quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Brilhantes 30 minutos


Um autêntico diamante do saber passar a mensagem política. Um apelo ao voto com roupagem de documentário, que em menos de meia hora desfia as principais propostas de Obama, transmitindo todo o espírito positivo da campanha, não fazendo jogo sujo com McCain e deixando claras ideias de futuro. Custou muitos milhões, mas este vídeo é o momento alto da última semana de campanha, o resumo perfeito de ano e meio de candidatura de Obama. Famílias de classe média, jovens, educação, saúde são as traves mestras do discurso democrata, neste anúncio muito mais virado para os problemas de dentro da América do que fora da América, o que deixa a pergunta se de facto depois de um período de tanto intervencionismo político no palco externo teremos uns Estados Unidos a sarar as suas feridas domésticas em primeiro lugar. É provável, em tempo de crise as prioridades dos Americanos mudaram, e para marcar terreno a predominância do discurso de Obama teria que ser este. Faltam 5 dias para as eleições!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sempre a coscuvilhice

Paulo Macedo, o homem que se pode considerar a ele próprio director geral de impostos mais idolatrado de todos os tempos começou no seu tempo uma intensa actividade de leitura de mails. É absolutamente incrível que com base em suspeitas, tenha-se o desaforo de ir ler e-mails de 370 funcionários do departamento. Mesmo com autorização judicial é tão reprovável ler e-mails como violar correspondência, e é pena que tanto os órgãos judicias que permitiram isto e que acabaram por o fazer, como os repensáveis da DGCI, não saibam delinear uma fronteira entre o que é ou não o limite do justificável em torno de suspeitas supostamente criadas.
A DGCI preocupa-se muito com as fugas de informação para a comunicação social e parece que todas a práticas se tornam assim justificáveis. Às vezes um pouco mais de decoro também faz falta!

Cavaco avisou. Sócrates não ligou

Apesar da falta de sentido de oportunidade de Cavaco no discurso que tão enigmaticamente fez anunciar no final de Julho, o aviso estava lá, o Estatuto dos Açores não era para o Presidente uma questão de apêndice ou de mera circunstância. O recado estava dado, restava a Sócrates e ao PS ouvi-lo, não o fizeram e o veto chegou hoje. Tudo não deixou de ser exagerado, tornando uma questão constitucional, em que admito que Cavaco possa ter razão, num drama do qual tudo e todos se especializaram em produzir textos psicanalíticos em torno da relação Belém - São Bento. É um clássico da política portuguesa sempre à procura daquele gesto ou daquela frase que mostre tensão entre primeiro-ministro e presidente.
Tudo era evitável, de forma menos aparatosa, e se o PS não fizesse o seu bate pé em vésperas de eleições regionais nos Açores. Agora as eleições passaram, a lei ficará na gaveta, e parece-me que os Açores não sofrerão muito com esta perda!

À beira do fim

No quase um ano de blog, as eleições Americanas, foram provavelmente, o tema mais comentado e batido por mim, e não faltam boas razões para que assim seja. Estamos assim no fim de uma longuíssima campanha, de lembrar que Obama apresentou a sua candidatura em Springfield em Fevereiro de 2007, e se as perspectivas baterem certo tomará posse em Janeiro de 2009, quase 2 anos depois da campanha começar, uma verdadeira maratona eleitoral, que mais do que em qualquer outra campanha, permite que saibamos melhor o que cada candidato trás para o terreno.
As últimas semanas de campanha têm criado mais ansiedade que surpresas, ansiedade por um resultado que só uma reviravolta inédita poderá modificar nesta altura do campeonato.
Os ventos finais de campanha sopram por Obama, e não custa entender porquê: a campanha arrasta-se há tantos meses que poucos cartuchos de última hora existem para disparar, o que faz com que pouco possa mudar num tão curto período de tempo em que mais nenhum debate haverá; Obama mantém-se sólido nas últimas semanas à frente de McCain, sobretudo depois do início da crise financeira que fez o candidato Republicano e a sua oca candidata à vice-presidência parecerem incapazes de fazer face ao período que se adivinha. Ouvir os discursos Republicanos entra agora no domínio do enfado total, sendo do início ao fim repletos de baixas frases de ataque em que o nome Obama é repetido vezes sem conta, recorrendo aquela técnica de associar o nome de OBama ao socialismo, o tal socialismo tão temido e receado pelo lado Republicano, no fundo estratégia em tempo de desespero quando nada mais há para dizer.
O Resultado da próxima semana, e se tudo se manter como até aqui, está dependente do rigor das sondagens. A vantagem entre 5 e 7 pontos de Obama permite antecipar a sua vitória com alguma segurança, mas existe sempre um factor que se torna altamente volátil em caso de candidatos negros. Ou seja, com medo de ser conectados com alguma tendência racista, teme-se sempre que muitos dos contactados nas sondagens acabem por não exprimir o sue real sentido de voto, acabando por enviesar sondagens que se tornam assim desfasadas em relação ao resultado final.
O resultado Americano define um momento verdadeiramente histórico que esperemos ajude a descongelar o estaticismo e falta de rumo ditados por uma crise instalada.

Semanas em que pouco mudou

10 dias de ausência tornaram o blog, infelizmente, e a meu próprio contragosto fiel ao seu nome, uma verdadeira Terra de Ninguém que volto agora a ocupar. Os 10 dias de ausência pouco, ou mesmo nada trouxeram de novo, depois da surpresa inicial, do espanto, do choque ou da sensação de queda no abismo dos primeiros dias, a crise instalou-se com toda a naturalidade, quedas nas bolsas parecem que se tornaram banais, regastes estatais ou garantias suportadas pelo estado são agora corriqueiras, também para a banca portuguesa. Flutua no ar a sensação que nada mais nos resta do que esperar, esperar que a crise passe, que a solução seja encontrada. Portugal crescerá pouco, no optimismo de Sócrates, ou mesmo nada como muitos outros antevêem. Estamos perante a inevitabilidade, a inevitabilidade da crise que se poderá curar, mas que demorará a passar. Que a resignação, ou melhor que o conformismo pela crise que sabemos que já não poderemos evitar, não deixe para trás os discursos daqueles primeiros dias de crise em que falávamos todos dos erros cometidos, do modelo que não havia funcionado, do mercado que tinha sido deixado à sua maré incontrolável. Que algumas lições fiquem, e espero que as saibamos tirar enquanto que em suspenso esperamos que a crise passe.

sábado, 18 de outubro de 2008

Nada surpreendido



A surpresa veio com a divulgação das imagens em que o Magalhães vira canção de meninos de escola primária, ensinada, ou melhor imposta, por umas supostas formadoras que para usarem este apelidado método só podem estar muito longe do que é dar aulas.
O filme apesar de tristemente divertido não surpreende, câmaras deveriam haver em muitas e muitas acções de formação de professores, ridicularias, puras ridicularias, patetadas, sem qualquer conteúdo, com a sempre lógica do brincar para aprender, alimentadas durante anos pelo Ministério. Se tal acontecesse muitos veriam como acções da mesma craveira de inutilidade da do Magalhães abundam por aí.

A semana da espera

Lides académicas deixaram-me, infelizmente, mais afastado do que desejava do Terra de Ninguém. Isto na semana em que ficámos pendurados à espera de uma economia que por cada sopro que dava nos deixava impacientes, indecisos, desdobrando líderes políticos em reuniões sem fim.
Depois da aprovação do plano Paulson, da redução da taxa de juro na Europa e da aprovação de múltiplos planos de resgate ou injecção financeira, tudo em suspenso à espera de qual a reacção dos mercados a tanto de esforço para impedir a economia mundial de entrar em recessão e mantê-la à tona de água.
Viemos uma semana de mercados que ora um dia sobem ora um dia descem, deixando a indefinição a pairar, os medos de recessão nos Estados Unidos, aumentando o clima de desconfiança.
A crise que afunda bancos e torna os Estados heróis de salvação das donzelas financeiras do mercado tornou-se inesperadamente na melhor das amigas de Sócrates, que arranjou a razão perfeita para nela descarregar todos os seus erros.
Se a estagnação vier a culpa será de quem? Da crise internacional. Os erros de governação? Da crise internacional. A abertura da despesa que Sócrates poderia querer em ano eleitoral garantiu a desculpa para o fazer. Os funcionários públicos serão aumentados acima da inflação (prevista, diga-se, sendo que o Estado, que supostamente deveria ser fidedigno nas suas projecções mantém a eterna falta de pudor e de honestidade intelectual de não calcular a verdadeira inflação). O estranho é que para um défice igual, num orçamento em ano que enfrenta crise o governo aumenta mais os salários da função pública, curioso, ou melhor oportunismo de onda de maratona eleitoral.
Sócrates passou a ser aos seus próprios olhos a garantia de levar o país entre os mercados em mutação, o discurso de dramatização pode mesmo dar uma relevante vitória eleitoral ao PS. E Ferreira Leite já o entendeu, pois surpreendentemente, até tem ideias sobre o orçamento, confesso o meu espasmo

domingo, 12 de outubro de 2008

Tradições que pesam e dogmas que ficam

A discussão dos casamentos gay depois de muito barulho e umas tantas hipocrisias parece ter ficado na gaveta até à próxima legislatura, mas para além da atitude avestruz do PS interessa entender o porquê de acharmos, ou não, legítimos os casamentos entre homossexuais.
Aqueles que durante a última semana saltaram como opositores à mudança da lei avançaram sempre com o argumento que a família é a base e célula da sociedade. Resta saber o que isto ajuda a explicar o que quer que seja, admitindo que a família é de facto um elemento basilar, tal por si não mostra qualquer impedimento ao casamento gay. Este argumento resume-se a considerar que a tradição histórica do casamento explica tudo, colocando-o como uma entidade que gelou no tempo, estatizou e não se alterou nem se alterará, como um ente imutável perante a evolução de pensamentos e valores. Na verdade o casamento nunca foi insensível aos progressos históricos, mesmo que o queiram pintar como tal. O significado de um casamento na Idade Média de certo não é o mesmo que no Século XXI, e a simples regulamentação do divórcio é a prova que o casamento não é visto com os mesmos olhos consoante a alteração de momento histórico e a nova formulação valorativa de uma sociedade. As tradições ou o hábito histórico não fazem mais sentido quando a realidade se alterou ou novas realidade são reconhecidas, por isso, não faz mais sentido que o Estado não reconheça a união de duas pessoas sejam elas ou não de sexos diferentes. Nem ninguém sinceramente prevê que tal possa gerar qualquer tipo de hecatombe na sociedade, basta olhar para o exemplo espanhol.
Como também não adianta usar o argumento que o casamento tem como fim a procriação, quem usa este argumento, muitas vezes a mesma direita que se queixa do sufoco do Estado, usa, isso sim, uma imposição intolerável de um qualquer Estado sobre um casal. Segundo uns, o casamento é um contrato em que se entende que o Estado dele espera a “natural” procriação e criação de descendentes. Ainda penso que a cada a cada casal deve ser dada a liberdade e discernimento suficiente para tal decidir: se deseja ou não ter filhos. Obviamente que acarreta consequências para uma Europa envelhecida mas é o preço justo para uma Europa que julgo ainda quererá garantir esta liberdade.
O que se revelou esta semana, definitivamente, passa sobretudo pela concepção de casamento de cada um, e provou-se que concepções díspares ainda abundam. A daqueles que o olham mais como um contrato acima de tudo resto, na sua visão conservadora e inalterável, em oposto à visão que acredita no casamento como o reconhecimento do Estado de uma união entre duas pessoas, sejam elas quem sejam.
Esperemos que a nossa habitual falta de tacto para lidar com estas questões não nos faça, como na questão do aborto, arrastar o assunto por mais umas quantas décadas.

Simplificando a crise

A felicidade é muito relativa

Indíce de Felicidade no ano 2006


Em Tempos a Islândia foi o país mais feliz do mundo, em tempos foi uma das mais ricas e prósperas nações, cheia de milionários que rumavam à Europa para fazer os seus investimentos e que exportava a música de Björk.
A relatividade está em uma semana perder isto tudo e ficar às portas da falância e da bancarrota geral, ficando pendente de empréstimos de terceiros.
A Islândia, o exemplo desta crise!

Alguém sabe onde eles andam?

Em semana em que os adjectivos andaram sempre pelos tons negros, e em que as bolsas para além de liquidez pareciam precisar de uma autêntica dose de literatura de auto-ajuda para combater o tão proclamado “stress”, “nervosismo” ou “pânico” que flutuava entre os mercados internacionais.
No meio de tudo começam as saudades de ver e ouvir algumas figuras que nos últimos tempos parecem ter desaparecido.
O comendador Berardo, que até há bem pouco tempo tinha descoberto o fascínio pela televisão, parece que o perdeu, o nosso investidor de estimação que adorava especular na bolsa,não mais apareceu para falar sobre a crise que de certeza já o fez perder muitos milhões,
Depois adorávamos também saber o que Belmiro de Azevedo tem a dizer sobre o facto da SONAE SGPS ter perdido 75% do seu valor em bolsa desde o início do ano. Ou ainda que terá o “Compromisso Portugal” a afirmar acerca das últimas semanas, para alguém que via sempre o Estado como esse eterno apêndice.

Em tempos os rankings foram famosos

Por meados de Setembro as folhas de Excel tornavam-se instrumentos importantes para televisões e jornais, que se punham furiosamente a fazer os rankings das escolas portuguesas, escalonando-as e esmiuçando as melhores e as piores escolas. Apesar de estarem a léguas de dizer o que é de facto uma escola, os rankings tinham alguma importância, e deixava ocupados jornais que faziam logo reportagens sobre as melhores e as piores escolas. Cadê dos rankings este ano? Não há, não existem parece que sumiram. Das duas uma ou o ministério ainda não libertou os dados que permitem a formulação destes rankings, ou se já o fez, inexplicavelmente ninguém tocou neles. No ano em que os resultados dispararam a Matemática (por acaso de milagre ministerial) é no mínimo de questionar que é feito das notas das escolas portuguesas do ano lectivo anterior. E era bom saber onde eles andam e se alguém os pretende ainda tratar os dados de um ano tão ímpar em resultados como este foi.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

À procura da culpa

Casa deixada pelo não pagamento da hipoteca, Cleveland


Hoje foi ouvido no Capitólio americano o antigo CEO da Lehman Brothers, alguém que levou para casa, durante os anos em que dirigiu o agora falido banco mais de 250 milhões de euros entre prémios e bónus para um banco que caiu como um baralho de cartas, engolido por um mercado que o engoliu perante as suas dificuldades financeiras.
Hoje na reunião do ECOFIN, a União Europeia propôs a responsabilização dos gestores pela actual situação do mercado financeiro mundial, mas culpas e responsabilidades há-as bastante para distribuir. Culpa das administrações destas empresas, sem qualquer dúvida, fazendo-se arrastar numa espiral em quem que agora por muitos milhares de milhões que se injectem no sistema e se prometam nada parece suficiente para fazer os mercados recuperar ou reganharem a confiança e evitar dias negros como o de hoje. Culpa dos reguladores e daqueles que deveriam rever as contas destas instituições e que passivamente foram aceitando indefinidamente uma suposta normalidade que não existia e que se tornou incontrolável.
E depois aqueles que vivem nesta enorme bolha de crédito sem fim, as pessoas que se endividaram sem fim, com taxas de poupança irrisórias. Serão estas pessoas culpadas? Será impossível, ou quanto muito difícil culpar milhares de famílias que agora se vêem obrigadas a deixar casas para trás, provavelmente serão as menos culpadas, viviam naquilo que as instituições financeiras as fizeram acreditar, num mundo sem fim de financiamento que fez cair o mercado na irrealidade. Agora sobram milhares de hipotecas impagáveis, muitas delas superiores ao real valor das habitações num mercado que demora a recuperar depois de tantos erros.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O senhor que se segue?

É o que muitas vezes já foi rotulado como o Blair dos Trabalhistas, David Cameron pegou nos Tories britânicos que durante mais de uma década viveram mal reerguidos da partida da sua velha dama de Ferro. Os velhos dinossauros thatcherista foram substituídos por um novo núcleo de conservadores Britânicos com Convenções em que pelas filas se sentam os novos e jovens militantes que o partido quis arrastar para si. Dez anos de poder, a partida de Blair e a inabilidade política de Gordon Brown fazem o New Labour definhar aos poucos, mas em substituição vem o conservadorismo que apesar do novo look promete muitos dos mesmos valores, os valores que não sabem como reagir a esta crise financeira. Os discípulos de Thatcher, ferrenhos do capitalismo, liberais e com aversão ao papel do estado incomodam-se com o momento que passa. O New Labour, a prometida terceira via dos anos 90, não mudou a herança de Thatcher e veremos como os liberais conservadores, que provavelmente chegarão ao poder no Reino Unido, interrogararão acerca do seu modelo que aqui nos fez chegar.

domingo, 5 de outubro de 2008

E a discípula de Cavaco espanta-nos com o faz e diz

Na última semana não se falou rigorosamente de outra coisa que não fosse da crise financeira e das perspectivas, mais tristes que risonhas, que se podem abrir para Portugal. Ora no meio de tudo isto Manuela Ferreira Leite sempre muito e supostamente criteriosa sobre as suas pausas no silêncio profundo resolveu ir a Belém falar do… Kosovo. Cá está, podíamos pensar que a líder do PSD estava preocupadíssima com as consequências da crise económica e queria ir a correr para a presidência discutir o assunto, mas afinal não, dando-nos cada vez mais a certeza que Ferreira Leite tem uma espécie de birra com a agenda noticiosa, porque ou não a comenta ou quanto muito, e se tivermos sorte, fá-lo-á daqui a um mês ou dois. E o mais extraordinário é que Cavaco apara-lhe estas exibições sem sentido.

É sempre bom saber que Cavaco se espanta nos seus roteiros




Depois do momento em alusão ao “dia da raça” mais um momento trágico-cómico da presidência de Cavaco, Via
Arrastao ou Instante Fatal

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mudanças e arranjos no modelo


Muito para além dos números arrepiantes ou dos discursos catastróficos dos últimos, renasce (se alguma vez esteve morta) a discussão que nunca se apagará, que modelo queremos? Pergunta dita a e redita, discutida e escrita vezes sem conta e a cada cataclismo que passa faz nos repensar e questionar infinitamente “o modelo”, o molde social económico em que nos encostámos.
Olhando para a crise que e para quem se abrem oportunidades? Os neo-cons, com o seu embrião americano, desesperam e correm à procura de novas razões que lhes possam salvar a face para tempos que correm tudo menos a seu favor. Para os liberais, o capitalismo não morreu e nunca morrerá e no fundo estamos perante esse momento natural de refresh do sistema. Mas então apetece perguntar se o mercado é assim tão intocável, sagrado e responsável para quê gritar pela salvação de bancos por parte do Estado? Supostamente para nada, mas a verdade é que muitos sabem que o Estado é a bóia de salvação para muitos, enquanto outros optam pela versão que o Estado devia continuar imóvel perante o momento deixando a “selecção natural” capitalista fazer o seu trabalho, passivamente. Mas o que parece tão natural teoricamente tem custos sociais e económicos que quem apresenta esta teoria talvez se esqueça de contabilizar. Mesmo partindo do pressuposto que os fundos particulares destas instituições bancárias ficariam salvaguardados, resta saber que seria feito destes empregos, ou que consequências em escada teria no resto da economia interdependente.
Podemos por isso olhar para esta crise com uma janela para uma esquerda, ou para partidos de esquerda que se queiram afirmar como isso mesmo “de esquerda”? Os liberais têm defendido com unhas e dentes o seu capitalismo afirmando que foi o modelo que mais prosperidade económica gerou desde sempre. E admitamos que de facto modelos de estatização gelada ao jeito soviético é tudo o que menos desejamos, mas também sejamos capazes de admitir que “a prosperidade” capitalista não eliminou as franjas de pobreza no ocidente, e se formos menos “egocêntricos” olhemos para uma outra parte do mundo: pobre, desprotegida e que em muitos casos pouco progresso alcançou. Para a esquerda não faz sentido defender modelos de economia de direcção central, os resultados históricos de tal são tudo menos recomendáveis. Por isso qual é o modelo? Chávez? Não, nem pode, seria perder qualquer momento de afirmação de uma concepção económica diferente do capitalismo, defendendo um modelo que mostra brechas democráticas por todos os cantos. Sabemos que queremos um mercado mais regulado por um lado, sabemos por outro que a Estatização pura não faz sentido defender, e pelo meio os ditos partidos “sociais democratas” europeus não dão sinais de vida, com um Labour com muito pouca esquerda na última década, ou com um SPD Alemão mais que colado à CDU de Merkel.
A crise de hoje é muito mais que um desafio para o próprio capitalismo, é uma oportunidade e o desafio para quem acredita, como eu, num modelo diferente, considerar quais as alternativas de futuro.

Já nem nos lembramos que houve um tempo que ele não existiu


O Google começou há dez anos com o trabalho de dois lunáticos informáticos, cujo a loucura os fez alcançar uma fortuna de milhões e deter uma das mais vigorosas empresas americanas, considerada como a emporesa“ideal” para trabalhar. O Google tornou-se em dez anos a homepage de milhões de utilizadores da net, e foi a rampa de lançamento para a que era a difícil e chata missão de procurar o que quer que fosse na ainda jurássica rede.
Em dez anos o Google passou do nada ao tudo, de uma formiga na internet para a empresa que deixou a Microsoft para trás incapaz de competir com o novo motor de busca e com tudo o que a marca Google hoje em dia arrasta, desde o youtube, ao Google Earth ao Gmail, Google é muito mais do que há dez anos alguém poderia imaginar. Mas para nos lembrar-mos que houve tempos em que “googlar” não era assim tão banal fica aqui o link para o que era o Google em 2001, o saudosismo da empresa americana na década do sucesso.