sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Paradigma de Nacionalizar


As últimas três semanas vieram desenhar mudanças, todos os que têm acompanhado esta crise, desde aqueles que olham aqui o descalabro o capitalismo, até aqueles que olham para esta crise como o momento de reinvenção deste mesmo capitalismo admitem que o sistema financeiro mundial deverá dar uma grande volta depois do histerismo que levou ao descalabro de falências e estados nervosos em que as bolsas andam há dias.
Nacionalizar ou injectar capital nos mercados tornaram-se expressões habituais, estranhamente habituais para quem há 16 anos ouviu Clinton colocar na sua sede de campanha o cartaz em que figurava: “é a economia, estúpido”, no tom que face ao mercado que se impõe apenas o podemos aceitar com passividade. Grande cambalhota que demos, e agora apressados estamos a salvar empresas financeiras. Mas porquê que as salvamos? Porque simplesmente o custo de não salvar empresas como a AIG é ainda maior do que nada fazer, do que não lhes tocar, desde perdas de fundos, de postos e trabalho, de efeito geral no resto da economia. É aqui que está todo o paradigma, o mesmo mercado que supostamente se auto-regulava e que bramia contra as nacionalizações do lucro, roga agora pela nacionalização do prejuízo e do descalabro financeiro.
Já ouvi e li tantas vezes essa versão de que esta é a oportunidade para um novo capitalismo (foi esta aliás a proposta de Sarkozy nas Nações Unidas), mas que rejuvenescimento pode agora o capitalismo sem o Estado? Nenhum, verdadeiramente nenhum, mas que farão a este mesmo Estado depois de a tempestade passar (mesmo que a tempestade demore a passar)? É aqui que estará a pergunta e para a qual não vale a pena fingir que temos numa qualquer bola de cristal se o modelo mudará ou apenas criará maquilhagem atirando de novo para o canto da regulação (ou da falta dela) o Estado que agora aguenta e espera-se que aguente todo o sistema. Podemos dizer, e de facto esta, é uma das mais graves crises financeiras de sempre, mas não sabemos que modelo se seguirá a este que aqui chegou.

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