sexta-feira, 25 de abril de 2008

Cavaco a colher os frutos do seu passado

Cavaco discursou a parte II do discurso que havia feito no 25 de Abril do ano passado. Em 2007 Cavaco pediu a mudança nas cerimónias de Abril e a mudança não chegou, um ano passado Belém foi até pedir um Estudo para o discurso presidencial. O diagnóstico está em parte lá, mas o que não está lá são as razões de se ter chegado aqueles dados sobre os jovens e o afastamento da memória e do presente político, e sem saber as razões, sem saber a fonte dos problemas nada se mudará. Mas no meio das muitas causas para tanta distância com a história está ele próprio: Cavaco (ou melhor a política de Cavaco) que bem podia ter olhado para trás enquanto redigia o discurso. Ainda na última campanha para as presidenciais Cavaco afirmava que durante os seus governos em matéria de ensino preferiu-se apostar na massificação, estendendo o ensino obrigatório até ao 9º ano, admitindo que a quantidade tinha sido superiorizada em relação à qualidade. Aqui está um dos resultados desta falsa ideia, a falsa ilusão que quantidade é sempre bom indiferentemente da qualidade daquilo que se possa criar.
Aqui mais do que uma questão de mero saber, é uma questão de consciência, ou neste caso a falta dela em relação ao presente ou a um passado que tem meros 34 anos, um grão de poeira na história, mas o suficiente para muitas gerações nascerem e desaparecerem.
Todo este discurso soa a pouco, e quando Cavaco diz que as comemorações do 25 de Abril não são monopolizáveis por nenhum grupo político, de facto não são, como o Cravo não é, ou pelo menos não pode nem deve ser. O cravo não tem que ser de esquerda ou de direita, é o símbolo daquele dia, mas esse, o cravo, continuou a não estar à lapela de Cavaco hoje, como não esteve o ano passado, como não esteve há dois anos. Porque o Cravo não é de ninguém, é de todos, é dos de esquerda, dos de centro, dos de direita, e daqueles que não querem ser coisa nenhuma.

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