quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Não desagradou nem a Gregos nem a Troianos

A mensagem de Cavaco parece ter sido ouvida, pelo menos a julgar pela quantidade de comentadores que já deram sua análise em relação ao clássico discurso de ano novo do presidente. Outro clássico é tentar procurar em cada uma das frases da mensagem do presidente se este é um discurso a favor ou contra o governo, se este é um discurso contra este ou aquele ministro. Cavaco no entanto este ano, apesar do que alguns dizem, fez um discurso que neste aspecto nem é carne nem é peixe. Claramente neste discurso o Presidente quis deixar o sinal de que está atento aos protestos das ruas e à conflitual idade social que existe no país, mas tirando o caso da saúde, em que mais explicitamente Cavaco quis deixar um alerta mais directo, ficou também claro que apesar de compreender o difícil momento pelo qual o país e os portugueses passam, também não quer fazer demover o governo das suas reformas. No discurso Cavaco afirma claramente que apesar dos fracos resultados, e qualquer pessoa de bom senso reconhece que 1,8% de crescimento económico não é um resultado brilhante, tem havido consolidação orçamental, e mais afirma que os esforços dos últimos anos, acredita terão resultados concretos. Cavaco entende o momento difícil de muitas famílias, solidariza-se com tal, alerta para as desigualdades sociais, que ao que parece continuarão a ser um ponto forte da agenda presidencial, mas não há aqui nada de palpável a indicar que o presidente não se revê no caminho traçado.
Nesta mensagem fica um grande buraco, provavelmente propositado acerca da assinatura do Tratado de Lisboa, Cavaco fala da presidência mas não especificamente do seu ponto alto. De facto esta será provavelmente o pratto forte do início de 2008 e acabará por envolver o presidente. Todos sabemos a posição de Cavaco Silva sobre referendar tratados comunitários e na altura em que a decisão for tomada por Sócrates não haverá quem não reclame e chame pela posição de Belém acerca do assunto.
Contudo o que Cavaco tentou encontrar foi um ponto de equilíbrio, tirando o caso flagrante da saúde, não deixa críticas acirradas ao governo, por seu lado fala aos portugueses descontentes com o momento actual, torna-se um discurso que não enchendo o espírito de muitos também não os lhes deixa insatisfeitos.
O caso da Mensagem não deixa, contudo de ser a referência aos salários altos de gestores, o que não deixa de ser irónico na semana em que Faria de Oliveira, ex-ministro de Cavaco vai presidir à Caixa Geral de Depósitos e Miguel Cadilhe, outro dos antigos cavaquistas apresenta uma lista para a administração do BCP, dois exemplos de cargos onde as remunerações não serão propriamente baixas. Cavaco peca nesta referência em dois pontos, primeiro era importante reconhecer que este é um fenómeno de há muito, o que o faria admitir que muito provavelmente no seu tempo de governação esta situação já existia, em segundo lugar, é preciso reconhecer que as próprias empresas do Estado aplicam este tipo de remunerações, caso da Caixa Geral de Depósitos, da TAP ou da GALP, ou seja o próprio Estado aplica as regras, que no fundo são as regras de um mercado de trabalho português que aplica uma desigualdade absurda entre trabalhadores e gestores
Importante e interessante politicamente será a mensagem de ano novo para 2009, no seu penúltimo ano antes de se recandidatar, mas sobretudo no início de um ano que terá nada mais nada menos que 3 eleições pela frente (autárquicas, europeias e legislativas). Aí sim, terá grande peso o balanço do país que Cavaco fizer, e veremos se o presidente se resguardou agora para esse momento.

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