sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Paradigma de um país de que não se sabe reformar

É uma opinião que já vinha de há muito, mas após a saída de Correia de Campos, muitos escreveram e disseram vezes sem conta que não há Reformas sem dor, que nunca haverá mudanças sem sofrimento e sem protestos de todo o canto. Parece que esta ideia se tornou um dogma, uma verdade imutável contra a qual nada poderemos fazer. A teoria passa por afirmar que as reformas serão sempre mal entendidas, serão sempre criticadas e nunca gerarão o mínimo de consenso. Não digo que não seja difícil mudar, é sempre, implica normalmente um esforço adicional, mas só num país que não é capaz gerar o mínimo debate sério em torno do que quer que seja é que se pode ter esta visão das reformas.

De facto fazemos reformas como se de lutas de aldeia se tratassem, discutem-se reformas como se o mundo fosse a preto e branco e de um lado estivessem os invariavelmente bons e do outro os invariavelmente maus. Mais grave do que tudo ganhou-se no país a falsa noção que qualquer Reforma é boa, que qualquer mudança é melhor do que nada fazer. Oiço muitos, tantas vezes sem entender, ou sequer compreender os meandros dos sectores que falam, elogiarem Reformas da Educação ou da Saúde, apenas porque mudam o que está, sem avaliarem se a mudança será para melhor ou para pior.
Somos um país demasiado resignado com o que nos põem à frente e muitos engolem em seco as mudanças. Os sindicatos, tantas vezes excessivamente partidarizados, e os trabalhadores que contestam são encarados como as ovelhas negras, sendo logo rotelados como os que nada querem de diferente (e com isto não nego que em todo o lado há bons e muito maus trabalhadores). Por sua vez,
Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros disse na sua entrevista à Visão desta semana: "Quando se pretende reformar, a tensão tem de existir, porque senão, não há mudança", é a perspectiva que hoje em dia as pessoas continuam a ser umas criancinhas e têm que vir uns salvadores auto-apelidados de corajosos aplicar-lhe reformas que por muito que tentem não compreendem.
Poderíamos procurar um consenso entre os que serão afectados pelas reformas(e desejam-nas), e que verdadeiramente conhecem bem as áreas onde trabalham, e os que estão de fora e observam os diversos sectores que funcionam mal. Mas tal parece impossível de fazer, e não é poético tentar concretizá-lo como é inexplicável como tão poucas vezes é tentado. Em vez disto, o país divide-se: os governos não chegam a nenhum acordo com os funcionários públicos ou com as populações que vêm para as ruas; os funcionários do sector privado dizem mal dos funcionários do Estado; as manifestações são feitas; as reuniões marcadas, nenhum entendimento é alcançada e todos mantém a sua irreparável razão.

Passadas tantas reformas feitas sobre este paradigma, pouco mudou, até o paradigma que, infelizmente, continua a ser o mesmo.

Sem comentários: