Passámos para um défice abaixo de 3% aquela quimera que prometia guardar horizontes rasgados de crescimento. Sócrates embalado diminui o IVA, e nós, desconfiados e com razão, suspeitamos que pouco ou nada mudará nas facturas que pagamos. O crescimento é magro, o desemprego está alto, mas apesar de tudo Sócrates lá aumentará o seu regozijo com o défice quando diminuir o IVA para os 19% às portas de 2009. Resta saber qual a factura a longo prazo a pagar pelas políticas dos últimos anos, é óbvio que o Estado não pode estar com as contas de pantanas, mas também as bolsas dos portugueses não podem estar vazias. Em primeiro lugar há um preço moral, Sócrates fez uma campanha eleitoral de 2005 baseado numa redonda mentira: que não aumentava impostos. Desde o IVA, passando pelos combustíveis até ao tabaco é difícil não encontrar o imposto em que Sócrates não tenha metido a sua colherada, pagamos todos mais impostos e o problema de base continua lá, ainda não entendemos todos muito bem para quê. Portugal vive num contrato social em que estamos ainda todos à espera que o Estado nos faça sentir o retorno através de melhores serviços. Mas por um momento vamos dar de barato que Sócrates não conhecia a negra realidade e ingenuamente disse que não aumentava impostos na campanha e depois foi obrigado a aumentá-los. Se tal aconteceu é ainda mais grave, significa que elegemos um primeiro-ministro ignorante, que quando se candidatou há 3 anos não conhecia a realidade e que não passou assim de um enorme erro de casting. Qualquer argumento que Sócrates dê será sempre mau, apenas revela a sua mentalidadezinha que pensa que é preciso esconder o verdadeiro cenário, esperando assim que seja eleito.
Mas há um outro preço que começará a ser verdadeiramente pago daqui a largos anos. Afirma-se que a Segurança Social está equilibrada, e apetece perguntar quais serão os valores da reforma dos Portugueses daqui a 20 anos? Que percentagem do ordenado é que os portugueses poderão ter na sua reforma? A verdade é que os cortes nas reformas ainda estarão para chegar, o sistema ganhou tempo de vida, mas o problema de fundo não desapareceu e passa por saber se o Estado é ou não é capaz de dar valores de reforma condignos quando alguém se reformar. A nós que há quase 10 anos andamos com a palavra défice no vocabulário resta também saber se algum dia os impostos voltarão ao que foram, porque aumentar impostos não custa, mas diminuir e desabituar destas receitas é verdadeiramente difícil, é uma dependência que custa a passar, e não esqueçamos que antes do IVA ser 19% foi em tempos já afastados de 17% e que em Espanha, onde muitos vão atestar o depósito, é de 16%.
Mas isto agora parece não interessar nada e lá vamos vendo Sócrates a lançar os seus pequenos festejos.
Sem comentários:
Enviar um comentário