quarta-feira, 4 de março de 2009

Reformas: que coisa é essa?

O Estudo ontem divulgado pela OCDE acerca do futuro daqueles que por baixo do chapéu do sistema de segurança social julgavam estar é assustador.
O cenário de hoje, ou seja de salários baixos, deixa no horizonte, daqui a pouco mais de 20 anos reformas a metade do salário, ou pelos números certos da OCDE a 54% do último salário. Vejamos então o país daqui a 20 anos, altura em que os bafejados pelo Estado Social já serão poucos, neste país da Esquerda Socrática, assim como numa boa parte da Europa, teremos pessoas que trabalharam mais de 40 anos algumas delas a puderem viver a metade das possibilidades económicas que tinham antes, os outros da geração seguinte presos ao passa recibo verde e do emprego do direito zero. É assim que alguém julga caminhar para o aumento da qualidade de vida? Duvido, a erosão do Estado Social pode ter este triste desfecho, resta perguntar também com uma população que na grande maioria pode vir a ser muito mais pobre em proporção com o que hoje é ou o que foi no passado, deixa assim de puder consumir e no fundo viver tão bem como desejaria e daqui importa saber onde os mesmos que arquitectaram tudo isto esperam que venha crescimento económico e desenvolvimento? Sim de onde numa sociedade como esta pode brotar algum desenvolvimento?
Mas deliciosa é ainda resposta que o Secretário de Estado, um dos fazedores da reforma da Segurança Social deu ontem ao Estudo da OCDE quando firmou que cada um tem sempre a opção de um sistema de complementos de reforma dentro da própria social ou no privado. Apliquemos então a teoria do nosso Secretário de Estado e tomemos por base um salário líquido de 600 euros, bem dentro da média da massa salarial portuguesa. Ora um casal com dois salários deste valor e dois filhos menores estudantes, entre todo o cardápio de despesas normais era bom que alguém pudesse explicar que engenharia doméstica poderia ser essa que deixasse margem de poupança para um PPR que seja.
Seria uma loucura pensar nestes valores de reformas daqui a duas décadas, e até lá ainda acredito que alguém acordará para aquele que seria um gravíssimo empobrecimento colectivo, de um Estado Social que às vezes parece querer demitir-se de todos, dos mais velhos e dos mais novos. reformar a Segurança foi e é imporante, decisivo mesmo, mas uma reforma que não pense só para o amanhã mas que reflicta verdadeiramente nas próximas décadas.

The Kings of Convenience, I´d rather dance with you

O fim-de-semana dos robots anímicos

Fotos congresso PS de Luiz Carvalho
Tecnicamente brilhante, decorativamente excelente, visualmente pensado até ao último milímetro (desde logo a começar pelo facto de não poder filmar os congressistas de frente), em termos de apresentação uma obra de arte do mais puro e descarado marketing político de propaganda comprada a uma agência de publicidade, que me faz pensar que o António Ferro ao pé destes senhores era até um belo provinciano e um perfeito amador da comunicação. Em termos de conteúdo do mais oco e sonolento que se podia ver em discursos que oscilavam entre o medíocre e o profundamente chato. O grande líder chega, o grande líder discursa, o grande líder afirma que a sua inocência nos casos judiciais se vê nas urnas, o grande líder dispara contra a comunicação social num histerismo patético, o grande líder não fala uma vez de desemprego, crise ou dificuldades e o partido engole, bajula e agradece o Sócrates que os pôs no poder e que num fim-de-semana de congresso conseguiu dizer mais vezes a palavra “esquerda” que em 4 anos de governo.
Desde que estejamos no poder está tudo bem, o resto é perfeitamente indiferente, é assim o PS destes tempos de direita quando convém de esquerda quando os ventos mudam (ou melhor de pseudo esquerda), pincelado com aquela pinta que gostam de dar que são os modernaços achando que ser de esquerda é apenas discutir casamentos gays ou eutanásia, também o é mas será também ter um discurso social, que num congresso de tanta ostentação tenha a vergonha de olhar para o país dos 8% de desemprego, para o país que se retorce todo para caber no cinto da crise.
A síntese perfeita do congresso está naquele videozinho de publicidade reles do final do congresso que mostra as medias sociais do governo, de famílias felizes, muito melhor do que há uns anos viviam, como se tudo aquilo misturado e musicado não fosse uma espécie de sonho que Sócrates tem quando adormece, por vezes o país que se sonha ter, não é aquele que se tem. Um vídeo que não fica muito longe daquela pérola da campanha de 2005 do “Menino Guerreiro”.
E a cereja em cima do bolo: Vital Moreira, essa personagem cativante a quem me custa colar o conceito de bom candidato para uma campanha dura e difícil como vão ser as Europeias. O que já foi o homem do PC, transformou-se no verdadeiro Sócratesman, com discursos sempre aguerridamente a favor do seu governo, no fundo uma espécie de Santos Silva mas com melhor retórica e mais classe. Um candidato incógnita durante uma campanha eleitoral.
E aqui está Sócrates, a vítima segundo ele próprio, mas talvez o maior bafejado pela sorte, porque verdadeiramente no centrão ele continua a ser o único candidato a primeiro-ministro.

PS: Para sempre na memória o momento BBC Vida Selvagem de cães, galos e cavalos que parece que segundo um pitoresco congressista não são verdadeiramente bichas nenhumas, pela sua luta veemente pelas fêmeas. O PS com um ar de progressistas por fora mas com entranhas conservadoras desreguladas com o discurso que os líderes tentam passar.