domingo, 5 de julho de 2009

Um epitáfio!


Pinho marcou a semana, quer pelos papéis rasgados em plena entrevista televisiva ao momento ribatejano na assembleia, que até lhe valeu uma crónica na última página do el país de sábado em que consideravam que o nosso antigo ministro seria entronizado nas ruas do país vizinho com o cognome e cito “¡ Torero, intelectual!”, Pinho enganou-se na fronteira e como o jornal diz no parlamento e o gesto irreflectido custou-lhe o cargo. Sobre este requintado momento da política à portuguesa, nada mais a dizer.
Consta contudo que o Debate tratava da Nação, algo que entretanto não foi muito falado. No discurso de balanço Sócrates esqueceu a avaliação de professores (curioso), as reformas na saúde (muito curioso!), debruçou-se no Magalhães, no plano tecnológico e passados todos aqueles minutos de discurso ficava a saber a pouco, num balanço esforçado que tentava espremer e assinalar as mais pequenas medidas. De Sócrates fica uma consolidação Orçamental jamais acabada, sem dúvida feita à custa de sacrifícios que fizeram desta década negra para a convergência portuguesa com a Europa. Ao contrário do que Sócrates diz ninguém o acusa das causas crise, mas acusam-no, e bem, de a ter subestimado até muito tarde, de ter tido um ministro da economia que anunciou a retoma (mais um anúncio da chegada dessa aguardada e nobre senhora), de um ministro das finanças que só muito tarde admitiu todo um novo cenário, de um PS que se descontrolou perante a nova realidade e um conjunto de medidas que ninguém ainda sentiu que tenham provocado substanciais inflexões do ciclo negativo, sobretudo do desemprego. Mas se a crise tramou o final de mandato de Sócrates, e fê-lo de facto, então perguntemo-nos se Sócrates nos deixou mais preparados para o depois da crise ou deixou um país mais resistente às crises que hão de vir. Ora aqui está a essência, a estas perguntas a resposta é não. O Sistema de Segurança Social reformando, como já aqui uma vez escrevi ameaça uma pauperização futura de uma importante franja do país, os portugueses não estão a mais instruídos, podemos ter os centros Novas Oportunidades a abarrotar, mas isto está muito longe do que é uma educação ou formação ditado por um modelo de qualificação ocidental, as empresas não estão mais competitivas na maioria dos sectores. A verdade é que hoje o país não está mais forte nem mais preparado para um período pós-crise em que o discurso do défice voltará e o país continuará emaranhado no debate das grandes públicas, sem que nada de substantivo se decida. Sócrates não inflectiu o ciclo nem mudou o horizonte para os próximos anos, a verdade é que o horizonte hoje em 2009 é bastante mais negro que aquele existente em 2005, um horizonte em que a palavra “recuperação” parece perdida e difícil de encontrar.
A isto junta-se um primeiro-ministro que perdeu todo o momento político numa difícil espiral desde a derrota nas europeias. Talvez aquele gesto fosse um conselho de pinho: Sócrates precisa de se deixar de fantasias ou eufemismos baratos sobre o verdadeiro Estado da Nação, no fundo Sócrates precisa de pegar o país pelos cornos!

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