Quando há quase um ano aqui escrevi pela última vez, Portugal estava no PEC I (que naifs que então ainda éramos!), entretanto vamos no PEC IV e a solução é nenhuma. E é nenhuma porque Portugal entrou exactamente na mesma espiral em que está a Grécia e a Irlanda. Os pacotes de austeridade entraram num ponto de não retorno. O nível fiscal é praticamente impossível elevar a um nível superior, arriscando-nos a entrar no paradoxo económico de entrar num ciclo de fuga fiscal que fará inevitavelmente diminuir as receitas. Resta o lado da despesa! E aqui com os abocanhamentos recentes ao grande bolo da pensões e dos salários. E assim prepara-mo-nos para o nosso 2º possível default, não o da dívida externa, mas o do contrato social interno, um epitáfio para o qual ninguém se preparou e que agora vemos cair-nos no colo.
Teixeira dos Santos anunciou ontem que iria congelar todas as pensões em 2012 e 2013. A pensão media em Portugal em 2009 era de 333€, o nível de inflação era já em Janeiro deste ano de 3.6%. A esta combinação impraticável foram anunciados simultaneamente reduções de comparticipações em medicamentos e ainda uma liberalização das rendas, o que sobre rendas antigas de casas de muitos idosos poderá ter um efeito hiper inflacionário. É uma estocada mortal no país, numa franja velha e idosa, que até agora uma carcaça seca comia e que se vê agora apenas com as migalhas dessa mesma carcaça.
Há uma geração que nasceu com o Salazarismo, acreditou no contrato social de Abril, são com estes que Portugal e o Estado entrou em default social. Sócrates deu um murro terrível na velhice, naqueles que ao contrário dos mercados não podem pedir mais juros, não podem fazer pressão, não podem baixar ratings.
O PEC de ontem é uma monstruosidade humana para uma parte da sociedade que não se ouviu piar, porque a sua voz não alcança. Não alcança Merkel e Barroso que se rejubilaram com as novas medidas.
Estes velhos não se revoltarão, nasceram sem se poder revoltar e mal vivendo… e voltaram ao mesmo ponto!