sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A campanha dos momentos vazios

E pronto está acabar o choque de episódios mais ou menos estranhos, uns mais irrelevantes que outros, da campanha que flutuou entre os comícios do PS meticulosamente preparados não para os que lá estão, mas para os que de casa vêem, das arruadas de jotas aos berros, da Ferreira Leite não habituada a esta coisa das arruadas em que se o esclarecimento fosse feito ao encontrão, os portugueses estariam mais esclarecidos do que nunca. Mas a campanha foi o sucedâneo que começou com Moura Guedes corrida da TVI (quem já se lembra disto?), passámos para o debate em que de peito aberto tentavam mostrar quem era o mais português de todos, num debate sobre Pseudo-patriotismo como se tivéssemos acabado de dobrar 1640, prosseguimos com do momento do quem escuta quem ou dos PPR´s de Louçã (na absoluta não notícia com que o Expresso conseguiu fazer uma primeira página). E no meio disto tudo pouco mais sobrou, para quem queria mesmo clarificar o voto, a campanha morreu no dia do debate entre Sócrates e Ferreira Leite. A confusão de casos, de episódios e de fricções foi de tal forma que política, ideais e projectos, sobretudo no centrão, ficaram arrumados para canto e não mais discutidas.
E um dia ainda me vão explicar essa coisa da arruada com megafones, bandeiras gigantes, multidões suadas a amontoar-se, acenos enviados para as próprias comitivas e intrusos rapidamente seriados para não incomodarem os respeitáveis candidatos. Já sei muitos acham que quem diz isto não gosta de contacto com o povo, mas também um dia me hão de explicar que tipo de conversa minimamente inteligente ou esclarecimento nasce ali. Mas o objectivo também não é esse, porque a força dos partidos parece que ainda se mede ao tamanho do rebanho que o líder leva atrás.
Mas esquecendo as últimas duas semanas, a pré-campanha, os comentários, os programas escrutinados e sobretudo a memória dos últimos anos fazem que quem quer fazer uma decisão consciente fá-la. Pode não haver soluções perfeitas, certamente, mas como Churchill dizia “a democracia é o pior sistema de todos, exceptuando todos os outros”. A verdade é que a democracia portuguesa também produziu o duo que mostra bem aquilo a que os maiores partidos chegaram. De um lado o Sócrates do PS de esquerda híbrida, muito híbrida, demasiado para 4 anos de um discurso formatado aos ventos que sopravam e às circunstância e muito pouco formatado a valores, a verdadeiras ideologias que na mente socrática são sempre o lado menor de fazer política, são sempre mostradas em versão Português Suave para nada nem ninguém afrontar e em si juntar todos os votos até ao último. Quando é preciso os funcionários públicos são esses “privilegiados”, quando a trajectória muda o Estado Social é um valor máximo. Do outro Ferreira Leite, a prova que o PSD, ao contrário do país, não mudou o ciclo, não virou a página do cavaquismo, e quis ter uma líder com postura séria num partido que não o consegue ser, quis ser sintético e acabou por nada de programático produzir.
Só resta votar, domingos contam-se os resultados!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A verdadeira campanha suja



É este o tipo de anúncios e de associações que Obama enfrenta para a reforma social mais marcante de sempre na história dos Estados Unidos

Em memória



Passam este mês 60 anos da invasão da Polónia e que levaria de arrasto a Europa para a Guerra que a destruiria, e que serviu de argumento para o longo reerguer dos escombros. Numa época em que entram no parlamento europeu, vindos em muitos casos de leste, muitos fanáticos de extrema-direita aqui fica o recordar desse passado nada distante.

O sentimento que pode não se reflectir nas urnas

A provável vitória de Sócrates nestas eleições é um fenómeno que mostra como a rua e o dia-a-dia ao longo de quase 5 anos promete ser pouco traduzível num resultado eleitoral.
Durante todo este mandato, Sócrates foi tudo menos uma personagem adorável, algo que se calhar ele também não desgosta, visto que tem aquela visão messiânica de cavaleiro andante da política. Durante 5 anos ouvir críticas a Sócrates foi uma constante, de todos e de vários sectores, de amigos e de muitos dos que conhecemos as políticas Socráticas do PS eram clamor e crítica de muitos.
E agora como pode vir ele a ganhar mesmo sem maioria absoluta? Não, não creio que tenha havido um convencimento do país de muitas das pseudo-reformas socráticas. Como também nestas eleições duvido que se irá votar por que se é contra ou favor do TGV, da 3º auto-estrada Lisboa-Porto ou porque esteja na mente de muitos portugueses o nível do endividamento do país. Nestas eleições quem votar no centrão votará porque gosta ou não gosta de Sócrates ou porque gosta ou não gosta de Ferreira Leite. Nada mais que isto, a verdade é que Ferreira Leite não parece ter capitalizado suficientemente o descontentamento, deitou a politica de verdade por um canudo com aquela parelha de candidatos (António Preto e Helena Lopes da Costa), não concretiza medidas, nela vê-se esfarelar qualquer coerência, qualquer ânimo mobilizador. O que muitos pensavam ser a mais-valia nela: a calma, a ponderação, o não gosto pelo show-off, como o contraponto a Sócrates não está a funcionar, por que só funcionaria se tudo isto fosse acompanhado de clareza, de compreensão, de medidas, de articulação de discurso, só assim se poderia pôr como antítese, em estilo e em conteúdo ao primeiro-ministro. Mas isto Ferreira Leite não consegue fazer. E o facto é que a sua figura está cheia de anti-corpos por toda a sociedade portuguesa que com ela não se identifica nem mobiliza. Como está a figura de Sócrates, mas entre um e outro, o jeito maroto e aguerrido de Sócrates colhe mais adeptos naqueles que apenas se vêem balancear entre PS e PSD.
Para já ao fim da primeira semana de comício Sócrates vai à frente numa campanha, que como todas as outras é o pior momento para discutir o que quer que seja. Os fenómenos de momento, o nada, o pequeno golpe baixo, a pequena picardia politiqueira lançada em jantares de militantes mobilizados à camioneta domina.
1 semana depois um e outro continuam a prometer nada mais do que o centrão típico, um e outro são os melhores símbolos desse rotativismo que pretende transformar o país no seu bipartidarismo, perdendo assim sucessivamente votos para as suas franjas de esquerda e de direita. Um e outro são bem conhecidos, um e outro andam nestas coisas há 18 anos, é demasiado tempo para um país que em quase duas décadas tanto poderia ter sido e não foi.

Os Debates

10 debates como nunca antes se viram, alguns de estar bem acordados ( Sócrates-Louçã, ou Sócrates-Ferreira Leite), outros com pálpebras mais que fechadas num quase ressonar dada a pastelice das duplas como o caso Jerónimo-Ferreira Leite.
Portas portou-se bem naquele estilo que adoptou. Joga em nichos de mercado, especializou-se em pme´s, agricultura, segurança, puxa o ódio social no rendimento mínimo, um subsídio cheio de fraudes, mas também sei que cheio de pessoas que de facto dele precisa. Portas chama a si os mais básicos instintos de repressão social, acabando por estigmatizar, e um político nunca deve ser um estigmatizador, seja de quem for. Portas que gosta de mostrar aquele seu lado de apreciador de grandes estadistas, esquece-se que a maior das qualidades dos homens de Estado é representar todos e naquele jeito populista, que só ele tem, mete tudo no mesmo saco: os que em muito enganam e se especializam na fraude do rendimento mínimo e à sua conta vivem, daqueles muitos pobres, verdadeiramente pobres, que dele precisam. Portas à busca do rancor social, considerando que as frases que ouve em tascas e cafés baratos de uns em relação à pobreza dos outros fazem alguma vez um programa que se alimente de algo mais que os instintos primários de alguns.
Jerónimo já entendeu que debates não é com ele, e passa à frente sem distinção.
E chegamos a Louçã que portou-se à altura menos no debate em que deveria ter sido mais forte, deixando-se levar na táctica de Sócrates que mais não foi do que ouvir os seus assessores e pegar em dois ou três pontos do programa do bloco para picar o adversário, tirando-os do contexto, do todo do programa, na táctica do susto, do afugentar das classes médias do bloco, que aglomerou muito do descontentamento contra o PS dos últimos anos.
Quanto a Ferreira Leite as expectativas eram baixas e baixas se confirmaram, sem a mínima capacidade de articulação de uma ideia que seja minimamente compreensível, mas mais grave do que tudo isso cada vez que saía da sua caixa, do seu programa redutor Ferreira Leite apenas tendia a dizer que não sabia, não havia estudado, não havia pensado no assunto. Pouco, redutor, mísero numa altura em que não se pede que alguém saiba de tudo, mas que entenda um pouco mais do país do que aquilo que está escrito no programa que a própria diz podia ser resumido numa folha A4.
E estes debates, ao contrário de em muitas outras eleições, ao fim da primeira semana de arruadas e festins, podem mesmo ter marcado os resultados das eleições, pelo menos a acreditar nas sondagens que mostram um empate técnico antes da semana de debates e o descolar do PS pós-debates. Falta uma semana.

O dia da insanidade

A sillygate afinal não se ficou só pela silly season com a notícia publicada pelo DN. E comecemos por aqui. O que equipa editorial do DN fez é a todos os títulos, seja quais for as responsabilidades que o próprio Público (e de certo também são muitas), uma absoluta vergonha, é incompreensível como um jornal tem o desplante de revelar as fontes de outro jornal através de um e-mail interno de outra publicação, sendo este um dos mais incríveis casos de desrespeito entre jornalistas dos últimos largos anos.
Cavaco está no memento mais incrivelmente ridículo do seu mandato, depois dos vetos de Verão, incluindo a lei das uniões de facto como essa maravilhosa desculpa “do tempo oportuno”, ou seja o tipo de argumento que os conservadores usam sempre quando não querem discutir um qualquer assunto que mexa com valores e costumes. Mas o caso que promete marcar a recta final do mandato do presidente é este que mostra o ponto mais baixo das relações com Sócrates, num caso que flutua entre o delírio e a mais surpreendente metáfora da forma como o próprio Cavaco se vê a si e à sua presidência.
Em primeiro lugar manda um assessor seu contactar um jornalista para estampar uma notícia num jornal. Houve tempos em que o presidente disse que não lia jornais, agora parece ter saltado para o outro extremo, sendo que cria notícias para as próprias publicações que ele dizia não ler.
Mas isto mostra a total incompreensão do que é o cargo de presidente da República, se de facto haviam estas suspeições em Belém e se o objectivo passava por não interferir na vida partidária, ainda para mais num momento destes, Cavaco tem as tais audiências às 5ºs feiras para tratar de tudo o que acha que tem a tratar com o primeiro-ministro e não criando notícias, suspeições, um bruaá no ar envolvendo-o a ele, a São-Bento e as serviços de informações.
A cereja deste muito recheado bolo-rei que o próprio presidente criou são as declarações que proferiu afirmando que depois das eleições quer ser informado sobre matérias de segurança e dizendo a uma jornalista que não é ingénuo. É possível ter estado pior? Dificilmente, Cavaco em Agosto espera dez dias para comentar alguma coisa sobre a notícia do Público, naquilo que foi uma frase que nada retirou às suspeições existentes, passa um mês e Cavaco acrescenta esta pérola a uma novela que nem Moniz nem Moura Guedes teriam tanta imaginação para escrever.
Uma enorme colherada na campanha dada pelo presidente mais toda a sua trupe de maravilhosos assessores, que gostam de frequentar pacatos cafés da avenida de Roma e que entre um golo no café e uma trinca no pastel de nata passam dossiers sobre assessores de Sócrates, a prova que na Casa Civil se andam fazer vastas biografias sobre muitas personagens.
Sócrates joga à defesa com as suspeições que parecem pairar e que sempre pensei de ridículas não percebendo agora se de facto existem, o que, nesse caso, seria um auge da estupidez de São Bento, ou não passam de fantasia e aí estamos perante o auge do delírio de Cavaco.
É com casos como este, tratados com esta ligeireza, como se de um romance de intriga barato se tratasse, que Portugal não consegue levar a sério aquilo que em qualquer lugar seria dos mais graves casos que alguma vez poderiam acontecer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O mês dos ferozes que se tornaram doces

Começou o mês das entrevistas, das discussões infindáveis, dos cálculos, dos tacticismo e das arruadas, toda uma máquina movida a carne assada, bacalhau com natas e meninos de jotas que descobrem nas eleições o momento perfeito para darem aos bracinhos nos comícios do partido. Hoje tivemos o primeiro cheirinho, do menino de coro em que Sócrates se transformou, cheio de risos apetitosos para a jornalista que há uns meses, numa outra entrevista, bem ouviu a voz grave deste primeiro-ministro.
A entrevista correu-lhe bem, mas bem espremidinha fica a marca do que vai o Sócrates de Setembro de 2009. Definitivamente a ferocidade ficou pelo caminho e o objectivo chama-se: bipolarização. Comecemos então pela forma com o discurso melado de arrependimento e assumir de erros dedicado com muito amor e carinho a juízes, professores e funcionários públicos que agora convém embevecer. Se juntarmos este enorme pote de pessoas, a verdade é que todos conhecemos um professor, um juiz, ou um qualquer funcionário público que passará a mensagem contra Sócrates e é esta cadeia que é preciso quebrar para aguentar muitos votos à esquerda do PS.
Para o PS o cenário de votos partidos em múltiplos pedaços não se pode repetir, ou seja para o primeiro-ministro o discurso passa pelo sou eu ou ela. Sou eu o moderno, o avançado, o reformador, o keynesiano vibrante do papel do Estado contra ela, a antiquada, a conservadora, a direitista que odeia o Estado, a cavaco de sais.
Daqui a uns dias sabemos o resultado deste wrestling à portuguesa.