quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Os milagres afinal existem, mesmo que inventados

Sócrates apresentou os resultados da anunciada melhoria dos resultados no ano escolar que passou, às portas de novo ano lectivo. A retórica ministerial passa por não atribuir o suposto sucesso às políticas governativas, mas sim aos tais professores, alunos e escolas com os quais o mesmo ministério andou às turras nos últimos anos, acabando por fazer um auto-elogio sobre as suas tais políticas do sucesso. Não é a primeira vez que o escrevo aqui, e pelo ritmo de criação de sucesso maquilhado a que estamos não será certamente a última, mas estes números são tão ou mais vazios como muitos outros que o Ministério tem vindo a apresentar. E não digo isto porque sou um daqueles espécimes a que Sócrates gosta de chamar de bota- abaxistas, sendo Sócrates um político daquela geração que tem essa ideia abominável de dividir políticos em pessimistas ou optimistas, como um político fosse um constate estado de alma e não se lembrando que acima deveria estar o político realista. E o político realista faria uma pequena viagem pelas escolas e olhando para as vitrinas com a afixação de pautas reparará que no básico existe esse fenómeno platónico de um aluno poder passar com 7 ou 8 negativas, isto porque a psicologia ministerial criou artigos como o famosíssimo artigo 319 que basicamente permite tudo até que o aluno não saiba rigorosamente nada e passe. Se Sócrates fosse também um político realista teria o cuidado de analisar os programas dos profissionais que o seu governo criou. Se Sócrates fosse um realista primeiro que um optimista aceitaria que as escolas portuguesas são incapazes de dar apoio aos seus alunos e que nos últimos tempos a prioridade no sistema de ensino tem sido o papel em detrimento do ensinar. Se Sócrates deixasse os seus abstraccionismos positivistas teria pegado no exame de Matemática de 12º ano do passado ano lectivo e rapidamente chegaria à dedução da fraude de seriedade e exigência que o exame é.
Mas Sócrates ainda terá uma “Nova oportunidade” para se converter ao realismo (político entenda-se), mas nesse caso também o aconselho a olhar com olhos de análise para os objectivos que são exigidos no tal programa de formação que é permanentemente elogiado. Tenho o maior respeito pelos muitos milhares que às "Novas Opurtunidades" aderiram na disposição e muitas vezes com o esforço pessoal para melhorar as suas qualificações, mas estas próprias pessoas são levadas na onda governativa que acha possível em meia dúzia de meses passar um aluno com habilitações de 6º ano para um de 12º, como vinha relatado numa reportagem do PÚBLICO neste Verão. Mas quando se afirma isto Sócrates puxa do seu lado ofendido e mostra-se chocado com o facto de questionarmos o esforço daqueles que fazem parte do programa, não entendendo que o que se questiona são os moldes do próprio programa em si, não as pessoas que o frequentam.
Podemos estar com os níveis de chumbos mais baixos dos últimos 10 anos, mas a escola de hoje é pedagogicamente infinitamente mais podre do que há dez anos era.

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