sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Regicídio: passaram 100 anos


Deportados Republicanos após a revolução de 31 de Janeiro




Trailler da Série O Dia do regícidio


Por estes dias passam os aniversários de dois acontecimentos marcantes para compreender o século XX Português.

Ontem passaram 117 anos sobre a primeira revolta republicana no Porto. Embalados pelo ultimato inglês e pelos gritos de revolta que este gerou, os republicanos aproveitam a oportunidade e tentam implementar pela primeira vez o novo regime, falham, são presos, julgados em conselho de guerra e deportados. Sobre a revolta do 31 de Janeiro recomendo os excelentes post no Blasfémias.

Mas passam hoje 100 anos sobre o regicídio no Terreiro do Paço, regicídio em que morreram D. Carlos e D. Luís Filipe, o príncipe Real. Hoje dez décadas volvidas sobre os acontecimentos do 1º de Fevereiro de 1908 parece haver uma tentativa de relembrar a figura do rei D. Carlos, o que acho sensato, mas parece-me exagerado, como já ouvi tentar fazer do regicídio o acto único e principal que levou à instauração da república. É verdade que o assassinato do rei precipitou a instauração da República, que aconteceu 2 anos depois, é claro que após o desaparecimento de D. Carlos toma lugar um enorme vazio poder, o novo e último rei de Portugal, D Manuel, era totalmente inexperiente, tinha provavelmente metade da visão política do pai. Mas entenda-se D. Carlos era de facto uma figura simpática, culta, cosmopolita para os padrões de um país que tinha mais de 70% de analfabetismo, mas era exactamente este contraste que fazia de D. Carlos uma figura pouco querida junto dos Portugueses. D. Carlos era a cara de um regime apodrecido, perdido num rotativismo entre os dois maiores partidos e que progressivamente levava o sistema ao desgaste. Reconheça-se D. Carlos ainda tentou inverter esta situação ao chamar João Franco para formar governo, num espírito reformista, mas para o fazer é obrigado a fechar as cortes e João Franco e o seu projecto liberal para o país acabam por cair com o rei.
Hoje afirma-se que a república dificilmente teria chegado devido aos seus residuais 7% de votos, uma percentagem de votação que se encontrava sobretudo nas cidades. Mas o facto é que não nos esqueçamos que só os alfabetos é que votavam, uma minoria portanto, afastando muitos do acto eleitoral e devemos ainda lembrar-nos que o centro do país era verdadeiramente em Lisboa, foi aqui que a Monarquia concentrava os seus actos, foi aqui que a Republica se proclamou e então só depois foi comunicada ao resto do país. Este era o país de então, ao camponês típico do campo, pouco interessaria da rotatividade dos governos reais ou os discursos inflamados nas cortes
O Regicídio foi um acto altamente condenável, mas será exagerado e arriscado afirmar que foi o Regicídio que matou definitivamente a Monarquia, pode ter acelarado a sua morte, mas este fim há muito se desenhava.
Mais do que esta tentativa de prever cenários hipotéticos importa saber o que se passou naqueles dias de 1908, com os regicidas, Manuel Buíça e Alfredo Costa morreu muito do que se poderia saber sobre o atentado. Muito continua por descobrir, desde o envolvimento da Carbonária e da Maçonaria, passando pela possibilidade do envolvimento de alguns monárquicos fiéis aos seus grandes partidos e que não gostaram da nomeação de João Franco. Tudo dúvidas por esclarecer num processo que se perdeu e que nunca chegou a lado nenhum.

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