segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O sentimento que pode não se reflectir nas urnas

A provável vitória de Sócrates nestas eleições é um fenómeno que mostra como a rua e o dia-a-dia ao longo de quase 5 anos promete ser pouco traduzível num resultado eleitoral.
Durante todo este mandato, Sócrates foi tudo menos uma personagem adorável, algo que se calhar ele também não desgosta, visto que tem aquela visão messiânica de cavaleiro andante da política. Durante 5 anos ouvir críticas a Sócrates foi uma constante, de todos e de vários sectores, de amigos e de muitos dos que conhecemos as políticas Socráticas do PS eram clamor e crítica de muitos.
E agora como pode vir ele a ganhar mesmo sem maioria absoluta? Não, não creio que tenha havido um convencimento do país de muitas das pseudo-reformas socráticas. Como também nestas eleições duvido que se irá votar por que se é contra ou favor do TGV, da 3º auto-estrada Lisboa-Porto ou porque esteja na mente de muitos portugueses o nível do endividamento do país. Nestas eleições quem votar no centrão votará porque gosta ou não gosta de Sócrates ou porque gosta ou não gosta de Ferreira Leite. Nada mais que isto, a verdade é que Ferreira Leite não parece ter capitalizado suficientemente o descontentamento, deitou a politica de verdade por um canudo com aquela parelha de candidatos (António Preto e Helena Lopes da Costa), não concretiza medidas, nela vê-se esfarelar qualquer coerência, qualquer ânimo mobilizador. O que muitos pensavam ser a mais-valia nela: a calma, a ponderação, o não gosto pelo show-off, como o contraponto a Sócrates não está a funcionar, por que só funcionaria se tudo isto fosse acompanhado de clareza, de compreensão, de medidas, de articulação de discurso, só assim se poderia pôr como antítese, em estilo e em conteúdo ao primeiro-ministro. Mas isto Ferreira Leite não consegue fazer. E o facto é que a sua figura está cheia de anti-corpos por toda a sociedade portuguesa que com ela não se identifica nem mobiliza. Como está a figura de Sócrates, mas entre um e outro, o jeito maroto e aguerrido de Sócrates colhe mais adeptos naqueles que apenas se vêem balancear entre PS e PSD.
Para já ao fim da primeira semana de comício Sócrates vai à frente numa campanha, que como todas as outras é o pior momento para discutir o que quer que seja. Os fenómenos de momento, o nada, o pequeno golpe baixo, a pequena picardia politiqueira lançada em jantares de militantes mobilizados à camioneta domina.
1 semana depois um e outro continuam a prometer nada mais do que o centrão típico, um e outro são os melhores símbolos desse rotativismo que pretende transformar o país no seu bipartidarismo, perdendo assim sucessivamente votos para as suas franjas de esquerda e de direita. Um e outro são bem conhecidos, um e outro andam nestas coisas há 18 anos, é demasiado tempo para um país que em quase duas décadas tanto poderia ter sido e não foi.

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