sexta-feira, 7 de novembro de 2008

The end


A história é inatamente selectiva, às vezes cruelmente selectiva, por isso é tão espantoso e entusiasmante quando a sentimos a passar por nós, escrita à nossa frente, acompanhada como também nós estivéssemos a contribuir para a sua redacção. A noite de ontem ou os últimos meses foram um desses momentos. Chegou ao fim, o ponto final nas eleições que se desenharam diferentes de qualquer outra, que viraram a página e que pelo menos nos deixaram a sensação de novo capítulo, ainda em branco, da história americana.
Esta foi a campanha das surpresas. A começar pelos candidatos, Obama e McCain eram os inimagináveis candidatos há um ano, ambos com as máquinas dos partidos que contra eles corria, mas venceram, impuseram-se aos partidos que se adaptaram a eles sem poderem contestar a certeza que desde cedo se tornou McCain ou a onda imparável que é Obama. Para o tão apregoado esbatimento de ideologias, de debates eleitorais sérios, completos, aguerridos, estas eleições provaram o contrário, num combate de verdadeiras ideias, em que Democratas e Republicanos não se diluíram num só muito pelo contrário foram em McCain e Obama marcas claras da diferença de pensamento acerca do Iraque, da posição diplomática dos Estados Unidos no mundo, ou mais recentemente na questão económica, McCain na linha Reganista de sempre, Obama com uma nova política de impostos, diferente da linha seguida nos últimos 30 anos.
Sabemos que este é o tempo das apelidadas novas potências cheias de vaticínios em torno da queda dos Estados Unidos, e de facto o poder hegemónico de há 10 ou 20 parece difícil de recuperar, mas as eleições que passaram foram a prova plena que o MR Big conta, que por ele passa ainda uma grande parte do nosso mundo, que por ele temos um interesse e uma curiosidade tantas vezes incompreensíveis, não por acaso estas foram talvez as eleições Americanos que mais entusiasmo alguma vez geraram na Europa. E a Europa que gosta de Obama conta também com os Europeus apoiantes de Mccain que contra o senador democrata usavam o argumento que com Obama lá se vai o guarda-chuva de sgurança Americano. Para além de caírem na eterna falsa verdade que é preciso ser Republicano para dominar a segurança internacional, sempre com aquele bizarro pensamento que é preciso parecer um suposto duro em matéria de defesa para ser competente, exactamente o dogma que levou Bush ao poder, com os resultados vistos, os Europeus que afirmam que com Obama estamos menos seguros não querem uma verdadeira Europa, ou senão passam a vida a contradizer-se. Se por um lado sublinhamos vezes sem conta que queremos mais Europa que se saiba afirmar no palco internacional por outro não podemos passar a vida a recear tudo e todos, sempre encostados à espera que alguém nos defenda, isso é tudo menos defender uma verdadeira Europa.
E como Europeus provámos que por muito que nos separe, por muito que continuemos a entender as diferenças que marcam o lado de cá e de lá do Atlântico, admirámos um país que foi às urnas como nunca, que elegeu um Presidente que é ele próprio um marco. Não só por ser negro, o que não deixa de ser memorável, sobretudo quando lembramos as histórias de Luther King ou Rosas Parks. Obama consegui ser o candidato negro sem fazer uma campanha racial, hoje que a campanha passou é mais enfatizado Obama como o Afro-americano, do que durante toda a campanha, a prova que esse facto é um símbolo, extraordinário, mas felizmente não foi a pedra de toque, nem foi usado na propaganda suja de uma tão longa campanha. Obama é sobretudo um marco pelas ideias, que ao contrário do que muitos dizem ele tem, sobre como expandir os cuidados de Saúde, alterar o sistema de reformas, ou como tomará o pulso à crise financeira.
A campanha acabou, uma parte da história foi escrita, falta agora a outra e talvez a mais importante, aquela em que confirmaremos ou não as esperanças em Obama, falta tornar o “Yes we can” em “Yes we will”. A campanha de 2008 ficará, esperamos pelo que virá!

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