domingo, 13 de julho de 2008

A surpresa para os pacatos Portugueses


Foto do Público

Os bonitos hábitos Portugueses de floreira à janela não estavam muito habituados às cenas de revolver e bazuca na mão que há dias assistimos. Podemos dizer que é um caso isolado, mas não chega para nos convencer que os arredores de Lisboa, desenhados de forma industrial, sejam lugares sossegados onde isto são apenas episódios esporádicas. Os subúrbios são sujos, mal tratados, inseguros, pouco apetecíveis para quem lá trabalha.

Podemos culpar muitos por tudo isto, os que os projectaram estes bairros e lhes conferiram aquele ar labiríntico e de aspecto duvidoso. Basta olhar para alguns dos concelhos à volta da capital que construíram enormes torres metidas no meio de nenhures para albergar os milhares que se encafuavam em barracas. Podemos também culpar a falta de direcção que foi dada a estas espécies de habitações, havendo muitos que se convenceram que chegava dar casa a estas massas de gente para que os problemas desaparecessem, não, pelo contrário, os problemas simplesmente mudaram de sítio, de umas barracas porcas e fedorentas para umas casas mais apresentáveis. Mas, e não podia deixar de responsabilizar os que nestes bairros vivem, não todos, obviamente, mas uma parte que os transformam em cantos para todo o tipo de actividades, tantas vezes muito pouco transparente, deixando o pânico nas vidas dos restantes que pensaram que poderiam sonhar com aquele lugar comum: “casa nova vida nova”.
É levemente assustador pensar como é que aqueles homens do vídeo tiveram acesso a todas aquelas armas, como se fosse uma coisa natural cada vizinho esconder a pistola debaixo da almofada.

Mas olhando para estes bairros também nos devemos lembrar daqueles que lá trabalham e recordar que a agora ainda mais afamada Quinta da Fonte fica paredes meias com a tal Escola Básica que a RTP filmou há um ano em que alunos faziam da sala um autentico Jardim Zoológico (desculpei a imagem mas não há outra possível), mas agora perguntamos aqueles professores foram treinados para enfrentar estes casos de violência? Não, muitos destes professores foram chutados para ali porque mais ninguém queria lá ensinar (algo já de si difícil de fazer num ambiente destes), são professores destreinados metidos na boca do lobo. Como hoje me sugeriam, pessoas altamente preparadas e treinadas têm que ser injectadas nestes locais para que algo possa mudar nestes sítios. Professores com currículos comuns nestes locais? Não, mas equipas de professores especialmente formadas e preparadas para enfrentar estes alunos, para que possam segurar o funcionamento de uma escola com uma equipa altamente especializada. Um corpo policial que seja capaz de responder a estas situações, e com isto não estou a defender que se envie para estes guetos, 24 horas por dia, equipas de polícias encapuzados ou de metralhadora às costas, mas polícias que estejam preparados, até psicologicamente para enfrentar isto. Podem dizer-me que isto é como individualizar o bairro e tratá-los como diferentes, mas diferente já esta triste realidade é.

É sempre difícil escrever um texto sobre estes assuntos corremos sempre o risco ou de ser chamados de direitistas radicais, que gostamos da política da pistola, ou de laxistas que deixamos tudo andar. Não sou nem uma coisa nem outra, mas defendo uma política que reconheça estes problemas, não tenha medo de treinar pessoas para lidar com situações que são verdadeiramente especiais e entender, de uma vez por todas, que realojar não é resolver todos os problemas, porque esses lá continuam.

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