sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Ser velho num país destes

Foto de Guy Le Querrec em 74 no Alentejo

Só daqui a muitos anos é que poderei ter o desplante de me chamar a mim próprio de velho, é um horizonte tão distante que será sequer difícil imaginar-me na flor dos 60 ou dos 70. Para quem vê a velhice apenas como um horizonte espera encará-la como o tempo do conforto, a recompensa merecida dos anos já passados. Este seria o cenário quase perfeito, mas também o cenário idílico para muitos dos velhos portugueses, abandonados, sozinhos, doentes, perdidos na metade interior do país esquecida e desprezada pela outra metade do litoral, cheia de tiques de novo-riquismo. Portugal tem uma população idosa pobre que vive de pensões de miséria, vítimas da miséria do próprio país e de um Estado Providência demasiado jovem e que pouco mais do que pensões de 300€ ou 400€ lhe pode dar. Mas o país podia dar a esta enorme massa de terceira idade (devo dizer que odeio esta expressão) o mínimo de dignidade, de assistência, de ajuda a uma população que precisa de constantes cuidados de saúde, que precisa de um local próprio para viver nos seus últimos anos. Mas o país nada disto lhes dá, Correia de Campos bem pode dizer que faz umas unidades de cuidados continuados para idosos, mas quando chega ao interior do país e começa arrancar urgências a populações velhas e que aos poucos vão desaparecendo não ajuda a dignificar aqueles que entram no fim da vida, esta pode ser uma frase a roçar a populismo, mas não é! É delirante ouvir o debate dos prós e contras sobre as urgências, onde se afirma que em substituição dos serviços agora encerrados os velhotes poderão pegar no seu telefone, chamar o 112 e esperar uma meia hora por uma ambulância ou como até ouvi por um helicóptero que virá do Porto em caso de urgência, isto para quem tiver a sorte de viver no interior de Bragança e aproveitar um dia em que a ambulância não esteja disponível. Pelo menos os velhos terão experiências excêntricas no fim da vida! Ouvir aqueles patetas do Ministério da saúde é ouvir a tecnocracia na sua versão mais pura e ridícula. Mas para estes velhos faltam camas nos hospitais, faltam lares de qualidade que não os atulhe em quartos exíguos, falta um Estado que saiba reconhecer o papel que todos eles tiveram no passado e o direito ao mínimo da assistência.
Costuma dizer-se que os velhos são como as crianças, têm que ter todos os cuidados, confesso que não gosto desta visão hiper-paternalista, mas os impostos que em doses tão industriais pagamos têm de servir em primeiro lugar para tratar destes dois grupos, pouco mais peço, tratar dos mais velhos e educar os mais novos. Cumprir estes dois objectivos inicia um ciclo de bem-estar, ao educar os mais novos, esperamos dar-lhe os instrumentos para que construam a sua vida e quando entrarem na sua velhice possam usufruir do seu merecido bem-estar. Este é um dos males do país, os velhos vivem mal, porque vêm dum tempo salazarento em que o ensino era uma miragem para muitos e a pobreza um facto difícil de ultrapassar. Pobreza que hoje parece ser teimosa na sua persistência. Há dias ouvia que as pensões inferiores de 611€ irão aumentar ao nível da inflação: 2.4%, mas agora tenhamos os escrúpulos de calcular 2.4% sobre os valores de pensões mais baixas e o resultado é um aumento de 20 cêntimos por dia, o tal valor fantástico que dizem manter o poder de compra, não sei bem como! Ainda um qualquer secretário de estado queria repartir uma compensação pelo ano, dando mais 60 cêntimos por mês a esta gente, no mínimo insultuoso! Portugal e o resto da Europa estão a ficar velhos, e ainda bem sinal que vivemos mais, e se vivemos mais temos obrigação de poder viver melhor, senão de pouco vale andarmos por cá mais uns anos.
Como Cavaco diz os Portugueses devem começar a fazer mais criancinhas para ajudar a resolver este envelhecimento crónico do país, algo difícil pois os filhos destes tais velhos também eles vivem longe do pico do bem-estar, impedindo-os de ter uma família grande. Mas enquanto que os bebezinhos nascem e não nascem é essencial pensar como tratar de uma população idosa cada vez mais dominante na sociedade portuguesa.

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