com pequenos barris de pólvora que se vão enchendo. Há dias passando numa das paralelas à rua Augusta de um lado e doutro dois armazéns abertos nas caves dos velhos prédios pombalinos. Discretamente olhei e de fora apercebi-me que lá dentro se acumulavam um número incontável de bocados de madeira e trapos velhos acumulados e que seriam o alimento perfeito para qualquer fogo que ali queira parecer.
A cidade cheira mal, a baixa invadiu-se de lojas dos trezentos, pouco mais que a rua Augusta sobrevive (até a mítica Loja das Meias se foi embora), na Praça da Figueira quem olha para os prédios que a rodeiam encontra telhados podres, lascados pela passagem dos anos e que há muito deviam ter sido mudados. A reabilitação urbana é mentira, há anos que vários prédios ostentam umas faixas com grandes parangonas prometendo a sua recuperação e até agora nada. Basta andar pela Fontes Pereira de Melo, com dois edifícios mais que velhos e degradados, ambos tapados ou por anúncios do BES ou pela publicidade da Câmara dos tempos de Santana. Em Lisboa os problemas não se resolvem, tapam-se, escondem-se para não mostrar aos turistas as vergonhas da capital.
Não vale a pena voltar a aqui a fazer um cardápio dos problemas de Lisboa, a metáfora do que é a capital estava ontem naquele incêndio, prédios velhos, esquecidos à sorte do tempo; velhos e idosos, os resistentes do centro da cidade, evacuados à pressa, numa cidade que ontem se encheu das luzes brilhantes das sirenes, a contrastar com o deserto habitual que Lisboa é à noite, onde nada se vê e a cidade morre.
Os que gostam de Lisboa, esperam que um dia não tenham mais que temer aquilo que ontem recearam: que uma parte de Lisboa se esfumasse pelo fogo. Talvez assim algo fosse feito, porque por agora nada é mudado!

sábado, 5 de julho de 2008

Quando o desrespeito vem de cima


Soubemos ontem as médias dos exames de cada disciplina a nível Nacional. Seria difícil o Ministério da Educação lembrar-se maior desrespeito, de maior falta de consideração por todos os alunos. Maria de Lurdes Rodrigues e o seu Ministério preferiram o fim-de-semana de fogo de artifício e regozijo com as notas dos exames de Matemática, cuja média subiu 4 pontos, um verdadeiro fenómeno da Natureza. É do governo de Sócrates dá outra vontade estudar aos alunos, outro ânimo que até agora não existia. Mas há conta da propaganda passou-se por cima de alunos que só segunda feira saberão as suas notas, ou seja primeiro diz-se ao país as notas a nível nacional e só depois os alunos sabem as suas notas passando estudantes e famílias um fim-de-semana nas mais loucas conjecturas. Para entendermos a estupidez e a falta de, e não tenho outro termo, de educação desta publicação das médias é, em analogia, como se um professor fizesse um teste chegasse à turma na sexta-feira e dissesse a média da turma, mas no minuto seguinte acrescentasse que as notas individualmente só seriam reveladas na segunda. Mas isto cabe na cabeça de alguém? Maria de Lurdes Rodrigues disse que queria uma época de exames calma, acabou de fazer outra asneira, mas desta vez demasiado grave, é incrível como com a febre de revelar resultados passou-se por cima dos alunos que só na segunda saberão os seus resultados. Nada interessa, os alunos são irrelevantes, a agenda política parece que não podia esperar dois dias. O nosso empenho para exames resulta nisto, é esta a perspectiva do Ministério da Educação acerca do que é ter respeito pelos seus alunos. Demasiado triste e demasiado mau para ser verdade!

O Salto



Há dois dias no Toda a Verdade da SIC Notícias passava uma reportagem em que dois jornalistas se infiltraram num grupo de emigrantes ilegais que sonhavam dar o salto para esse mundo Europeu que desejavam encontrar em Espanha.
Torna-se tremendo quando traduzidas para a materialidade cada uma daquelas histórias que ouvimos falar sobre a emigração ilegal para a Europa. Histórias vividas, mostradas na pureza da forma como aconteceram.
Senegaleses, Guineenses, Marroquinos nas mãos 15€, o resto, o pouco resto que tinham foi desaguar às mãos daqueles que supostamente lhes ajudariam dar o salto. Em troca de tudo o que aqueles homens tinham é lhes dado um motor fumarento, meia dúzia de tábuas para a construção da sua nau coberta de cola espessa para a impedir a maldita da água de entrar. Tudo acompanhado por uma bússola desregulada que lhes levaria ao outro lado do Mediterrâneo.
Dias de viagem até à costa Marroquina, resta-lhes o pão misturado em água como único alimento, a areia e a paisagem árida como sítio de dormida. Primeiro dia, barco vira, motor falha, em plena noite todos tentam voltar à costa, todos tentam, mas nem todos conseguem, dois ficam no Mediterrâneo, deverão aparecer dias depois na costa de Espanha, onde tanto quiseram chegar, alguém os recolherá e os enterrará nos cemitérios que agora se invadem de campas que apenas mostram a inscrição: Imigrante, tudo o resto, que fazia a história destes que morreram já ficou para trás. Na primeira frustrada tentativa muitos perdem as roupas, a um resta-lhe pegar em duas garrafas, enrolá-las em corda e deles fazer um par de chinelos, é com eles que chegará ao outro lado do mediterrâneo, para ele será como chegar ao outro lado do mundo.
Segunda tentativa doze horas de viagem, baldes de água atirados durante toda a viagem impedindo que o frágil barco se afunde, um motor que pouco aguentou, um barco da Guarda Civil que os detectou, sem desespero entregam-se sabem que sem revelar a sua nacionalidade jamais serão deportados, mas ficaram presos e quando a luz do dia virem de novo nada terão para os fazer viver no lugar onde tanto quiseram chegar.
Ao ver uma reportagem como esta estremeço quando oiço Sarkozy no início da Presidência Francesa da União dizer que tem ideias para a (i)emigração, estremeço porque vem da boca daquele que fez aprovar a mais recente lei Europeia sobre Emigração. Estes emigrantes já passam por desumanidades suficientes não precisam de chegar à Europa e passar meses a fio numa prisão, sem nenhuma acusação, presos porque simplesmente estão presos. Depois de despojados do pouco dinheiro, a Europa parece querer despojar-lhes dos poucos direitos que sonhavam que aqui iriam ter. Uma lei tristemente verdadeira para ter sido aprovado numa Europa que pensámos teria valores diferentes!

O Espartilho


As senhoras do século XIX espremiam as suas pobres caixas torácicas em espartilhos que elas sonhavam sempre que lhes poderiam tirar mais aquela ponta de gordura, acabando presas na rigidez do seu próprio corpo. Pobres senhoras que apertadinhas viveram durante tantas décadas, e pobres de nós que vivendo dois séculos depois, espartilhados vivemos à espera de uma qualquer mudança que nos dê de novo ar para respirar.
Em 200 anos as mulheres largaram os espartilhos e partiram para o soutien, há duzentos anos Portugal era pobre e pobre ficou e pobre está, e hoje como no passado não largámos mais o nosso espartilho, que voltou a apertar quando o Banco Central Europeu decidiu aumentar as taxas de juro de novo há dois dias. Chegámos ao triste momento em que ou travamos a inflação galopante ou mantemos as taxas de juro e assim tentamos gerar alguns empregos e um tanto crescimento económico. Os dois? Um sonho, essa quimera que não poderemos ter, ainda para mais quando vivemos uma crise de mercados enlouquecidos.
O aumento da taxa de juro de há dois dias e o outro aumento que se espera até ao final do ano fazem engolir as ajudas de Sócrates, afogando para um buraco negro os bem endividados bolsos Portugueses.
Mas regressando ao Portugal de há 200 anos, o tal em que as senhoras usavam espartilho, aquele era o Portugal dependente da vontade dos Impérios que faziam soprar os ventos que corriam no velho continente. Passados duzentos anos continuamos, e como Medina Carreira referiu há dois dias na SIC Notícias, como um barco à deriva levado pelas marés Europeias. A Europa cresce? Crescemos também. A Europa entra em recessão? Entramos nós também, tão dependentes, tão vulneráveis que continuamos, incapazes de alguma mudança estrutural produzir, incapazes de mudar o valor médio de 800€ de salário médio mensal que nos eleva a país com ordenados mais baixos da OCDE.
Em Portugal o espartilho nunca passou de moda, teve e continua a ter sempre uma nova versão. E lá vamos nós no aperta aperta a desafiar a nossa resistência até ao dia em que o pobre do espartilho já não tiver mais por onde apertar.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

E Sócrates falou.

Não vi a entrevista de Sócrates, confesso a fuga do sofá, involuntária, quando o nosso primeiro-ministro falava à nação. Mas já ouvi uma série de trechos e Sócrates ia com objectivos bem medidos para a entrevista. Desde logo baixar expectativas, ou seja face ao quadro baixar os horizontes e perspectivas do governo, deixando claro que tanto ele como o PS já entenderam bem que o planeado caminho de glória até às eleições será tudo menos verdade e que daqui até às legislativas a situação económica estará longe de ser brilhante.
Mas 2009 está a bater à porta e notou-se bem e Sócrates trouxe duas propostas inteligentes. Primeiro as deduções fiscais com os encargos da casa para os mais pobres e ainda a intervenção sobre o IMI. Aqui, sem dúvida, o Menino de Ouro do PS acertou o alvo, atingindo a maior despesa de muitas famílias com dívidas até á pontas unhas: a casa e escolheu o imposto que mais formigueiro causa a muitos portugueses: o IMI, excessivamente alto e que continua a ser o prato favorito para a alimentação das autarquias.
Depois Ferreira Leite, Sócrates entranhou bem que Ferreira Leite é suficientemente inteligente para espicaçar o seu eleitorado, mas hoje ele mostrou como a nova líder do PSD vai ter que ser altamente treinada para conseguir passar ideias em debates e entrevistas, em que deixa algumas coisas ditas, mas acaba por perder-se. Pouco arrisca e pouco concretiza.
Mas Sócrates deixou umas quantas frases onde se denota bem o que ainda pensa que deve estimular o desenvolvimento do país. Os investimentos públicos são assim na sua visão despertadores para a economia do país e que mostram que o governo “não desistiu do país”. Mas apetece perguntar não desistir do país é ir fazer estradas? é construir um aeroporto? É avançar de cabeça para o TGV? Isto é que é investir no país? isto é verdadeiramente pensar num Portugal Sustentado? No fundo é a visão de sempre, que o país só sabe crescer, só sabe renascer das cinzas se há sua frente aparecer a cenoura das obras públicas, que alimentam as empresas por um tempo, criam uns postos de trabalho que depois se esgotam e deixam o país com as facturas para pagar. Alguns dos investimentos até podem ser racionais, mas duvido que todos consigam resolver os dramas e a miséria que vai definhando o país. Custa a crer que seja com obras públicas que daqui a 20 anos o país deixe de ser o mais desigual da União, tem que haver, só pode haver outros e diferentes horizontes em que gastar o nosso parco dinheiro, isto se não quisermos repetir e ter os mesmos debates e a mesmas preocupações daqui a uns anos.

A Liberdade de Ingrid


Ingrid Betancourt, ao fim de 7 anos, foi hoje finalmente libertada, era um dos casos mais revoltantes de uma mulher que continuava uma autêntica presa política aprisionada no meio do mato pelas FARC. É longa a história de Ingrid, com tentativas de Franceses e mais recentemente de Chávez para a sua libertação. Uma boa notícia para uma Colômbia que continua tudo menos a viver em paz.

60 Anos depois da ponte área que abasteceu Berlim


Já vou ligeiramente atrasado, mas não poderia deixar de aqui lembrar as seis décadas sobre um dos acontecimentos que marcou ainda mais a divisão da Alemanha e da Europa rasgada a meio. Fica aqui este vídeo de propaganda britânica da altura que reflecte bem o enorme esforço que foi a Ponte Área de Berlim.