sábado, 5 de julho de 2008

O Salto



Há dois dias no Toda a Verdade da SIC Notícias passava uma reportagem em que dois jornalistas se infiltraram num grupo de emigrantes ilegais que sonhavam dar o salto para esse mundo Europeu que desejavam encontrar em Espanha.
Torna-se tremendo quando traduzidas para a materialidade cada uma daquelas histórias que ouvimos falar sobre a emigração ilegal para a Europa. Histórias vividas, mostradas na pureza da forma como aconteceram.
Senegaleses, Guineenses, Marroquinos nas mãos 15€, o resto, o pouco resto que tinham foi desaguar às mãos daqueles que supostamente lhes ajudariam dar o salto. Em troca de tudo o que aqueles homens tinham é lhes dado um motor fumarento, meia dúzia de tábuas para a construção da sua nau coberta de cola espessa para a impedir a maldita da água de entrar. Tudo acompanhado por uma bússola desregulada que lhes levaria ao outro lado do Mediterrâneo.
Dias de viagem até à costa Marroquina, resta-lhes o pão misturado em água como único alimento, a areia e a paisagem árida como sítio de dormida. Primeiro dia, barco vira, motor falha, em plena noite todos tentam voltar à costa, todos tentam, mas nem todos conseguem, dois ficam no Mediterrâneo, deverão aparecer dias depois na costa de Espanha, onde tanto quiseram chegar, alguém os recolherá e os enterrará nos cemitérios que agora se invadem de campas que apenas mostram a inscrição: Imigrante, tudo o resto, que fazia a história destes que morreram já ficou para trás. Na primeira frustrada tentativa muitos perdem as roupas, a um resta-lhe pegar em duas garrafas, enrolá-las em corda e deles fazer um par de chinelos, é com eles que chegará ao outro lado do mediterrâneo, para ele será como chegar ao outro lado do mundo.
Segunda tentativa doze horas de viagem, baldes de água atirados durante toda a viagem impedindo que o frágil barco se afunde, um motor que pouco aguentou, um barco da Guarda Civil que os detectou, sem desespero entregam-se sabem que sem revelar a sua nacionalidade jamais serão deportados, mas ficaram presos e quando a luz do dia virem de novo nada terão para os fazer viver no lugar onde tanto quiseram chegar.
Ao ver uma reportagem como esta estremeço quando oiço Sarkozy no início da Presidência Francesa da União dizer que tem ideias para a (i)emigração, estremeço porque vem da boca daquele que fez aprovar a mais recente lei Europeia sobre Emigração. Estes emigrantes já passam por desumanidades suficientes não precisam de chegar à Europa e passar meses a fio numa prisão, sem nenhuma acusação, presos porque simplesmente estão presos. Depois de despojados do pouco dinheiro, a Europa parece querer despojar-lhes dos poucos direitos que sonhavam que aqui iriam ter. Uma lei tristemente verdadeira para ter sido aprovado numa Europa que pensámos teria valores diferentes!

Sem comentários: