Afirmar que a cultura é de todos e para todos é um lugar comum tantas vezes repetido, sem que tal signifique qualquer mudança verdadeira. A verdade é que a cultura tem sido o parente pobre de um orçamento de Estado curto, tendo direito a menos de 1% do bolo total, e o ministério reduziu-se a um apêndice governamental sem protagonismo e com poucas exigências. Podemos dizer que hoje a oferta cultural é maior do que nunca, que há novos e diferentes públicos, mas há muito a fazer, há sobretudo que dar a muitas estruturas culturais uma perspectiva mais aberta e isto passa, em muitos casos, por banir o pagamento de entradas em muitos dos museus e monumentos portugueses. Muitos podem dizer que por si tal não resolverá os problemas da cultura, obviamente que não, mas abrir por completo as portas de muitos espaços culturais é sobretudo traze-los e dá-los a conhecer a novas e diferentes pessoas. Não, isto não é uma falsa democratização da cultura, eu não acho que tal seria indiferente como não dou como argumento aquela velhinha frase que os portugueses só vivem de futebol, fado e Fátima, e se vivem estamos sempre a tempo de o mudar. Se calhar ingenuamente, eu ainda penso que quando se dá boas opções e se criam boas ofertas as pessoas, sejam elas quem forem, aderem e participam. Abrir livremente grandes museus portugueses como é o caso das Janelas Verdes ou grandes monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos é dar a chance a muitos de conhecerem aquilo que não conhecem, é dar-lhes um termo de comparação que não têm, a verdade é que não falta gente que desconheça estes espaços, não se sentem atraídos por eles, e continuam eternamente a usufruir apenas daquilo que já conhecem. Ao contrário do que hoje acontece, têm que ser estas estruturas culturais a convidar o público, um publico novo.
Mas abrir estes espaços é também integrá-los nas cidades ou nos locais em que se inserem, não os colocando como um universo à parte, é trazê-los para as pessoas, é um conceito de liberdade cultural em que no mesmo dia, sem quaisquer reservas, muitos possam visitar vários espaços, tirar o maior partido do património que existe. Património que em primeiro lugar é de todos e por isso mesmo a todos deve ser ainda mais acessível. Há mesmo casos incompreensíveis de restrições há entrada, como o caso do Castelo de São Jorge, eu lisboeta posso lá entrar livremente, mas alguém que more num qualquer arredor de Lisboa já não, alguém que venha de um outro canto do país para entrar num espaço, que devia estar o mais possível ligado com a cidade, terá que pagar o seu bilhete.
E devemos admitir que o Museu Berardo é um belo exemplo de abertura cultural. Quer se goste ou não goste do que está lá exposto, ou mesmo afirmando que o museu é particularmente dominante no CCB, o que não digo que não seja verdade, deverá reconhecer-se que o Museu em termos de entradas é um sucesso, já lá vi todo o tipo de pessoas, para além do mais trouxe a zona de exposições para o centro do CCB, hoje aquele é, mais do que nunca, um espaço de passagem e de paragem em Belém.
Obviamente que isto não se faz há borla, mas é o preço de abrir uma parte da cultura ao país. Mas mesmo agora em que pagamos as entradas, o que temos é, por exemplo, um Museu de Arte Antiga que há bem pouco tempo tinha alas fechadas porque parece que ninguém quer pagar seguranças. Abrir os museus ao público não é uma medida que possa ser qualificada de pontual ou inconsequente, é algo muito mais significativo do que se possa pensar, para que as visitas de muitos museus e monumentos não sejam sempre, só e apenas os mesmos portugueses ou os ocasionais turistas que por cá passam.
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