sábado, 8 de março de 2008

O velho discurso que os outros são todos comunistas


Há um certo tipo de discurso, sem exagero, verdadeiramente assustador e que aos poucos se tem vindo instalar. Nos últimos dias ouvi algumas opiniões em que se afirmava que aos professores se impunha a calma, a serenidade e o controlo nas manifestações contra a política educativa. Ao ouvir estas frases fica-se com aquela ideia que os professores deviam estar quieto, sossegados, tentando discretamente (como se isso fosse possível) procurar uma solução à tensão que se vive na Educação. Este é um discurso que cheira a bolor por todo o lado, tiramos de muitas destas frases aquele cenário antigo da professora primária que não podia usar maquilhagem, convinha que fosse eternamente solteira e a quem se exigia que estivesse sempre com a sua saia bem vincada. Ao contrário do que muitos pensam não há melhor exemplo que os professores tenham dado aos seus alunos do que se terem manifestado da forma como o fizeram, não há ali nada de indigno, há ali apenas uma vontade expor e manifestar ideias.
Mas a juntar a tudo isto tivemos a mais recente pérola do Ministro dos Assuntos Parlamentares, ou melhor o Ministro da Politiquice do Governo. Confesso que em três anos raramente ouvi Augusto Santos Silva fazer uma declaração com alguma substância, sempre que oiço a sua voz está a comentar uma qualquer querela política insignificante. Já lhe conhecíamos a frase do “Jornalismo de Sarjeta”, mas agora sabemos que Augusto Santos Silva voltou aquele pensamento doutros tempos. Nos primeiros anos do Estado Novo quem era contra a situação era automaticamente comunista, agora parece que quem é contra o governo de Sócrates são também apenas e só comunistas. Estas declarações mostram como o PS parece que quer combater a rua directamente, mais comete a asneirada política (falta saber quem teve esta ideia iluminada) de responder à rua com comícios, visto que uma semana depois do mega protesto dos professores há para o próximo fim-de-semana um encontro de rua do PS marcado para o Porto.
Há de facto uma tensão crescente no país, um frente a frente bem simbolizado pela cena de ontem de um Ministro que dizia umas atoardas aos jornalistas contra os manifestantes que estavam do outro lado da rua. Chamar fascista ao ministro é despropositado, mas a reacção de Augusto Santos Silva é de um ridículo que seria no absolutamente evitável.

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